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Publicado
Pedro Araújo Napoleão
Arquitecto - pan atelier
Pensar a cidade do futuro, num tempo em que se anuncia uma nova era “pós-pandémica” implica ir muito mais além dos atuais conceitos de cidade inteligente (ou smart city) que se têm limitado a olhar a cidade do ponto de vista da conetividade e eficiência dos seus recursos, que as tornarão mais sustentáveis com todas as vantagens conhecidas que as tecnologias digitais trazem para os cidadãos.
Urge repensar o processo arquitetónico e urbanístico nas suas múltiplas dimensões para que não passe à margem de nós mesmos. Estratégias corajosas com medidas ecológicas verdadeiramente efetivas na redução drástica da emissão de gases com efeito de estufa na nossa atmosfera, que visem o despovoamento das grandes metrópoles, o fim dos combustíveis fósseis e a alteração da nossa forma de viver, sob pena de muitas cidades se tornarem autênticas bombas-relógio, deixando o nosso planeta irremediavelmente sem solução.
Implicará, conhecermos profundamente cada cidade, compreendendo a sua história e a sua cultura, identificarmos fatores que permitam melhor interpretar a sua morfologia, como se foi transformando, ajudando-nos a entender o homem e os seus diferentes estilos de vida urbana ao longo das várias épocas. Serão necessárias estratégias multidisciplinarmente mais abrangentes, redesenharmos e atualizarmos os modelos de cidade e de qualidade da vida urbana, numa atitude incontornavelmente concertada com os mais recentes avanços tecnológicos. Uma espécie de sistema híbrido de inteligência multifuncional muito mais alargado. É fundamental, fomentar a compreensão, a essência do que realmente significa a arquitetura e o papel que o arquiteto desempenha, quer na definição das estratégias a seguir, quer no desenho da cidade.
De uma forma genérica, sabemos que as primeiras povoações se desenvolveram de forma radial, como que de um organismo vivo se tratasse, visando dar respostas imediatas às primeiras necessidades do homem emocional, que com a necessidade de se socializar se tornou cada vez mais racional, como foi a vivência do espaço greco latino no mediterrâneo e os contágios de ordem muçulmana e cristã, seguida da transformação renascentista barroca e iluminista, do modernismo pré-industrial ao pós-industrial, aos tecidos urbanos mais ortogonais. Fatores de ordem neuropsifisiocológica, económica e socioantropológica que expressam uma determinada personalidade das cidades que não podem passar despercebidos.
As cidades clássicas cresceram assim, entre as linhas irregulares e sinuosas dadas pela emoção dos centros históricos e as linhas ortogonais dadas pela razão da vida suburbana, gerando-se uma espécie de fluxos e sensações de harmonia entre o passado e o presente, onde se criaram sentimentos e respeito pela memória, e com isso, sociedades que preservaram e dinamizaram os centros históricos até aos dias de hoje.
Em simultâneo, com o desenvolvimento económico e o crescimento das populações, criaram-se cidades novas ao estilo mais haussmaniano que levaram a ordem euclidiana, à expressão máxima da racionalidade urbana e ao aparecimento das megacidades. Surgiram sociedades mais desligadas do passado, muito menos emocionais e mais voltadas para si, resultantes dos modelos de cidade americanas. Sobrepovoaram-se cidades. Tornaram-se mais sensacionalistas e a arquitetura mais voltada para o aspeto, atraindo as grandes massas populacionais. Seduzindo e propagando-se um pouco por todo o mundo, com especial ênfase para o oriente, contagiando a vida da sociedade moderna a larga escala, constituindo hoje, uma grande preocupação.
Agilizaram-se processos urbanísticos e estratégias que minimizaram e resolveram muitas debilidades do passado, mas há imenso a fazer. Em pleno seculo XXI, as infraestruturas básicas ainda não estão asseguradas. Não obstante, o que foi feito pelo nosso ecossistema na preservação da natureza e criação de espaços verdes continuamos a privilegiar as infraestruturas de betão. A mobilidade urbana continua a ser feita pelos automóveis, apesar das grandes transformações ao nível dos transportes públicos eco sustentáveis, com todas as vantagens comprovadas para a neutralidade carbónica tão desejada.
