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Publicado
Paulo Vila Verde
ARQUITECTO - INQUIETUDE ARQUITETURA
Tem-se entendido que a história da arquitetura portuguesa do último século tende a resumir-se a um núcleo recorrente de figuras, dando-lhes palco na história, mas deixando outras, talvez igualmente importantes, remetidas aos bastidores das atuais narrativas. Porém, mesmo nos históricos amplamente estudados conseguimos encontrar lacunas dificilmente retratadas na bibliografia ou por vezes nem sequer referenciadas, tornando-as como inexistentes.
Um nome amplamente estudado e presente numa vasta bibliografia é o do arquiteto Raul Lino, autor de obra de grande relevância histórica, forçando, defendendo e impulsionando a linguagem arquitetónica a um estilo português idílico e poético mesmo quando os ventos de mudança se faziam sentir alinhados ao modernismo europeu, algum dele desenraizado pela sua extrema depuração e mecanização do método de estar e viver.
Todavia, surgem diversos projetos não refletidos nos estudos feitos sobre a sua obra, muitos não construídos, mas que são reflexos intrínsecos do homem e do arquiteto, promovendo assim fragilidades no conhecimento abundantemente difundido e no seu real contributo. Constata-se facilmente que alguns destes projetos nem sequer figuram na listagem da sua produção.
Estes diversos casos existem fora do país, como em Moçambique, mais concretamente na cidade da Beira, mas também a norte de Portugal, nomeadamente no Porto, Viana do Castelo, Ponte de Lima ou até, mais a norte, Caminha. E são estes apenas alguns exemplos e outros certamente existirão permanecendo esquecidos.
Concentrando a norte de Portugal, sabe-se que o arquiteto é autor da Casa Dr. João de Almeida na Rua Ciríaco Cardoso no Porto que se encontra em estado devoluto e ameaçada pela nova construção no seu entorno. Uma obra cuja gravura surge no seu livro “Casas Portuguesas – Alguns apontamentos sobre o arquitectar das casas simples” do ano de 1954 e que tem vindo a ser abordada desde a sua descoberta no ano de 2008 por José Pedro Tenreiro referindo-se a ela na sua tese “O Grupo ODAM – A construção do Racionalismo Portuense”.
Longe do conhecimento difundido, pode-se referir também o Projeto de Urbanização da Vila de Caminha que Raul Lino desenvolveu entre 1948 a 1952, tendo nesse mesmo ano rescindido o seu vínculo contratual com o município após o seu pedido de “escusa do cumprimento das obrigações”. Contudo julga-se não existir o trabalho produzido nestes 4 anos, não se sabendo da sua profundidade nem surgindo referenciado.
Um outro caso, também no Alto Minho, normalmente não aludido e cuja documentação se encontra arquivada na Fundação Calouste Gulbenkian é o projeto de reabilitação do Solar do Dr. Luiz Malheiro de Távora em Vitorino das Donas, Ponte de Lima. Um caso identificável com o edifício pré-existente, mas que na realidade acaba por não se converter em obra. Curiosamente pode observar-se o conjunto do muro principal e portão à face da estrada, ainda existente aos dias de hoje, e que respeita a solução preconizada por Raul Lino.
Também neste espólio podem ser encontrados projetos seus na cidade da Beira em Moçambique, nomeadamente o Paço Episcopal no ano de 1944 ou o Palácio do Representante do Governo, mas que nenhum dos edifícios sairia do papel. Estes projetos são elaborados justamente aquando do desenvolvimento do anteplano de urbanismo daquela cidade pelas mãos do arquiteto modernista José Luiz Porto, natural de Vilar de Mouros. Um outro importante nome completamente esquecido nos parágrafos da história!
Observando estes meros exemplos e percebendo o seu esquecimento nas monografias dedicadas, conclui-se que o estudo aplicado às figuras sobejamente reconhecidas não refletem a globalidade dos dados encontrados ou procurados, resumindo-se por vezes ao estudo de obras ou épocas especificas, repetindo-se e sistematizando-se recorrentemente. Constata-se também que o estudo dos nomes que figuram na história
remetem-se a um universo reduzido mantendo na obscuridão outros nomes de relevante importância que, inclusive, se cruzam em diversos momentos. Esses nomes esquecidos têm de ser obrigatoriamente procurados, descobertos e investigados, garantindo e produzindo uma maior diversidade de dados e abrangência histórica.
