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Opinião: 2025, 12 MESES, 12 CRÓNICAS SOBRE…

Categoria:  Artigos de Opinião

Publicado

Paulo Vila Verde
ARQUITECTO - INQUIETUDE ARQUITETURA

 

Não me surpreendeu a reportagem transmitida nestas últimas semanas sobre a problemática do esgotamento dos alunos de arquitetura, que não tem sido cirurgicamente abordada apesar de ser do conhecimento geral dos professores e respetivas entidades. 

A levar ao limite pode entender-se a existência, e aqui não generalizando, de uma aprendizagem pela via do sofrimento, encaminhando à possibilidade da decadência do próprio curso e da imagem associada. 

Entre muitas questões que se levantam, surgem-me: será que o processo acabou por se tornar num modelo de horas excessivas cujo cansaço não se aplica na qualidade de aprendizagem? Esta possibilidade pode ter mesmo o efeito contrário, não beneficiando do descanso e do sentido de amplitude e criatividade que o mesmo proporciona. 

Pode refletir-se também acerca da possibilidade do ensino padecer de uma evolução no sentido de uma produção de repetição, o que subtrai a sua função de ensinamento e de promoção do estudo, acabando por resultar num modelo de absorção e programação fabril, julgando-se incorreto e contraproducente. 

Estará a verdadeira qualidade do ensino da arquitetura no fantasma do massacre dos jovens estudantes e na constante pressão e opressão? Talvez necessite de ajuste à realidade atual, descolando-se das antigas fórmulas, sendo sensato achar que massacre, opressão e criatividade se movimentam em campos e capacidades opostas. 

Se existem queixas pode julgar-se pertinente existirem discrepâncias na realidade das várias formas da aplicação do modelo pedagógico e a docência não pode despenalizar e relativizar a problemática como se não tivesse de fazer parte da estatística. Estes sinais podem, eventualmente, demonstrar mais a crua realidade do que os sucessos apregoados que passam a ser ode comercial, mas de verdade mascarada. 

Está comprovado aos dias de hoje e faz parte do senso comum que o sucesso e qualidade no trabalho não é sinónimo de sofrimento, horários massacrantes e chefias bipolarizadas, mas sim de um processo evolutivo, objetivos, ação, foco e obviamente meritocracia. 

Deve existir uma vincada reflexão sobre o atual sistema do ensino de arquitetura em Portugal, podendo este estar a correr o risco de um desfasamento face à nossa realidade humana e social. E aqui não se pretende ver equacionado a qualidade de conteúdo, que é comprovada, mas sim a forma como ele é disposto pelo docente. 

É importante olhar de forma realmente crítica para a aplicação da metodologia e vontade empregue por cada docente no ensinamento, considerando todos os momentos do processo e sem se tomar como garantidas as suas preferências pessoais como marcantes, ideais ou construtivas para o futuro dos profissionais que dali sairão, e que se pretende serem de excelência para um trajeto vitorioso desta nossa arte e na qualidade das nossas cidades, lugares e território. 

Porém, constata-se com alguma facilidade o descrédito e a mágoa de alguns alunos e ex alunos. Muitos destes casos passam a ser catalogados como exemplos descredibilizados que se perderam no processo, ou como engrenagens sem valor e capacidades para uma arquitetura que por vezes apenas interessa à linguagem daquele professor específico. Creio este ser um crasso erro potenciador de uma caminhada à retaguarda tanto para a globalidade do método de ensino como para a forma de cativar e propagar a qualidade e amplitude da arquitetura, sendo esta mais importante do que uma qualquer linguagem particular que se pretende impor na sala de aula. 

O sistema deve, e tem, de ser questionado e observado criticamente, devendo ser desintegrada a imposição de formatações e implementações, levantando também a questão de que na arquitetura, nem sempre a antiguidade pode ser um posto. O sofrimento e humilhação dos alunos do passado em nada cabe nos nossos dias. Esta é uma das barreiras que pode condicionar a evolução da modernidade, seja em que linguagem for, e a evolução da arquitetura portuguesa, castrando o seu futuro a uma mediocridade potenciada por técnicas de ensino eventualmente obsoletas, que não se resolvem dizendo apenas que Portugal tem as melhores escolas de arquitetura do mundo. Os méritos passados não constroem futuros. Apenas dão avalos que podem perder o estatuto. 

Recordo uma apresentação de trabalhos académicos da cadeira de projeto em que todos os professores criticaram energicamente a prestação de um aluno. Contudo, o professor convidado, ainda espantado com o que ali tinha sucedido, apenas comentou: “Agora que apenas disseram tudo de mal que este projeto tem, vou puxar pelos pontos positivos que também existem”. 

Em suma, as opções de alguns professores de arquitetura têm de ser também questionadas e avaliadas, sabendo-se que ninguém equivale à razão absoluta. Se um aluno não atinge o objetivo é porque, provavelmente, o docente não conseguiu chegar até ele. Essa é a sua principal obrigação e a sua atenção deve recair nas fragilidades que o percurso letivo vai revelando.