Será necessário saber e compreender se o que está a acontecer ao nível da investigação científica em todas estas áreas é suficiente e sermos mais ambiciosos. Começando desde logo pelas Universidades, é importante criar estruturas que acompanhem as novas tendências face às exigências atuais do planeta. Os mais recentes avanços científicos apontam para a necessidade de uma multidisciplinaridade de várias áreas do saber. A pensar no mundo e no ser humano, sugiro uma abordagem arquitetónica e urbanística que integre o conhecimento das ciências humanas e biológicas em prol do bem-estar e da qualidade de vida.
A neuroarquitetura, já estudada por Harry Francis Mallgrave, que tive o privilégio de conhecer, bem como contar com os seus valiosos ensinamentos durante o meu trabalho de investigação, merecerá particular interesse neste processo. Sem esquecer ainda o precioso contributo do antropólogo americano Edward Hall, que introduziu o conceito de proxémia, para descrever os fatores de ordem psicológica das dimensões subjetivas e as diferentes distâncias físicas entre os seres humanos, bem como, os recentes avanços de natureza neuromórfica de Michael Airbib, com a incorporação de sistemas computacionais, baseados nos resultados das neurociências, que serão muito úteis para a reconfiguração de novos ambientes urbanos e dos edifícios do futuro ao ponto de questionar todo o desenho tradicional e os modelos de vida urbana atuais.
Imaginemos as futuras cidades, como entidades cognitivas, que se reconfiguram dinamicamente, ao nível dos transporte e mobiliário urbano como robots percetivos interagindo com os seus habitantes, ou seja, a cidade pensada como um “organismo dinâmico”, que envolve e condiciona a nossa forma de estar e sentir, permitindo definir as distâncias mensuráveis que melhor se ajustam aos comportamentos das pessoas. Avanços assinaláveis, aos quais não podemos ficar indiferentes.
Estes assuntos não passam à margem do que melhor se faz em investigação, mas demoram em sair das teorias para a utilidade prática. Existem ainda muitas resistências às mudanças por parte das instituições como de resto assistimos em muitas universidades portuguesas, quando vemos estruturas de cursos desajustadas ao que de melhor se produz em investigação, adiando a preparação de profissionais para o futuro.
Penso que nesta fase importa, apelar, sensibilizar e estimular o nosso olhar para a problemática atual sobre o que será a cidade do futuro. Fomentando a sua compreensão, ampliando o conhecimento, para melhorar o nosso sentido crítico relativamente ao estado atual das nossas cidades. Contribuindo e enriquecendo o exercício da arquitetura e do urbanismo, para uma maior sensibilidade e responsabilidade social.
Estando certo disto, assegurar-se-ão os padrões de qualidade de vida urbana que tanto desejamos e os novos tempos exigem, sem que se valorize o papel da arquitetura neste processo? Estarão os arquitetos preparados para o futuro? Estarão as nossas universidades preparadas para formar os profissionais do futuro? Terão os nossos governantes esta visão de futuro?
Publicado
Pedro Araújo Napoleão
Arquitecto - pan atelier
Pensar a cidade do futuro, num tempo em que se anuncia uma nova era “pós-pandémica” implica ir muito mais além dos atuais conceitos de cidade inteligente (ou smart city) que se têm limitado a olhar a cidade do ponto de vista da conetividade e eficiência dos seus recursos, que as tornarão mais sustentáveis com todas as vantagens conhecidas que as tecnologias digitais trazem para os cidadãos.
Urge repensar o processo arquitetónico e urbanístico nas suas múltiplas dimensões para que não passe à margem de nós mesmos. Estratégias corajosas com medidas ecológicas verdadeiramente efetivas na redução drástica da emissão de gases com efeito de estufa na nossa atmosfera, que visem o despovoamento das grandes metrópoles, o fim dos combustíveis fósseis e a alteração da nossa forma de viver, sob pena de muitas cidades se tornarem autênticas bombas-relógio, deixando o nosso planeta irremediavelmente sem solução.
Implicará, conhecermos profundamente cada cidade, compreendendo a sua história e a sua cultura, identificarmos fatores que permitam melhor interpretar a sua morfologia, como se foi transformando, ajudando-nos a entender o homem e os seus diferentes estilos de vida urbana ao longo das várias épocas. Serão necessárias estratégias multidisciplinarmente mais abrangentes, redesenharmos e atualizarmos os modelos de cidade e de qualidade da vida urbana, numa atitude incontornavelmente concertada com os mais recentes avanços tecnológicos. Uma espécie de sistema híbrido de inteligência multifuncional muito mais alargado. É fundamental, fomentar a compreensão, a essência do que realmente significa a arquitetura e o papel que o arquiteto desempenha, quer na definição das estratégias a seguir, quer no desenho da cidade.
