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Publicado
Flávio Tirone
ARQUITECTO - ARSUNA
Nota prévia:
Numa tentativa de definir o termo “estilo”, de entre várias, encontro esta definição: “Estilo arquitetónico é uma expressão utilizada com o fim de classificar períodos da história da arquitetura de acordo com as suas caraterísticas formais, técnicas e materiais. Existem caraterísticas comuns nas obras de arquitetos que tenham trabalhado na mesma época, na mesma região geográfica ou, simplesmente, quando têm conhecimento dos trabalhos desenvolvidos pelos outros – as chamadas “influências” na obra individual de cada criador.”
Tivoli, confronto de estilos:
O solicitado pelo dono de obra e o desejado pelo arquiteto.
Tratando-se do único edifício privado em Portugal com a denominação de teatro que é classificado como monumento, o tema poderia centrar-se no valor patrimonial edificado, mas pareceu-me interessante focar a questão que, passados cem anos, o tema do confronto entre a linguagem arquitetónica e a linguagem económica persiste na prática profissional de qualquer projetista.
Por volta de 1917, a família Lima Mayer viu-se obrigada a edificar nos terrenos de que era proprietária na zona da recém-criada Avenida por imposição do Município que pretendia transformar os campos e as quintas aí existentes em malha urbana.
Adolfo Lima Mayer sugeriu a construção de um “salão para espetáculos públicos”. A sugestão foi bem acolhida pela edilidade e, após vários anos de diálogo entre as partes, surgiu a ideia amadurecida com o programa arquitetónico que veio a ser adotado no projeto final.
Quando Frederico Lima Mayer, filho de Adolfo, convidou o arquiteto Raúl Lino, seu amigo, para desenhar um “Palácio do Cinema ao grande estilo de Paris”, este acedeu ressalvando que aceitava o desafio apesar de não ser essa a linguagem que preferia.
Perante um programa arquitetónico algo inusitado e muito especializado Raúl Lino viu-se aflito para executar o seu projeto para o Tivoli sem negar ao amigo Frederico Lima Mayer, Dono de Obra e investidor empresarial, o sucesso pretendido.
Por vezes, na procura de um desempenho criativo de nível excecional e que exprima contemporaneidade, ou seja, ser do seu tempo, não se consegue garantir o sucesso popular e comercial ansiado por um investidor privado, especialmente quando se trata de uma sala de espetáculos que depende da bilheteria e dos potenciais patrocinadores.
Como iria ele conseguir dar funções claras e operacionais quando o lote surgia num gaveto inclinado?
Como iria dar conforto e proporcionar a admiração aos utentes?
Como iria dar uma atmosfera sóbria e moderna quando lhe foi pedido um programa decorativo clássico parisiense?
Ser inovador e único, ou seja, diferente, sempre foi e sempre será um desafio…
Afinal surgiu um estilo novo, personalizado, que abarca várias épocas e está imbuído do espírito naturalista de Raúl Lino.
Ele pretendeu cumprir o programa decorativo exposto pelo seu cliente e amigo Frederico Lima Mayer mas sem trair a sua própria alma amante da natureza, instruída pela experiência alemã e depois pelas viagens inspiradoras e pesquisadoras na Ibéria e no Norte de África.
Desejou que a sua Sintra dos bosques, das serras e dos mares areados, tivesse presença na sua Lisboa mundana e da urbe civilizada.
O desenho dos espaços e dos elementos do edifício, o programa decorativo, exprime os mundos de Raúl Lino.
Na viragem do século XIX para o século XX qualquer sala de um teatro lisboeta ainda tinha divisões correspondentes às classes sociais.
Classe abastada separada da classe popular, um espelho da vida quotidiana.
De facto, não era óbvio para quem fosse de uma classe social baixa, conseguir tempo e dinheiro para uns momentos de lazer, muito menos para assistir a um espetáculo…um luxo para aquela época.
Os teatros e os primeiros cinemas, únicos locais onde se podia assistir a espetáculos, ao contrário de hoje em que os media ampliaram essa oportunidade, tinham setores com separações rígidas para garantir às classes elevadas que não houvesse “misturas”.