 

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Contacto

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aleitao@anteprojectos.com.pt

Directora Geral

Av. Álvares Cabral, nº 61, 6º andar | 1250-017 Lisboa

Telefone 211 308 758 / 966 863 541

Opinião: 2025, 12 MESES, 12 CRÓNICAS SOBRE…

Categoria:  Artigos de Opinião

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Paulo Vila Verde
ARQUITECTO - INQUIETUDE ARQUITETURA

 

Não me surpreendeu a reportagem transmitida nestas últimas semanas sobre a problemática do esgotamento dos alunos de arquitetura, que não tem sido cirurgicamente abordada apesar de ser do conhecimento geral dos professores e respetivas entidades. 

A levar ao limite pode entender-se a existência, e aqui não generalizando, de uma aprendizagem pela via do sofrimento, encaminhando à possibilidade da decadência do próprio curso e da imagem associada. 

Entre muitas questões que se levantam, surgem-me: será que o processo acabou por se tornar num modelo de horas excessivas cujo cansaço não se aplica na qualidade de aprendizagem? Esta possibilidade pode ter mesmo o efeito contrário, não beneficiando do descanso e do sentido de amplitude e criatividade que o mesmo proporciona. 

Pode refletir-se também acerca da possibilidade do ensino padecer de uma evolução no sentido de uma produção de repetição, o que subtrai a sua função de ensinamento e de promoção do estudo, acabando por resultar num modelo de absorção e programação fabril, julgando-se incorreto e contraproducente. 

Estará a verdadeira qualidade do ensino da arquitetura no fantasma do massacre dos jovens estudantes e na constante pressão e opressão? Talvez necessite de ajuste à realidade atual, descolando-se das antigas fórmulas, sendo sensato achar que massacre, opressão e criatividade se movimentam em campos e capacidades opostas. 

Se existem queixas pode julgar-se pertinente existirem discrepâncias na realidade das várias formas da aplicação do modelo pedagógico e a docência não pode despenalizar e relativizar a problemática como se não tivesse de fazer parte da estatística. Estes sinais podem, eventualmente, demonstrar mais a crua realidade do que os sucessos apregoados que passam a ser ode comercial, mas de verdade mascarada. 

Está comprovado aos dias de hoje e faz parte do senso comum que o sucesso e qualidade no trabalho não é sinónimo de sofrimento, horários massacrantes e chefias bipolarizadas, mas sim de um processo evolutivo, objetivos, ação, foco e obviamente meritocracia. 

Deve existir uma vincada reflexão sobre o atual sistema do ensino de arquitetura em Portugal, podendo este estar a correr o risco de um desfasamento face à nossa realidade humana e social. E aqui não se pretende ver equacionado a qualidade de conteúdo, que é comprovada, mas sim a forma como ele é disposto pelo docente. 

É importante olhar de forma realmente crítica para a aplicação da metodologia e vontade empregue por cada docente no ensinamento, considerando todos os momentos do processo e sem se tomar como garantidas as suas preferências pessoais como marcantes, ideais ou construtivas para o futuro dos profissionais que dali sairão, e que se pretende serem de excelência para um trajeto vitorioso desta nossa arte e na qualidade das nossas cidades, lugares e território. 

Porém, constata-se com alguma facilidade o descrédito e a mágoa de alguns alunos e ex alunos. Muitos destes casos passam a ser catalogados como exemplos descredibilizados que se perderam no processo, ou como engrenagens sem valor e capacidades para uma arquitetura que por vezes apenas interessa à linguagem daquele professor específico. Creio este ser um crasso erro potenciador de uma caminhada à retaguarda tanto para a globalidade do método de ensino como para a forma de cativar e propagar a qualidade e amplitude da arquitetura, sendo esta mais importante do que uma qualquer linguagem particular que se pretende impor na sala de aula. 

O sistema deve, e tem, de ser questionado e observado criticamente, devendo ser desintegrada a imposição de formatações e implementações, levantando também a questão de que na arquitetura, nem sempre a antiguidade pode ser um posto. O sofrimento e humilhação dos alunos do passado em nada cabe nos nossos dias. Esta é uma das barreiras que pode condicionar a evolução da modernidade, seja em que linguagem for, e a evolução da arquitetura portuguesa, castrando o seu futuro a uma mediocridade potenciada por técnicas de ensino eventualmente obsoletas, que não se resolvem dizendo apenas que Portugal tem as melhores escolas de arquitetura do mundo. Os méritos passados não constroem futuros. Apenas dão avalos que podem perder o estatuto. 

Recordo uma apresentação de trabalhos académicos da cadeira de projeto em que todos os professores criticaram energicamente a prestação de um aluno. Contudo, o professor convidado, ainda espantado com o que ali tinha sucedido, apenas comentou: “Agora que apenas disseram tudo de mal que este projeto tem, vou puxar pelos pontos positivos que também existem”. 

Em suma, as opções de alguns professores de arquitetura têm de ser também questionadas e avaliadas, sabendo-se que ninguém equivale à razão absoluta. Se um aluno não atinge o objetivo é porque, provavelmente, o docente não conseguiu chegar até ele. Essa é a sua principal obrigação e a sua atenção deve recair nas fragilidades que o percurso letivo vai revelando.

