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Opinião: Novidades da Cena - Teatro Nacional de São Carlos

Categoria:  Artigos de Opinião

Publicado

Flávio Tirone
ARQUITECTO - ARSUNA

 

Tema quente por esta altura é o nosso monumento lírico, o Teatro Nacional de São Carlos. 

Após a inclusão do edifício classificado na lista dos apoios do PRR e na sequência do concurso de ideias internacional lançado em finais de 2022 e vencido pela equipa liderada pelo arquiteto João Mendes Ribeiro em consórcio com o Atelier 15, parece que será desta que finalmente haverá obra, facto inédito neste teatro desde os anos ‘40 do século passado. 

Para contextualizar historicamente, relembramos que o convento de Mafra foi idealizado e construído como augúrio para o nascimento do primogénito de D. João V. 

Décadas mais tarde, em honra da princesa Carlota Joaquina, consorte do príncipe herdeiro e futuro rei D. João VI, em vez de um núcleo conventual optou-se pela construção de um teatro como presságio de boa fortuna à rápida chegada de descendência. Assim, a rainha D. Maria I aproveitou a ocasião para resgatar a Ópera do Tejo do rasto de ruína em que o terramoto de 1755 a deixou.

O presságio foi “atendido”, tendo a princesa engravidado, obrigando a obra a ser executada em apenas nove meses. 

Inaugurado em 1793, o Real Theatro de São Carlos rapidamente se tornou num palco proeminente no circuito internacional de ópera, naquele tempo ainda gerido pelas casas reais e nobres europeias. 

Talvez seja o teatro lírico com sala em forma elíptica, similar à de ferradura de cavalo, mais antigo do mundo no seu estado original. 

As outras grandes casas de ópera, como o San Carlo em Nápoles, inaugurado em 1737 e o Teatro Alla Scala em Milão, inaugurado em 1778, foram profundamente danificados pelos incêndios do século XIX e pelos bombardeamentos da segunda grande guerra, tendo sido reconstruídos e reabilitados de forma exímia a cada vez mas, por isso mesmo, pouco guardam de original. 

Esta reabilitação a que o nosso teatro de ópera será sujeito, ganha importância extrema se pensarmos que seja da sala de ópera do palácio de Salvaterra, primeira sala lírica erigida em Portugal, que da Ópera do Tejo, mandados construir por D. José, nada resta, nada chegou aos nossos dias. Mais um caso em que o legado e a história da arquitetura, nacional e universal, demonstraram a sua fragilidade. A arquitetura é a sua forma e, também, a sua função, ambas fatores que o São Carlos evidencia no seu património. Este teatro lírico apenas existe porque executa ativamente a sua função, e, por sua vez, apenas consegue funcionar por existir o edifício. 

É neste ciclo fechado, mas aberto à comunidade, que o São Carlos perdura há mais de 230 anos. Nos últimos oitenta tem-se instalado um declínio a olhos vistos onde, apesar dos apelos, avisos e pedidos muito pouco se tem feito para a sua preservação e para a sua evolução. 

A intervenção agora em curso já tem um projeto que será a base do concurso de obra, a iniciar em breve.

Tudo terá de estar pronto em 2026, conforme regras estipuladas pelo PRR, facto que torna este processo num desafio gigantesco. 

O sonho de ter a nossa Ópera ao nível das suas congéneres do principal circuito operático internacional poderá tornar-se realidade desde que uma equipa competente, em vários setores contemporaneamente, consiga ser eleita para a execução da obra. 

Pede-se à entidade executante capacidades extraordinárias de coordenação de especialidades e gestão de tempo, qualidades excecionais na execução de obra de restauro, ao mesmo tempo que de construção civil, em paralelo com a arquitetura e técnica de cena, de braço dado com as instalações especiais, tudo isto dentro de um monumento nacional único no nosso país. 

Para mencionar uma pequena amostra da delicadeza necessária que a obra irá requerer:

Durante a pesquisa efetuada no auditório do teatro, com janelas de limpeza para descobrir a estratificação das camadas desde a origem, ficou visível o plano da obra original. 

Há pinturas que representam figuras mitológicas e florais sobre as tábuas de madeira em grande parte dos aventais dos camarotes virados para a plateia. 

Era assim este teatro quando abriu!

Ao longo dos séculos as sobreposições foram cobrindo este programa decorativo que se desconhecia até à data de hoje. 

Esta recolha de informação verídica reforça o seu valor patrimonial abrindo caminho para o estudo, que se encontra em curso, ao nível que o edifício merece. 

Apesar das guerras e dos conflitos comerciais à escala global, apesar da hegemonia da digitalização do nosso quotidiano, apesar do acesso ao lazer por via virtual, a cultura erudita continua a ter presença e importância na sociedade em que vivemos. O São Carlos é prova disso.