Por vezes o “povo” acedia apenas ao segundo balcão por uma escada diretamente a partir do exterior, sem acesso a foyer, bar ou casa de banho. Imaginem o estado dos becos nas proximidades dos teatros…Na sala do Tivoli a classe “pobre” tinha acesso à primeira plateia diretamente da rua, sem acesso a foyer, bar ou casa de banho, dividida da segunda plateia por uma guarda opaca sem passagem, onde estava acomodada a classe intermédia. A classe alta permanecia nas frisas e nos camarotes.
A primeira plateia foi escolhida para ser “pobre” porque estava muito perto do écran de cinema, onde visionar um filme é menos confortável. Além disso, quem assistia sentava-se em bancos corridos de encosto corrido e sem almofadas.
As cadeiras da segunda plateia já eram outra história. Um design sóbrio e simples, mas ergonómico, fruto da sua experiência estudantil, na linha do “Arts and crafts” britânico e do “Jugendstil” alemão.
No dia da inauguração, em 30 da Novembro de 1924, era este o panorama.
Na sequência da primeira grande ampliação do Tivoli, nos anos trinta, em que se construiu um pequeno palco, para permitir também a programação de espetáculos ao vivo para além do cinema, o conceito democratizante da plateia foi implementado, com a colocação de cadeiras com assento rebatível em toda a sua extensão, e manteve-se até aos dias de hoje.
O programa decorativo solicitado a Raúl Lino pedia o desenvolvimento de temas neoclássicos, mais especificamente, a inclusão de referências ao estilo Louis XVI, tantas vezes representado na cidade luz, musa de Frederico Lima Mayer, impulsionador e financiador do projeto e da obra.
Raúl Lino, por deferência à vontade do cliente e, mais ainda, por respeito à amizade que os unia, anuiu ao requisito, mas soube, com subtileza e suavidade, integrar todos os seus conceitos mais caros.
Desde a forma até à fluidez do espaço desenhado, desde as proporções mais gregas que francesas, até ao critério cromático mais naturalista e popular que citadino e elitista.
Os tímpanos da fachada recuada e do arco de proscénio, inspirados no Partenon ateniense, a arquitrave suportada por pilastras coroadas por capitéis da ordem jónica, a linha reta dos balcões de arestas arqueadas, a ausência da elipse de camarotes, substituída por tribunas e balcões de filas corridas, as cores da quinta no meio da natureza ao invés do cromatismo nobre e elitista dos palácios, marcam a forma e expressam a mensagem humana que Raúl Lino procurou transmitir-nos.
O palácio do cinema, que abarca uma generosidade espacial, uma funcionalidade racional e uma imagem acolhedora, afinal virou templo da cultura.
Tivoli - I lov it
Publicado
Flávio Tirone
ARQUITECTO - ARSUNA
Nota prévia:
Numa tentativa de definir o termo “estilo”, de entre várias, encontro esta definição: “Estilo arquitetónico é uma expressão utilizada com o fim de classificar períodos da história da arquitetura de acordo com as suas caraterísticas formais, técnicas e materiais. Existem caraterísticas comuns nas obras de arquitetos que tenham trabalhado na mesma época, na mesma região geográfica ou, simplesmente, quando têm conhecimento dos trabalhos desenvolvidos pelos outros – as chamadas “influências” na obra individual de cada criador.”
Tivoli, confronto de estilos:
O solicitado pelo dono de obra e o desejado pelo arquiteto.
Tratando-se do único edifício privado em Portugal com a denominação de teatro que é classificado como monumento, o tema poderia centrar-se no valor patrimonial edificado, mas pareceu-me interessante focar a questão que, passados cem anos, o tema do confronto entre a linguagem arquitetónica e a linguagem económica persiste na prática profissional de qualquer projetista.
Por volta de 1917, a família Lima Mayer viu-se obrigada a edificar nos terrenos de que era proprietária na zona da recém-criada Avenida por imposição do Município que pretendia transformar os campos e as quintas aí existentes em malha urbana.
