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Publicado
Paulo Vila Verde
ARQUITECTO - INQUIETUDE ARQUITETURA
Muito se tem discutido estratégias que solucionem porções de vazios resultantes da expansão da cidade, como o atual caso da envolvente à futura Avenida Nun’Álvares na cidade do Porto.
Este é um tema, e não particularizando porque parece-me ser transversal a todo o território nacional, que acaba por ser ponto de partida a uma boa e necessária discussão estratégica sobre essas vastas áreas cheias de nada, mas rodeadas de tudo o que a urbe lhes possa oferecer e, em contrapartida, também beneficiar.
Certo é que, em várias discussões vibrantes, as conversas e críticas são envoltas de nada, tal e qual o vazio urbano, sem contributo ou massa crítica construtiva e promotora de hipotéticas soluções a discutir.
Infelizmente, constata-se ser recorrente a crítica gratuita ou incendiária, incorporadora de frágil, ou por vezes questionável informação, levando ao limite da realidade possibilidades que não passam de gestos abstratos de um processo de layers macro ao micro, discutindo-se o pormenor do micro quando ainda se reflete a prévia resolução do macro.
Subversões que em nada beneficiam um conveniente processo de resolução de vincadas roturas de cidade que têm que ser necessariamente bem resolvidas, sabendo-se que um plano é sempre um exercício de futurologia que pode vir a ser dissociado da realidade que lhe espera proveniente de constantes mutações.
Contudo, observa-se em discussões públicas, pessoalmente ou sob um perfil de rede social, o intuito de rasgar fortes críticas acerca da dimensão de futuros edifícios, a volumetria de um complexo de moradias e as cérceas previstas, o calibre da avenida, a sectorização entre o espaço “público” automóvel, a ciclovia e os passeios por vezes com a largura pouco mais do que o indispensável, ou até a dimensão da caldeira das futuras árvores. Raramente se entende a vontade social da definição desse vazio de cidade, sendo uma futura micro- cidade relacionadora, comunicadora e potenciadora em conjunto com a envolvente pré-existente.
Exemplos há em que as vontades se fixam, em contornos de boa comunicação, na proveitosa verdade de um mega condomínio pseudo-privado em zona que se prevê ser nobre e onde, por acaso, interessa implantar uma avenida ou rua de calibre generoso. Em suma, corre-se o risco de promover a área de um vazio de cidade para uma cidade vazia de humanização, repleta de atraentes casas devidamente muradas, ocultando vidas e onde apenas se conhecem os bons veículos que em cada uma mora.
Dita-se também que o marcante arruamento fomentará a ligação, de preferência em linha reta da rotunda “a” ao entroncamento “b”, dizendo-se amiga dos peões e bicicletas, impondo também o conceito de velocidade reduzida. No entanto continua a não se abordar métodos de apropriação objetiva das pessoas. A retilinearidade e a regra de alinhamentos não se mostram amigas da promoção de espaços humanizáveis, evitando formas de compressão e descompressão do arruamento fomentando momentos de comunidade e com isso evitam-se também fachadas ativas e vazias, talvez até trespassáveis.
Mas tudo isto importa caso se pretenda comunidade. Se a vontade for a avenida de um futuro bairro “chique” onde tudo se priva, nada disto se torna uma preocupação.
E surge a questão: será mesmo uma estratégia elitista que fomentará a costura a cidade, promovendo apropriações no lugar ou relacionamentos “hurbanos” (humanos/urbanos) com os conjuntos e espaços envolventes? Talvez os núcleos habitacionais elitistas sejam desassociados e em nada criem cidade, logo a estratégia pode ser, à partida, errada. Mas, de novo, apenas esta questão interessa se a intenção for criar cidade.
Pode ser momento, provavelmente sem vontades, de lançar a discussão sobre o impacto do elitismo habitacional no centro das cidades. A franja endinheirada tem tanto direito de lá residir como a população de parco recurso. Porém a esta é-lhe cada vez mais negada.
A população de vastos meios, poderá facilmente residir no perímetro das cidades, num “cluster” à sua medida que só a eles pertencesse, deixando os centros para a população que cria cidade, que se movimenta, apropria, brinca com crianças no parque, vai ao quiosque comprar o jornal e “dar dois dedos de conversa”, senta na esplanada do bairro, ocupa a esquina a falar com as vizinhas. Esta é a população que confere vida e humanização à cidade e sem este valioso contributo ela definha. Esta patologia tem sido notória ultimamente, por vezes mascarada pelas movimentações do turismo que enche o espaço urbano.
Parece este ser tema transversal a diversas cidades e que poderia ver incorporado a vontade pedagógica dos técnicos, políticos e cidadãos em entender e dar a entender, primordialmente, o que é uma cidade e as micro-cidades que nela habitam.
Sem o mínimo entendimento da dinâmica da cidade e das suas gentes em nada resolverão temas nucleares, amontoando-se erros constatados em diversas cidades e vilas de Portugal.
Enfim, cidade às porções!
