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OPINIÃO: Menos “paisagismo”, por favor!

Categoria:  Artigos de Opinião

Publicado

GonçaloGomes so online

GonçaloGomes

Gonçalo Duarte Gomes

APAP n.º 746

Substituto da Direcção, Delegado do Distrito de Faro e representante da APAP na Comissão de Acompanhamento da Política Nacional de Arquitectura e Paisagem

A crescente – e aparentemente inexorável – tendência de concentração da população em urbes altamente artificializadas acarreta os seus custos, sendo talvez o mais crítico, o distanciamento em relação à terra, senso lato. De facto, quanto mais urbana a vida, mais afastada da essência telúrica que está inscrita na nossa matriz genética.

Espaços naturalizados, como jardins ou áreas não edificadas em que a vegetação original permanece intacta no tecido urbano, são uma forma de manter algumas dessas raízes telúricas, relevantes não apenas para a salubridade ambiental, mas também para a componente psicológica do ser humano, sobre a qual o impacto da artificialização é relevante ao ponto de existirem já indicadores consolidados que a relacionam directamente com uma maior prevalência de sintomas depressivos e tendências suicidas.

À norma e padrão do espaço urbano, os espaços naturalizados oferecem um contraponto, funcionando como “muleta” de equilíbrio psíquico e elementos de descompressão, libertação e desafogo, a par das suas funções de enquadramento, estética e lazer, que se juntam às valências ecológicas.

Destas, destaque para a regulação térmica, de circulação das massas de ar e microclimática, bem como de humidade e radiações solares, garantindo ainda permeabilidade e infiltração de águas.

Não menos importante, a absorção de dióxido de carbono e o aumento do teor de oxigénio graças à vegetação, para além da fixação de poeiras atmosféricas e poluentes, mitigando também o ruído.

A fluidez dos ciclos vitais da água e do carbono nas urbes depende da continuidade das estruturas fundamentais da paisagem no seu interior, abrindo as suas “fronteiras”: preservando solo livre, preservando a presença da água, do ar e da biodiversidade.

Num tempo de fenómenos climáticos extremos, que se apresentam com crescente frequência e intensidade, negligenciar o enquadramento das malhas urbanas nos sistemas fundamentais da paisagem é como cuidar da caixilharia num prédio em ruínas: o pormenor tem qualidade, mas as patologias estruturais persistem e tendencialmente agravam-se, com risco associado.

As respostas a tais desafios alicerçam-se não em exercícios cosméticos de oco “paisagismo”, mas antes no sólido fundamento da especialidade técnica da Arquitectura Paisagista, que, mais do que desenhar ou “arranjar” espaços, verdadeira e consequentemente os planifica e projecta,

com materiais vivos e inertes, ligados pelo tempo e sentido de perenidade, concretizando à escala humana o continuum naturale que a sustenta.

Assim se queira investir no futuro.

Nota: O Autor escreve segundo o antigo Acordo Ortográfico.

Anteprojectos online é uma ferramenta de consulta diária, que lhe permite deter o conhecimento antecipado do que serão as futuras obras!

Contacto

Ângela Leitão

aleitao@anteprojectos.com.pt

Directora Geral

Av. Álvares Cabral, nº 61, 6º andar | 1250-017 Lisboa

Telefone 211 308 758 / 966 863 541

OPINIÃO: Menos “paisagismo”, por favor!

Categoria:  Artigos de Opinião

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Gonçalo Duarte Gomes

APAP n.º 746

Substituto da Direcção, Delegado do Distrito de Faro e representante da APAP na Comissão de Acompanhamento da Política Nacional de Arquitectura e Paisagem

A crescente – e aparentemente inexorável – tendência de concentração da população em urbes altamente artificializadas acarreta os seus custos, sendo talvez o mais crítico, o distanciamento em relação à terra, senso lato. De facto, quanto mais urbana a vida, mais afastada da essência telúrica que está inscrita na nossa matriz genética.

Espaços naturalizados, como jardins ou áreas não edificadas em que a vegetação original permanece intacta no tecido urbano, são uma forma de manter algumas dessas raízes telúricas, relevantes não apenas para a salubridade ambiental, mas também para a componente psicológica do ser humano, sobre a qual o impacto da artificialização é relevante ao ponto de existirem já indicadores consolidados que a relacionam directamente com uma maior prevalência de sintomas depressivos e tendências suicidas.