Adolfo Lima Mayer sugeriu a construção de um “salão para espetáculos públicos”. A sugestão foi bem acolhida pela edilidade e, após vários anos de diálogo entre as partes, surgiu a ideia amadurecida com o programa arquitetónico que veio a ser adotado no projeto final.
Quando Frederico Lima Mayer, filho de Adolfo, convidou o arquiteto Raúl Lino, seu amigo, para desenhar um “Palácio do Cinema ao grande estilo de Paris”, este acedeu ressalvando que aceitava o desafio apesar de não ser essa a linguagem que preferia.
Perante um programa arquitetónico algo inusitado e muito especializado Raúl Lino viu-se aflito para executar o seu projeto para o Tivoli sem negar ao amigo Frederico Lima Mayer, Dono de Obra e investidor empresarial, o sucesso pretendido.
Por vezes, na procura de um desempenho criativo de nível excecional e que exprima contemporaneidade, ou seja, ser do seu tempo, não se consegue garantir o sucesso popular e comercial ansiado por um investidor privado, especialmente quando se trata de uma sala de espetáculos que depende da bilheteria e dos potenciais patrocinadores.
Como iria ele conseguir dar funções claras e operacionais quando o lote surgia num gaveto inclinado?
Como iria dar conforto e proporcionar a admiração aos utentes?
Como iria dar uma atmosfera sóbria e moderna quando lhe foi pedido um programa decorativo clássico parisiense?
Ser inovador e único, ou seja, diferente, sempre foi e sempre será um desafio…
Afinal surgiu um estilo novo, personalizado, que abarca várias épocas e está imbuído do espírito naturalista de Raúl Lino.
Ele pretendeu cumprir o programa decorativo exposto pelo seu cliente e amigo Frederico Lima Mayer mas sem trair a sua própria alma amante da natureza, instruída pela experiência alemã e depois pelas viagens inspiradoras e pesquisadoras na Ibéria e no Norte de África.
Desejou que a sua Sintra dos bosques, das serras e dos mares areados, tivesse presença na sua Lisboa mundana e da urbe civilizada.
O desenho dos espaços e dos elementos do edifício, o programa decorativo, exprime os mundos de Raúl Lino.
Na viragem do século XIX para o século XX qualquer sala de um teatro lisboeta ainda tinha divisões correspondentes às classes sociais.
Classe abastada separada da classe popular, um espelho da vida quotidiana.
De facto, não era óbvio para quem fosse de uma classe social baixa, conseguir tempo e dinheiro para uns momentos de lazer, muito menos para assistir a um espetáculo…um luxo para aquela época.
Os teatros e os primeiros cinemas, únicos locais onde se podia assistir a espetáculos, ao contrário de hoje em que os media ampliaram essa oportunidade, tinham setores com separações rígidas para garantir às classes elevadas que não houvesse “misturas”.
Por vezes o “povo” acedia apenas ao segundo balcão por uma escada diretamente a partir do exterior, sem acesso a foyer, bar ou casa de banho. Imaginem o estado dos becos nas proximidades dos teatros…Na sala do Tivoli a classe “pobre” tinha acesso à primeira plateia diretamente da rua, sem acesso a foyer, bar ou casa de banho, dividida da segunda plateia por uma guarda opaca sem passagem, onde estava acomodada a classe intermédia. A classe alta permanecia nas frisas e nos camarotes.
A primeira plateia foi escolhida para ser “pobre” porque estava muito perto do écran de cinema, onde visionar um filme é menos confortável. Além disso, quem assistia sentava-se em bancos corridos de encosto corrido e sem almofadas.
As cadeiras da segunda plateia já eram outra história. Um design sóbrio e simples, mas ergonómico, fruto da sua experiência estudantil, na linha do “Arts and crafts” britânico e do “Jugendstil” alemão.
No dia da inauguração, em 30 da Novembro de 1924, era este o panorama.
Na sequência da primeira grande ampliação do Tivoli, nos anos trinta, em que se construiu um pequeno palco, para permitir também a programação de espetáculos ao vivo para além do cinema, o conceito democratizante da plateia foi implementado, com a colocação de cadeiras com assento rebatível em toda a sua extensão, e manteve-se até aos dias de hoje.