De uma forma genérica, sabemos que as primeiras povoações se desenvolveram de forma radial, como que de um organismo vivo se tratasse, visando dar respostas imediatas às primeiras necessidades do homem emocional, que com a necessidade de se socializar se tornou cada vez mais racional, como foi a vivência do espaço greco latino no mediterrâneo e os contágios de ordem muçulmana e cristã, seguida da transformação renascentista barroca e iluminista, do modernismo pré-industrial ao pós-industrial, aos tecidos urbanos mais ortogonais. Fatores de ordem neuropsifisiocológica, económica e socioantropológica que expressam uma determinada personalidade das cidades que não podem passar despercebidos.
As cidades clássicas cresceram assim, entre as linhas irregulares e sinuosas dadas pela emoção dos centros históricos e as linhas ortogonais dadas pela razão da vida suburbana, gerando-se uma espécie de fluxos e sensações de harmonia entre o passado e o presente, onde se criaram sentimentos e respeito pela memória, e com isso, sociedades que preservaram e dinamizaram os centros históricos até aos dias de hoje.
Em simultâneo, com o desenvolvimento económico e o crescimento das populações, criaram-se cidades novas ao estilo mais haussmaniano que levaram a ordem euclidiana, à expressão máxima da racionalidade urbana e ao aparecimento das megacidades. Surgiram sociedades mais desligadas do passado, muito menos emocionais e mais voltadas para si, resultantes dos modelos de cidade americanas. Sobrepovoaram-se cidades. Tornaram-se mais sensacionalistas e a arquitetura mais voltada para o aspeto, atraindo as grandes massas populacionais. Seduzindo e propagando-se um pouco por todo o mundo, com especial ênfase para o oriente, contagiando a vida da sociedade moderna a larga escala, constituindo hoje, uma grande preocupação.
Agilizaram-se processos urbanísticos e estratégias que minimizaram e resolveram muitas debilidades do passado, mas há imenso a fazer. Em pleno seculo XXI, as infraestruturas básicas ainda não estão asseguradas. Não obstante, o que foi feito pelo nosso ecossistema na preservação da natureza e criação de espaços verdes continuamos a privilegiar as infraestruturas de betão. A mobilidade urbana continua a ser feita pelos automóveis, apesar das grandes transformações ao nível dos transportes públicos eco sustentáveis, com todas as vantagens comprovadas para a neutralidade carbónica tão desejada.
Será necessário saber e compreender se o que está a acontecer ao nível da investigação científica em todas estas áreas é suficiente e sermos mais ambiciosos. Começando desde logo pelas Universidades, é importante criar estruturas que acompanhem as novas tendências face às exigências atuais do planeta. Os mais recentes avanços científicos apontam para a necessidade de uma multidisciplinaridade de várias áreas do saber. A pensar no mundo e no ser humano, sugiro uma abordagem arquitetónica e urbanística que integre o conhecimento das ciências humanas e biológicas em prol do bem-estar e da qualidade de vida.
A neuroarquitetura, já estudada por Harry Francis Mallgrave, que tive o privilégio de conhecer, bem como contar com os seus valiosos ensinamentos durante o meu trabalho de investigação, merecerá particular interesse neste processo. Sem esquecer ainda o precioso contributo do antropólogo americano Edward Hall, que introduziu o conceito de proxémia, para descrever os fatores de ordem psicológica das dimensões subjetivas e as diferentes distâncias físicas entre os seres humanos, bem como, os recentes avanços de natureza neuromórfica de Michael Airbib, com a incorporação de sistemas computacionais, baseados nos resultados das neurociências, que serão muito úteis para a reconfiguração de novos ambientes urbanos e dos edifícios do futuro ao ponto de questionar todo o desenho tradicional e os modelos de vida urbana atuais.