À norma e padrão do espaço urbano, os espaços naturalizados oferecem um contraponto, funcionando como “muleta” de equilíbrio psíquico e elementos de descompressão, libertação e desafogo, a par das suas funções de enquadramento, estética e lazer, que se juntam às valências ecológicas.

Destas, destaque para a regulação térmica, de circulação das massas de ar e microclimática, bem como de humidade e radiações solares, garantindo ainda permeabilidade e infiltração de águas.

Não menos importante, a absorção de dióxido de carbono e o aumento do teor de oxigénio graças à vegetação, para além da fixação de poeiras atmosféricas e poluentes, mitigando também o ruído.

A fluidez dos ciclos vitais da água e do carbono nas urbes depende da continuidade das estruturas fundamentais da paisagem no seu interior, abrindo as suas “fronteiras”: preservando solo livre, preservando a presença da água, do ar e da biodiversidade.

Num tempo de fenómenos climáticos extremos, que se apresentam com crescente frequência e intensidade, negligenciar o enquadramento das malhas urbanas nos sistemas fundamentais da paisagem é como cuidar da caixilharia num prédio em ruínas: o pormenor tem qualidade, mas as patologias estruturais persistem e tendencialmente agravam-se, com risco associado.

As respostas a tais desafios alicerçam-se não em exercícios cosméticos de oco “paisagismo”, mas antes no sólido fundamento da especialidade técnica da Arquitectura Paisagista, que, mais do que desenhar ou “arranjar” espaços, verdadeira e consequentemente os planifica e projecta,

com materiais vivos e inertes, ligados pelo tempo e sentido de perenidade, concretizando à escala humana o continuum naturale que a sustenta.

Assim se queira investir no futuro.

Nota: O Autor escreve segundo o antigo Acordo Ortográfico.

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Substituto da Direcção, Delegado do Distrito de Faro e representante da APAP na Comissão de Acompanhamento da Política Nacional de Arquitectura e Paisagem

A crescente – e aparentemente inexorável – tendência de concentração da população em urbes altamente artificializadas acarreta os seus custos, sendo talvez o mais crítico, o distanciamento em relação à terra, senso lato. De facto, quanto mais urbana a vida, mais afastada da essência telúrica que está inscrita na nossa matriz genética.

Espaços naturalizados, como jardins ou áreas não edificadas em que a vegetação original permanece intacta no tecido urbano, são uma forma de manter algumas dessas raízes telúricas, relevantes não apenas para a salubridade ambiental, mas também para a componente psicológica do ser humano, sobre a qual o impacto da artificialização é relevante ao ponto de existirem já indicadores consolidados que a relacionam directamente com uma maior prevalência de sintomas depressivos e tendências suicidas.

À norma e padrão do espaço urbano, os espaços naturalizados oferecem um contraponto, funcionando como “muleta” de equilíbrio psíquico e elementos de descompressão, libertação e desafogo, a par das suas funções de enquadramento, estética e lazer, que se juntam às valências ecológicas.

Destas, destaque para a regulação térmica, de circulação das massas de ar e microclimática, bem como de humidade e radiações solares, garantindo ainda permeabilidade e infiltração de águas.

Não menos importante, a absorção de dióxido de carbono e o aumento do teor de oxigénio graças à vegetação, para além da fixação de poeiras atmosféricas e poluentes, mitigando também o ruído.

A fluidez dos ciclos vitais da água e do carbono nas urbes depende da continuidade das estruturas fundamentais da paisagem no seu interior, abrindo as suas “fronteiras”: preservando solo livre, preservando a presença da água, do ar e da biodiversidade.

Num tempo de fenómenos climáticos extremos, que se apresentam com crescente frequência e intensidade, negligenciar o enquadramento das malhas urbanas nos sistemas fundamentais da paisagem é como cuidar da caixilharia num prédio em ruínas: o pormenor tem qualidade, mas as patologias estruturais persistem e tendencialmente agravam-se, com risco associado.

As respostas a tais desafios alicerçam-se não em exercícios cosméticos de oco “paisagismo”, mas antes no sólido fundamento da especialidade técnica da Arquitectura Paisagista, que, mais do que desenhar ou “arranjar” espaços, verdadeira e consequentemente os planifica e projecta,

com materiais vivos e inertes, ligados pelo tempo e sentido de perenidade, concretizando à escala humana o continuum naturale que a sustenta.

Assim se queira investir no futuro.

Nota: O Autor escreve segundo o antigo Acordo Ortográfico.