O programa decorativo solicitado a Raúl Lino pedia o desenvolvimento de temas neoclássicos, mais especificamente, a inclusão de referências ao estilo Louis XVI, tantas vezes representado na cidade luz, musa de Frederico Lima Mayer, impulsionador e financiador do projeto e da obra.
Raúl Lino, por deferência à vontade do cliente e, mais ainda, por respeito à amizade que os unia, anuiu ao requisito, mas soube, com subtileza e suavidade, integrar todos os seus conceitos mais caros.
Desde a forma até à fluidez do espaço desenhado, desde as proporções mais gregas que francesas, até ao critério cromático mais naturalista e popular que citadino e elitista.
Os tímpanos da fachada recuada e do arco de proscénio, inspirados no Partenon ateniense, a arquitrave suportada por pilastras coroadas por capitéis da ordem jónica, a linha reta dos balcões de arestas arqueadas, a ausência da elipse de camarotes, substituída por tribunas e balcões de filas corridas, as cores da quinta no meio da natureza ao invés do cromatismo nobre e elitista dos palácios, marcam a forma e expressam a mensagem humana que Raúl Lino procurou transmitir-nos.
O palácio do cinema, que abarca uma generosidade espacial, uma funcionalidade racional e uma imagem acolhedora, afinal virou templo da cultura.
Tivoli - I lov it
Publicado
Flávio Tirone
ARQUITECTO - ARSUNA
Nota prévia:
Numa tentativa de definir o termo “estilo”, de entre várias, encontro esta definição: “Estilo arquitetónico é uma expressão utilizada com o fim de classificar períodos da história da arquitetura de acordo com as suas caraterísticas formais, técnicas e materiais. Existem caraterísticas comuns nas obras de arquitetos que tenham trabalhado na mesma época, na mesma região geográfica ou, simplesmente, quando têm conhecimento dos trabalhos desenvolvidos pelos outros – as chamadas “influências” na obra individual de cada criador.”
Tivoli, confronto de estilos:
O solicitado pelo dono de obra e o desejado pelo arquiteto.
Tratando-se do único edifício privado em Portugal com a denominação de teatro que é classificado como monumento, o tema poderia centrar-se no valor patrimonial edificado, mas pareceu-me interessante focar a questão que, passados cem anos, o tema do confronto entre a linguagem arquitetónica e a linguagem económica persiste na prática profissional de qualquer projetista.
Por volta de 1917, a família Lima Mayer viu-se obrigada a edificar nos terrenos de que era proprietária na zona da recém-criada Avenida por imposição do Município que pretendia transformar os campos e as quintas aí existentes em malha urbana.
Adolfo Lima Mayer sugeriu a construção de um “salão para espetáculos públicos”. A sugestão foi bem acolhida pela edilidade e, após vários anos de diálogo entre as partes, surgiu a ideia amadurecida com o programa arquitetónico que veio a ser adotado no projeto final.
Quando Frederico Lima Mayer, filho de Adolfo, convidou o arquiteto Raúl Lino, seu amigo, para desenhar um “Palácio do Cinema ao grande estilo de Paris”, este acedeu ressalvando que aceitava o desafio apesar de não ser essa a linguagem que preferia.
Perante um programa arquitetónico algo inusitado e muito especializado Raúl Lino viu-se aflito para executar o seu projeto para o Tivoli sem negar ao amigo Frederico Lima Mayer, Dono de Obra e investidor empresarial, o sucesso pretendido.
Por vezes, na procura de um desempenho criativo de nível excecional e que exprima contemporaneidade, ou seja, ser do seu tempo, não se consegue garantir o sucesso popular e comercial ansiado por um investidor privado, especialmente quando se trata de uma sala de espetáculos que depende da bilheteria e dos potenciais patrocinadores.
Como iria ele conseguir dar funções claras e operacionais quando o lote surgia num gaveto inclinado?
Como iria dar conforto e proporcionar a admiração aos utentes?
Como iria dar uma atmosfera sóbria e moderna quando lhe foi pedido um programa decorativo clássico parisiense?