Imaginemos as futuras cidades, como entidades cognitivas, que se reconfiguram dinamicamente, ao nível dos transporte e mobiliário urbano como robots percetivos interagindo com os seus habitantes, ou seja, a cidade pensada como um “organismo dinâmico”, que envolve e condiciona a nossa forma de estar e sentir, permitindo definir as distâncias mensuráveis que melhor se ajustam aos comportamentos das pessoas. Avanços assinaláveis, aos quais não podemos ficar indiferentes.
Estes assuntos não passam à margem do que melhor se faz em investigação, mas demoram em sair das teorias para a utilidade prática. Existem ainda muitas resistências às mudanças por parte das instituições como de resto assistimos em muitas universidades portuguesas, quando vemos estruturas de cursos desajustadas ao que de melhor se produz em investigação, adiando a preparação de profissionais para o futuro.
Penso que nesta fase importa, apelar, sensibilizar e estimular o nosso olhar para a problemática atual sobre o que será a cidade do futuro. Fomentando a sua compreensão, ampliando o conhecimento, para melhorar o nosso sentido crítico relativamente ao estado atual das nossas cidades. Contribuindo e enriquecendo o exercício da arquitetura e do urbanismo, para uma maior sensibilidade e responsabilidade social.
Estando certo disto, assegurar-se-ão os padrões de qualidade de vida urbana que tanto desejamos e os novos tempos exigem, sem que se valorize o papel da arquitetura neste processo? Estarão os arquitetos preparados para o futuro? Estarão as nossas universidades preparadas para formar os profissionais do futuro? Terão os nossos governantes esta visão de futuro?
Publicado
Pedro Araújo Napoleão
Arquitecto - pan atelier
Pensar a cidade do futuro, num tempo em que se anuncia uma nova era “pós-pandémica” implica ir muito mais além dos atuais conceitos de cidade inteligente (ou smart city) que se têm limitado a olhar a cidade do ponto de vista da conetividade e eficiência dos seus recursos, que as tornarão mais sustentáveis com todas as vantagens conhecidas que as tecnologias digitais trazem para os cidadãos.
Urge repensar o processo arquitetónico e urbanístico nas suas múltiplas dimensões para que não passe à margem de nós mesmos. Estratégias corajosas com medidas ecológicas verdadeiramente efetivas na redução drástica da emissão de gases com efeito de estufa na nossa atmosfera, que visem o despovoamento das grandes metrópoles, o fim dos combustíveis fósseis e a alteração da nossa forma de viver, sob pena de muitas cidades se tornarem autênticas bombas-relógio, deixando o nosso planeta irremediavelmente sem solução.
Implicará, conhecermos profundamente cada cidade, compreendendo a sua história e a sua cultura, identificarmos fatores que permitam melhor interpretar a sua morfologia, como se foi transformando, ajudando-nos a entender o homem e os seus diferentes estilos de vida urbana ao longo das várias épocas. Serão necessárias estratégias multidisciplinarmente mais abrangentes, redesenharmos e atualizarmos os modelos de cidade e de qualidade da vida urbana, numa atitude incontornavelmente concertada com os mais recentes avanços tecnológicos. Uma espécie de sistema híbrido de inteligência multifuncional muito mais alargado. É fundamental, fomentar a compreensão, a essência do que realmente significa a arquitetura e o papel que o arquiteto desempenha, quer na definição das estratégias a seguir, quer no desenho da cidade.
De uma forma genérica, sabemos que as primeiras povoações se desenvolveram de forma radial, como que de um organismo vivo se tratasse, visando dar respostas imediatas às primeiras necessidades do homem emocional, que com a necessidade de se socializar se tornou cada vez mais racional, como foi a vivência do espaço greco latino no mediterrâneo e os contágios de ordem muçulmana e cristã, seguida da transformação renascentista barroca e iluminista, do modernismo pré-industrial ao pós-industrial, aos tecidos urbanos mais ortogonais. Fatores de ordem neuropsifisiocológica, económica e socioantropológica que expressam uma determinada personalidade das cidades que não podem passar despercebidos.
As cidades clássicas cresceram assim, entre as linhas irregulares e sinuosas dadas pela emoção dos centros históricos e as linhas ortogonais dadas pela razão da vida suburbana, gerando-se uma espécie de fluxos e sensações de harmonia entre o passado e o presente, onde se criaram sentimentos e respeito pela memória, e com isso, sociedades que preservaram e dinamizaram os centros históricos até aos dias de hoje.