Publicado
Paulo Vila Verde
ARQUITECTO - INQUIETUDE ARQUITETURA
Muito se tem discutido estratégias que solucionem porções de vazios resultantes da expansão da cidade, como o atual caso da envolvente à futura Avenida Nun’Álvares na cidade do Porto.
Este é um tema, e não particularizando porque parece-me ser transversal a todo o território nacional, que acaba por ser ponto de partida a uma boa e necessária discussão estratégica sobre essas vastas áreas cheias de nada, mas rodeadas de tudo o que a urbe lhes possa oferecer e, em contrapartida, também beneficiar.
Certo é que, em várias discussões vibrantes, as conversas e críticas são envoltas de nada, tal e qual o vazio urbano, sem contributo ou massa crítica construtiva e promotora de hipotéticas soluções a discutir.
Infelizmente, constata-se ser recorrente a crítica gratuita ou incendiária, incorporadora de frágil, ou por vezes questionável informação, levando ao limite da realidade possibilidades que não passam de gestos abstratos de um processo de layers macro ao micro, discutindo-se o pormenor do micro quando ainda se reflete a prévia resolução do macro.
Subversões que em nada beneficiam um conveniente processo de resolução de vincadas roturas de cidade que têm que ser necessariamente bem resolvidas, sabendo-se que um plano é sempre um exercício de futurologia que pode vir a ser dissociado da realidade que lhe espera proveniente de constantes mutações.
Contudo, observa-se em discussões públicas, pessoalmente ou sob um perfil de rede social, o intuito de rasgar fortes críticas acerca da dimensão de futuros edifícios, a volumetria de um complexo de moradias e as cérceas previstas, o calibre da avenida, a sectorização entre o espaço “público” automóvel, a ciclovia e os passeios por vezes com a largura pouco mais do que o indispensável, ou até a dimensão da caldeira das futuras árvores. Raramente se entende a vontade social da definição desse vazio de cidade, sendo uma futura micro- cidade relacionadora, comunicadora e potenciadora em conjunto com a envolvente pré-existente.
Exemplos há em que as vontades se fixam, em contornos de boa comunicação, na proveitosa verdade de um mega condomínio pseudo-privado em zona que se prevê ser nobre e onde, por acaso, interessa implantar uma avenida ou rua de calibre generoso. Em suma, corre-se o risco de promover a área de um vazio de cidade para uma cidade vazia de humanização, repleta de atraentes casas devidamente muradas, ocultando vidas e onde apenas se conhecem os bons veículos que em cada uma mora.
Dita-se também que o marcante arruamento fomentará a ligação, de preferência em linha reta da rotunda “a” ao entroncamento “b”, dizendo-se amiga dos peões e bicicletas, impondo também o conceito de velocidade reduzida. No entanto continua a não se abordar métodos de apropriação objetiva das pessoas. A retilinearidade e a regra de alinhamentos não se mostram amigas da promoção de espaços humanizáveis, evitando formas de compressão e descompressão do arruamento fomentando momentos de comunidade e com isso evitam-se também fachadas ativas e vazias, talvez até trespassáveis.
Mas tudo isto importa caso se pretenda comunidade. Se a vontade for a avenida de um futuro bairro “chique” onde tudo se priva, nada disto se torna uma preocupação.
E surge a questão: será mesmo uma estratégia elitista que fomentará a costura a cidade, promovendo apropriações no lugar ou relacionamentos “hurbanos” (humanos/urbanos) com os conjuntos e espaços envolventes? Talvez os núcleos habitacionais elitistas sejam desassociados e em nada criem cidade, logo a estratégia pode ser, à partida, errada. Mas, de novo, apenas esta questão interessa se a intenção for criar cidade.
Pode ser momento, provavelmente sem vontades, de lançar a discussão sobre o impacto do elitismo habitacional no centro das cidades. A franja endinheirada tem tanto direito de lá residir como a população de parco recurso. Porém a esta é-lhe cada vez mais negada.
A população de vastos meios, poderá facilmente residir no perímetro das cidades, num “cluster” à sua medida que só a eles pertencesse, deixando os centros para a população que cria cidade, que se movimenta, apropria, brinca com crianças no parque, vai ao quiosque comprar o jornal e “dar dois dedos de conversa”, senta na esplanada do bairro, ocupa a esquina a falar com as vizinhas. Esta é a população que confere vida e humanização à cidade e sem este valioso contributo ela definha. Esta patologia tem sido notória ultimamente, por vezes mascarada pelas movimentações do turismo que enche o espaço urbano.
Parece este ser tema transversal a diversas cidades e que poderia ver incorporado a vontade pedagógica dos técnicos, políticos e cidadãos em entender e dar a entender, primordialmente, o que é uma cidade e as micro-cidades que nela habitam.
Sem o mínimo entendimento da dinâmica da cidade e das suas gentes em nada resolverão temas nucleares, amontoando-se erros constatados em diversas cidades e vilas de Portugal.
Enfim, cidade às porções!