 

Atelier:

Arsuna

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Contacto

Ângela Leitão

aleitao@anteprojectos.com.pt

Directora Geral

Av. Álvares Cabral, nº 61, 6º andar | 1250-017 Lisboa

Telefone 211 308 758 / 966 863 541

Opinião: Novidades da Cena - Teatro Nacional de São Carlos

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Publicado

Flávio Tirone
ARQUITECTO - ARSUNA

 

Tema quente por esta altura é o nosso monumento lírico, o Teatro Nacional de São Carlos. 

Após a inclusão do edifício classificado na lista dos apoios do PRR e na sequência do concurso de ideias internacional lançado em finais de 2022 e vencido pela equipa liderada pelo arquiteto João Mendes Ribeiro em consórcio com o Atelier 15, parece que será desta que finalmente haverá obra, facto inédito neste teatro desde os anos ‘40 do século passado. 

Para contextualizar historicamente, relembramos que o convento de Mafra foi idealizado e construído como augúrio para o nascimento do primogénito de D. João V. 

Décadas mais tarde, em honra da princesa Carlota Joaquina, consorte do príncipe herdeiro e futuro rei D. João VI, em vez de um núcleo conventual optou-se pela construção de um teatro como presságio de boa fortuna à rápida chegada de descendência. Assim, a rainha D. Maria I aproveitou a ocasião para resgatar a Ópera do Tejo do rasto de ruína em que o terramoto de 1755 a deixou.

O presságio foi “atendido”, tendo a princesa engravidado, obrigando a obra a ser executada em apenas nove meses. 

Inaugurado em 1793, o Real Theatro de São Carlos rapidamente se tornou num palco proeminente no circuito internacional de ópera, naquele tempo ainda gerido pelas casas reais e nobres europeias. 

Talvez seja o teatro lírico com sala em forma elíptica, similar à de ferradura de cavalo, mais antigo do mundo no seu estado original. 

As outras grandes casas de ópera, como o San Carlo em Nápoles, inaugurado em 1737 e o Teatro Alla Scala em Milão, inaugurado em 1778, foram profundamente danificados pelos incêndios do século XIX e pelos bombardeamentos da segunda grande guerra, tendo sido reconstruídos e reabilitados de forma exímia a cada vez mas, por isso mesmo, pouco guardam de original. 

Esta reabilitação a que o nosso teatro de ópera será sujeito, ganha importância extrema se pensarmos que seja da sala de ópera do palácio de Salvaterra, primeira sala lírica erigida em Portugal, que da Ópera do Tejo, mandados construir por D. José, nada resta, nada chegou aos nossos dias. Mais um caso em que o legado e a história da arquitetura, nacional e universal, demonstraram a sua fragilidade. A arquitetura é a sua forma e, também, a sua função, ambas fatores que o São Carlos evidencia no seu património. Este teatro lírico apenas existe porque executa ativamente a sua função, e, por sua vez, apenas consegue funcionar por existir o edifício. 

É neste ciclo fechado, mas aberto à comunidade, que o São Carlos perdura há mais de 230 anos. Nos últimos oitenta tem-se instalado um declínio a olhos vistos onde, apesar dos apelos, avisos e pedidos muito pouco se tem feito para a sua preservação e para a sua evolução. 

A intervenção agora em curso já tem um projeto que será a base do concurso de obra, a iniciar em breve.

Tudo terá de estar pronto em 2026, conforme regras estipuladas pelo PRR, facto que torna este processo num desafio gigantesco. 

O sonho de ter a nossa Ópera ao nível das suas congéneres do principal circuito operático internacional poderá tornar-se realidade desde que uma equipa competente, em vários setores contemporaneamente, consiga ser eleita para a execução da obra. 

Pede-se à entidade executante capacidades extraordinárias de coordenação de especialidades e gestão de tempo, qualidades excecionais na execução de obra de restauro, ao mesmo tempo que de construção civil, em paralelo com a arquitetura e técnica de cena, de braço dado com as instalações especiais, tudo isto dentro de um monumento nacional único no nosso país. 

Para mencionar uma pequena amostra da delicadeza necessária que a obra irá requerer:

Durante a pesquisa efetuada no auditório do teatro, com janelas de limpeza para descobrir a estratificação das camadas desde a origem, ficou visível o plano da obra original. 

Há pinturas que representam figuras mitológicas e florais sobre as tábuas de madeira em grande parte dos aventais dos camarotes virados para a plateia. 

Era assim este teatro quando abriu!

Ao longo dos séculos as sobreposições foram cobrindo este programa decorativo que se desconhecia até à data de hoje. 

Esta recolha de informação verídica reforça o seu valor patrimonial abrindo caminho para o estudo, que se encontra em curso, ao nível que o edifício merece. 