 

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Paulo Vila Verde
ARQUITECTO - INQUIETUDE ARQUITETURA

 

Não me surpreendeu a reportagem transmitida nestas últimas semanas sobre a problemática do esgotamento dos alunos de arquitetura, que não tem sido cirurgicamente abordada apesar de ser do conhecimento geral dos professores e respetivas entidades. 

A levar ao limite pode entender-se a existência, e aqui não generalizando, de uma aprendizagem pela via do sofrimento, encaminhando à possibilidade da decadência do próprio curso e da imagem associada. 

Entre muitas questões que se levantam, surgem-me: será que o processo acabou por se tornar num modelo de horas excessivas cujo cansaço não se aplica na qualidade de aprendizagem? Esta possibilidade pode ter mesmo o efeito contrário, não beneficiando do descanso e do sentido de amplitude e criatividade que o mesmo proporciona. 

Pode refletir-se também acerca da possibilidade do ensino padecer de uma evolução no sentido de uma produção de repetição, o que subtrai a sua função de ensinamento e de promoção do estudo, acabando por resultar num modelo de absorção e programação fabril, julgando-se incorreto e contraproducente. 

Estará a verdadeira qualidade do ensino da arquitetura no fantasma do massacre dos jovens estudantes e na constante pressão e opressão? Talvez necessite de ajuste à realidade atual, descolando-se das antigas fórmulas, sendo sensato achar que massacre, opressão e criatividade se movimentam em campos e capacidades opostas. 

Se existem queixas pode julgar-se pertinente existirem discrepâncias na realidade das várias formas da aplicação do modelo pedagógico e a docência não pode despenalizar e relativizar a problemática como se não tivesse de fazer parte da estatística. Estes sinais podem, eventualmente, demonstrar mais a crua realidade do que os sucessos apregoados que passam a ser ode comercial, mas de verdade mascarada. 

Está comprovado aos dias de hoje e faz parte do senso comum que o sucesso e qualidade no trabalho não é sinónimo de sofrimento, horários massacrantes e chefias bipolarizadas, mas sim de um processo evolutivo, objetivos, ação, foco e obviamente meritocracia. 

Deve existir uma vincada reflexão sobre o atual sistema do ensino de arquitetura em Portugal, podendo este estar a correr o risco de um desfasamento face à nossa realidade humana e social. E aqui não se pretende ver equacionado a qualidade de conteúdo, que é comprovada, mas sim a forma como ele é disposto pelo docente. 

É importante olhar de forma realmente crítica para a aplicação da metodologia e vontade empregue por cada docente no ensinamento, considerando todos os momentos do processo e sem se tomar como garantidas as suas preferências pessoais como marcantes, ideais ou construtivas para o futuro dos profissionais que dali sairão, e que se pretende serem de excelência para um trajeto vitorioso desta nossa arte e na qualidade das nossas cidades, lugares e território. 

Porém, constata-se com alguma facilidade o descrédito e a mágoa de alguns alunos e ex alunos. Muitos destes casos passam a ser catalogados como exemplos descredibilizados que se perderam no processo, ou como engrenagens sem valor e capacidades para uma arquitetura que por vezes apenas interessa à linguagem daquele professor específico. Creio este ser um crasso erro potenciador de uma caminhada à retaguarda tanto para a globalidade do método de ensino como para a forma de cativar e propagar a qualidade e amplitude da arquitetura, sendo esta mais importante do que uma qualquer linguagem particular que se pretende impor na sala de aula. 

O sistema deve, e tem, de ser questionado e observado criticamente, devendo ser desintegrada a imposição de formatações e implementações, levantando também a questão de que na arquitetura, nem sempre a antiguidade pode ser um posto. O sofrimento e humilhação dos alunos do passado em nada cabe nos nossos dias. Esta é uma das barreiras que pode condicionar a evolução da modernidade, seja em que linguagem for, e a evolução da arquitetura portuguesa, castrando o seu futuro a uma mediocridade potenciada por técnicas de ensino eventualmente obsoletas, que não se resolvem dizendo apenas que Portugal tem as melhores escolas de arquitetura do mundo. Os méritos passados não constroem futuros. Apenas dão avalos que podem perder o estatuto. 

Recordo uma apresentação de trabalhos académicos da cadeira de projeto em que todos os professores criticaram energicamente a prestação de um aluno. Contudo, o professor convidado, ainda espantado com o que ali tinha sucedido, apenas comentou: “Agora que apenas disseram tudo de mal que este projeto tem, vou puxar pelos pontos positivos que também existem”. 

Em suma, as opções de alguns professores de arquitetura têm de ser também questionadas e avaliadas, sabendo-se que ninguém equivale à razão absoluta. Se um aluno não atinge o objetivo é porque, provavelmente, o docente não conseguiu chegar até ele. Essa é a sua principal obrigação e a sua atenção deve recair nas fragilidades que o percurso letivo vai revelando.