Ser inovador e único, ou seja, diferente, sempre foi e sempre será um desafio…
Afinal surgiu um estilo novo, personalizado, que abarca várias épocas e está imbuído do espírito naturalista de Raúl Lino.
Ele pretendeu cumprir o programa decorativo exposto pelo seu cliente e amigo Frederico Lima Mayer mas sem trair a sua própria alma amante da natureza, instruída pela experiência alemã e depois pelas viagens inspiradoras e pesquisadoras na Ibéria e no Norte de África.
Desejou que a sua Sintra dos bosques, das serras e dos mares areados, tivesse presença na sua Lisboa mundana e da urbe civilizada.
O desenho dos espaços e dos elementos do edifício, o programa decorativo, exprime os mundos de Raúl Lino.
Na viragem do século XIX para o século XX qualquer sala de um teatro lisboeta ainda tinha divisões correspondentes às classes sociais.
Classe abastada separada da classe popular, um espelho da vida quotidiana.
De facto, não era óbvio para quem fosse de uma classe social baixa, conseguir tempo e dinheiro para uns momentos de lazer, muito menos para assistir a um espetáculo…um luxo para aquela época.
Os teatros e os primeiros cinemas, únicos locais onde se podia assistir a espetáculos, ao contrário de hoje em que os media ampliaram essa oportunidade, tinham setores com separações rígidas para garantir às classes elevadas que não houvesse “misturas”.
Por vezes o “povo” acedia apenas ao segundo balcão por uma escada diretamente a partir do exterior, sem acesso a foyer, bar ou casa de banho. Imaginem o estado dos becos nas proximidades dos teatros…Na sala do Tivoli a classe “pobre” tinha acesso à primeira plateia diretamente da rua, sem acesso a foyer, bar ou casa de banho, dividida da segunda plateia por uma guarda opaca sem passagem, onde estava acomodada a classe intermédia. A classe alta permanecia nas frisas e nos camarotes.
A primeira plateia foi escolhida para ser “pobre” porque estava muito perto do écran de cinema, onde visionar um filme é menos confortável. Além disso, quem assistia sentava-se em bancos corridos de encosto corrido e sem almofadas.
As cadeiras da segunda plateia já eram outra história. Um design sóbrio e simples, mas ergonómico, fruto da sua experiência estudantil, na linha do “Arts and crafts” britânico e do “Jugendstil” alemão.
No dia da inauguração, em 30 da Novembro de 1924, era este o panorama.
Na sequência da primeira grande ampliação do Tivoli, nos anos trinta, em que se construiu um pequeno palco, para permitir também a programação de espetáculos ao vivo para além do cinema, o conceito democratizante da plateia foi implementado, com a colocação de cadeiras com assento rebatível em toda a sua extensão, e manteve-se até aos dias de hoje.
O programa decorativo solicitado a Raúl Lino pedia o desenvolvimento de temas neoclássicos, mais especificamente, a inclusão de referências ao estilo Louis XVI, tantas vezes representado na cidade luz, musa de Frederico Lima Mayer, impulsionador e financiador do projeto e da obra.
Raúl Lino, por deferência à vontade do cliente e, mais ainda, por respeito à amizade que os unia, anuiu ao requisito, mas soube, com subtileza e suavidade, integrar todos os seus conceitos mais caros.
Desde a forma até à fluidez do espaço desenhado, desde as proporções mais gregas que francesas, até ao critério cromático mais naturalista e popular que citadino e elitista.
Os tímpanos da fachada recuada e do arco de proscénio, inspirados no Partenon ateniense, a arquitrave suportada por pilastras coroadas por capitéis da ordem jónica, a linha reta dos balcões de arestas arqueadas, a ausência da elipse de camarotes, substituída por tribunas e balcões de filas corridas, as cores da quinta no meio da natureza ao invés do cromatismo nobre e elitista dos palácios, marcam a forma e expressam a mensagem humana que Raúl Lino procurou transmitir-nos.
O palácio do cinema, que abarca uma generosidade espacial, uma funcionalidade racional e uma imagem acolhedora, afinal virou templo da cultura.
Tivoli - I lov it