Publicado
Paulo Vila Verde
ARQUITECTO - INQUIETUDE ARQUITETURA
Muito se tem discutido estratégias que solucionem porções de vazios resultantes da expansão da cidade, como o atual caso da envolvente à futura Avenida Nun’Álvares na cidade do Porto.
Este é um tema, e não particularizando porque parece-me ser transversal a todo o território nacional, que acaba por ser ponto de partida a uma boa e necessária discussão estratégica sobre essas vastas áreas cheias de nada, mas rodeadas de tudo o que a urbe lhes possa oferecer e, em contrapartida, também beneficiar.
Certo é que, em várias discussões vibrantes, as conversas e críticas são envoltas de nada, tal e qual o vazio urbano, sem contributo ou massa crítica construtiva e promotora de hipotéticas soluções a discutir.
Infelizmente, constata-se ser recorrente a crítica gratuita ou incendiária, incorporadora de frágil, ou por vezes questionável informação, levando ao limite da realidade possibilidades que não passam de gestos abstratos de um processo de layers macro ao micro, discutindo-se o pormenor do micro quando ainda se reflete a prévia resolução do macro.
Subversões que em nada beneficiam um conveniente processo de resolução de vincadas roturas de cidade que têm que ser necessariamente bem resolvidas, sabendo-se que um plano é sempre um exercício de futurologia que pode vir a ser dissociado da realidade que lhe espera proveniente de constantes mutações.
Contudo, observa-se em discussões públicas, pessoalmente ou sob um perfil de rede social, o intuito de rasgar fortes críticas acerca da dimensão de futuros edifícios, a volumetria de um complexo de moradias e as cérceas previstas, o calibre da avenida, a sectorização entre o espaço “público” automóvel, a ciclovia e os passeios por vezes com a largura pouco mais do que o indispensável, ou até a dimensão da caldeira das futuras árvores. Raramente se entende a vontade social da definição desse vazio de cidade, sendo uma futura micro- cidade relacionadora, comunicadora e potenciadora em conjunto com a envolvente pré-existente.
Exemplos há em que as vontades se fixam, em contornos de boa comunicação, na proveitosa verdade de um mega condomínio pseudo-privado em zona que se prevê ser nobre e onde, por acaso, interessa implantar uma avenida ou rua de calibre generoso. Em suma, corre-se o risco de promover a área de um vazio de cidade para uma cidade vazia de humanização, repleta de atraentes casas devidamente muradas, ocultando vidas e onde apenas se conhecem os bons veículos que em cada uma mora.
Dita-se também que o marcante arruamento fomentará a ligação, de preferência em linha reta da rotunda “a” ao entroncamento “b”, dizendo-se amiga dos peões e bicicletas, impondo também o conceito de velocidade reduzida. No entanto continua a não se abordar métodos de apropriação objetiva das pessoas. A retilinearidade e a regra de alinhamentos não se mostram amigas da promoção de espaços humanizáveis, evitando formas de compressão e descompressão do arruamento fomentando momentos de comunidade e com isso evitam-se também fachadas ativas e vazias, talvez até trespassáveis.
Mas tudo isto importa caso se pretenda comunidade. Se a vontade for a avenida de um futuro bairro “chique” onde tudo se priva, nada disto se torna uma preocupação.
E surge a questão: será mesmo uma estratégia elitista que fomentará a costura a cidade, promovendo apropriações no lugar ou relacionamentos “hurbanos” (humanos/urbanos) com os conjuntos e espaços envolventes? Talvez os núcleos habitacionais elitistas sejam desassociados e em nada criem cidade, logo a estratégia pode ser, à partida, errada. Mas, de novo, apenas esta questão interessa se a intenção for criar cidade.
Pode ser momento, provavelmente sem vontades, de lançar a discussão sobre o impacto do elitismo habitacional no centro das cidades. A franja endinheirada tem tanto direito de lá residir como a população de parco recurso. Porém a esta é-lhe cada vez mais negada.
A população de vastos meios, poderá facilmente residir no perímetro das cidades, num “cluster” à sua medida que só a eles pertencesse, deixando os centros para a população que cria cidade, que se movimenta, apropria, brinca com crianças no parque, vai ao quiosque comprar o jornal e “dar dois dedos de conversa”, senta na esplanada do bairro, ocupa a esquina a falar com as vizinhas. Esta é a população que confere vida e humanização à cidade e sem este valioso contributo ela definha. Esta patologia tem sido notória ultimamente, por vezes mascarada pelas movimentações do turismo que enche o espaço urbano.
Parece este ser tema transversal a diversas cidades e que poderia ver incorporado a vontade pedagógica dos técnicos, políticos e cidadãos em entender e dar a entender, primordialmente, o que é uma cidade e as micro-cidades que nela habitam.
Sem o mínimo entendimento da dinâmica da cidade e das suas gentes em nada resolverão temas nucleares, amontoando-se erros constatados em diversas cidades e vilas de Portugal.
Enfim, cidade às porções!