Apesar das guerras e dos conflitos comerciais à escala global, apesar da hegemonia da digitalização do nosso quotidiano, apesar do acesso ao lazer por via virtual, a cultura erudita continua a ter presença e importância na sociedade em que vivemos. O São Carlos é prova disso.

 

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Flávio Tirone
ARQUITECTO - ARSUNA

 

Tema quente por esta altura é o nosso monumento lírico, o Teatro Nacional de São Carlos. 

Após a inclusão do edifício classificado na lista dos apoios do PRR e na sequência do concurso de ideias internacional lançado em finais de 2022 e vencido pela equipa liderada pelo arquiteto João Mendes Ribeiro em consórcio com o Atelier 15, parece que será desta que finalmente haverá obra, facto inédito neste teatro desde os anos ‘40 do século passado. 

Para contextualizar historicamente, relembramos que o convento de Mafra foi idealizado e construído como augúrio para o nascimento do primogénito de D. João V. 

Décadas mais tarde, em honra da princesa Carlota Joaquina, consorte do príncipe herdeiro e futuro rei D. João VI, em vez de um núcleo conventual optou-se pela construção de um teatro como presságio de boa fortuna à rápida chegada de descendência. Assim, a rainha D. Maria I aproveitou a ocasião para resgatar a Ópera do Tejo do rasto de ruína em que o terramoto de 1755 a deixou.

O presságio foi “atendido”, tendo a princesa engravidado, obrigando a obra a ser executada em apenas nove meses. 

Inaugurado em 1793, o Real Theatro de São Carlos rapidamente se tornou num palco proeminente no circuito internacional de ópera, naquele tempo ainda gerido pelas casas reais e nobres europeias. 

Talvez seja o teatro lírico com sala em forma elíptica, similar à de ferradura de cavalo, mais antigo do mundo no seu estado original. 

As outras grandes casas de ópera, como o San Carlo em Nápoles, inaugurado em 1737 e o Teatro Alla Scala em Milão, inaugurado em 1778, foram profundamente danificados pelos incêndios do século XIX e pelos bombardeamentos da segunda grande guerra, tendo sido reconstruídos e reabilitados de forma exímia a cada vez mas, por isso mesmo, pouco guardam de original. 

Esta reabilitação a que o nosso teatro de ópera será sujeito, ganha importância extrema se pensarmos que seja da sala de ópera do palácio de Salvaterra, primeira sala lírica erigida em Portugal, que da Ópera do Tejo, mandados construir por D. José, nada resta, nada chegou aos nossos dias. Mais um caso em que o legado e a história da arquitetura, nacional e universal, demonstraram a sua fragilidade. A arquitetura é a sua forma e, também, a sua função, ambas fatores que o São Carlos evidencia no seu património. Este teatro lírico apenas existe porque executa ativamente a sua função, e, por sua vez, apenas consegue funcionar por existir o edifício. 

É neste ciclo fechado, mas aberto à comunidade, que o São Carlos perdura há mais de 230 anos. Nos últimos oitenta tem-se instalado um declínio a olhos vistos onde, apesar dos apelos, avisos e pedidos muito pouco se tem feito para a sua preservação e para a sua evolução. 

A intervenção agora em curso já tem um projeto que será a base do concurso de obra, a iniciar em breve.

Tudo terá de estar pronto em 2026, conforme regras estipuladas pelo PRR, facto que torna este processo num desafio gigantesco. 

O sonho de ter a nossa Ópera ao nível das suas congéneres do principal circuito operático internacional poderá tornar-se realidade desde que uma equipa competente, em vários setores contemporaneamente, consiga ser eleita para a execução da obra. 

Pede-se à entidade executante capacidades extraordinárias de coordenação de especialidades e gestão de tempo, qualidades excecionais na execução de obra de restauro, ao mesmo tempo que de construção civil, em paralelo com a arquitetura e técnica de cena, de braço dado com as instalações especiais, tudo isto dentro de um monumento nacional único no nosso país. 

Para mencionar uma pequena amostra da delicadeza necessária que a obra irá requerer:

Durante a pesquisa efetuada no auditório do teatro, com janelas de limpeza para descobrir a estratificação das camadas desde a origem, ficou visível o plano da obra original. 

Há pinturas que representam figuras mitológicas e florais sobre as tábuas de madeira em grande parte dos aventais dos camarotes virados para a plateia. 

Era assim este teatro quando abriu!

Ao longo dos séculos as sobreposições foram cobrindo este programa decorativo que se desconhecia até à data de hoje. 

Esta recolha de informação verídica reforça o seu valor patrimonial abrindo caminho para o estudo, que se encontra em curso, ao nível que o edifício merece. 

Apesar das guerras e dos conflitos comerciais à escala global, apesar da hegemonia da digitalização do nosso quotidiano, apesar do acesso ao lazer por via virtual, a cultura erudita continua a ter presença e importância na sociedade em que vivemos. O São Carlos é prova disso.

 

Atelier:

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