Em simultâneo, com o desenvolvimento económico e o crescimento das populações, criaram-se cidades novas ao estilo mais haussmaniano que levaram a ordem euclidiana, à expressão máxima da racionalidade urbana e ao aparecimento das megacidades. Surgiram sociedades mais desligadas do passado, muito menos emocionais e mais voltadas para si, resultantes dos modelos de cidade americanas. Sobrepovoaram-se cidades. Tornaram-se mais sensacionalistas e a arquitetura mais voltada para o aspeto, atraindo as grandes massas populacionais. Seduzindo e propagando-se um pouco por todo o mundo, com especial ênfase para o oriente, contagiando a vida da sociedade moderna a larga escala, constituindo hoje, uma grande preocupação.
Agilizaram-se processos urbanísticos e estratégias que minimizaram e resolveram muitas debilidades do passado, mas há imenso a fazer. Em pleno seculo XXI, as infraestruturas básicas ainda não estão asseguradas. Não obstante, o que foi feito pelo nosso ecossistema na preservação da natureza e criação de espaços verdes continuamos a privilegiar as infraestruturas de betão. A mobilidade urbana continua a ser feita pelos automóveis, apesar das grandes transformações ao nível dos transportes públicos eco sustentáveis, com todas as vantagens comprovadas para a neutralidade carbónica tão desejada.
Será necessário saber e compreender se o que está a acontecer ao nível da investigação científica em todas estas áreas é suficiente e sermos mais ambiciosos. Começando desde logo pelas Universidades, é importante criar estruturas que acompanhem as novas tendências face às exigências atuais do planeta. Os mais recentes avanços científicos apontam para a necessidade de uma multidisciplinaridade de várias áreas do saber. A pensar no mundo e no ser humano, sugiro uma abordagem arquitetónica e urbanística que integre o conhecimento das ciências humanas e biológicas em prol do bem-estar e da qualidade de vida.
A neuroarquitetura, já estudada por Harry Francis Mallgrave, que tive o privilégio de conhecer, bem como contar com os seus valiosos ensinamentos durante o meu trabalho de investigação, merecerá particular interesse neste processo. Sem esquecer ainda o precioso contributo do antropólogo americano Edward Hall, que introduziu o conceito de proxémia, para descrever os fatores de ordem psicológica das dimensões subjetivas e as diferentes distâncias físicas entre os seres humanos, bem como, os recentes avanços de natureza neuromórfica de Michael Airbib, com a incorporação de sistemas computacionais, baseados nos resultados das neurociências, que serão muito úteis para a reconfiguração de novos ambientes urbanos e dos edifícios do futuro ao ponto de questionar todo o desenho tradicional e os modelos de vida urbana atuais.
Imaginemos as futuras cidades, como entidades cognitivas, que se reconfiguram dinamicamente, ao nível dos transporte e mobiliário urbano como robots percetivos interagindo com os seus habitantes, ou seja, a cidade pensada como um “organismo dinâmico”, que envolve e condiciona a nossa forma de estar e sentir, permitindo definir as distâncias mensuráveis que melhor se ajustam aos comportamentos das pessoas. Avanços assinaláveis, aos quais não podemos ficar indiferentes.
Estes assuntos não passam à margem do que melhor se faz em investigação, mas demoram em sair das teorias para a utilidade prática. Existem ainda muitas resistências às mudanças por parte das instituições como de resto assistimos em muitas universidades portuguesas, quando vemos estruturas de cursos desajustadas ao que de melhor se produz em investigação, adiando a preparação de profissionais para o futuro.
Penso que nesta fase importa, apelar, sensibilizar e estimular o nosso olhar para a problemática atual sobre o que será a cidade do futuro. Fomentando a sua compreensão, ampliando o conhecimento, para melhorar o nosso sentido crítico relativamente ao estado atual das nossas cidades. Contribuindo e enriquecendo o exercício da arquitetura e do urbanismo, para uma maior sensibilidade e responsabilidade social.
Estando certo disto, assegurar-se-ão os padrões de qualidade de vida urbana que tanto desejamos e os novos tempos exigem, sem que se valorize o papel da arquitetura neste processo? Estarão os arquitetos preparados para o futuro? Estarão as nossas universidades preparadas para formar os profissionais do futuro? Terão os nossos governantes esta visão de futuro?