Esta pessoal reflexão constrói a crença de que não se deve circunscrever a história a um punhado de nomes regularmente estudados, remetendo outras figuras e dados ao desvanecimento dos tempos. A história escreve-se com a riqueza e amplitude de dados constantemente descobertos e encadeados, sendo redutora se assim não for.
Publicado
Paulo Vila Verde
ARQUITECTO - INQUIETUDE ARQUITETURA
Tem-se entendido que a história da arquitetura portuguesa do último século tende a resumir-se a um núcleo recorrente de figuras, dando-lhes palco na história, mas deixando outras, talvez igualmente importantes, remetidas aos bastidores das atuais narrativas. Porém, mesmo nos históricos amplamente estudados conseguimos encontrar lacunas dificilmente retratadas na bibliografia ou por vezes nem sequer referenciadas, tornando-as como inexistentes.
Um nome amplamente estudado e presente numa vasta bibliografia é o do arquiteto Raul Lino, autor de obra de grande relevância histórica, forçando, defendendo e impulsionando a linguagem arquitetónica a um estilo português idílico e poético mesmo quando os ventos de mudança se faziam sentir alinhados ao modernismo europeu, algum dele desenraizado pela sua extrema depuração e mecanização do método de estar e viver.
Todavia, surgem diversos projetos não refletidos nos estudos feitos sobre a sua obra, muitos não construídos, mas que são reflexos intrínsecos do homem e do arquiteto, promovendo assim fragilidades no conhecimento abundantemente difundido e no seu real contributo. Constata-se facilmente que alguns destes projetos nem sequer figuram na listagem da sua produção.
Estes diversos casos existem fora do país, como em Moçambique, mais concretamente na cidade da Beira, mas também a norte de Portugal, nomeadamente no Porto, Viana do Castelo, Ponte de Lima ou até, mais a norte, Caminha. E são estes apenas alguns exemplos e outros certamente existirão permanecendo esquecidos.
Concentrando a norte de Portugal, sabe-se que o arquiteto é autor da Casa Dr. João de Almeida na Rua Ciríaco Cardoso no Porto que se encontra em estado devoluto e ameaçada pela nova construção no seu entorno. Uma obra cuja gravura surge no seu livro “Casas Portuguesas – Alguns apontamentos sobre o arquitectar das casas simples” do ano de 1954 e que tem vindo a ser abordada desde a sua descoberta no ano de 2008 por José Pedro Tenreiro referindo-se a ela na sua tese “O Grupo ODAM – A construção do Racionalismo Portuense”.
Longe do conhecimento difundido, pode-se referir também o Projeto de Urbanização da Vila de Caminha que Raul Lino desenvolveu entre 1948 a 1952, tendo nesse mesmo ano rescindido o seu vínculo contratual com o município após o seu pedido de “escusa do cumprimento das obrigações”. Contudo julga-se não existir o trabalho produzido nestes 4 anos, não se sabendo da sua profundidade nem surgindo referenciado.
Um outro caso, também no Alto Minho, normalmente não aludido e cuja documentação se encontra arquivada na Fundação Calouste Gulbenkian é o projeto de reabilitação do Solar do Dr. Luiz Malheiro de Távora em Vitorino das Donas, Ponte de Lima. Um caso identificável com o edifício pré-existente, mas que na realidade acaba por não se converter em obra. Curiosamente pode observar-se o conjunto do muro principal e portão à face da estrada, ainda existente aos dias de hoje, e que respeita a solução preconizada por Raul Lino.
Também neste espólio podem ser encontrados projetos seus na cidade da Beira em Moçambique, nomeadamente o Paço Episcopal no ano de 1944 ou o Palácio do Representante do Governo, mas que nenhum dos edifícios sairia do papel. Estes projetos são elaborados justamente aquando do desenvolvimento do anteplano de urbanismo daquela cidade pelas mãos do arquiteto modernista José Luiz Porto, natural de Vilar de Mouros. Um outro importante nome completamente esquecido nos parágrafos da história!
Observando estes meros exemplos e percebendo o seu esquecimento nas monografias dedicadas, conclui-se que o estudo aplicado às figuras sobejamente reconhecidas não refletem a globalidade dos dados encontrados ou procurados, resumindo-se por vezes ao estudo de obras ou épocas especificas, repetindo-se e sistematizando-se recorrentemente. Constata-se também que o estudo dos nomes que figuram na história
remetem-se a um universo reduzido mantendo na obscuridão outros nomes de relevante importância que, inclusive, se cruzam em diversos momentos. Esses nomes esquecidos têm de ser obrigatoriamente procurados, descobertos e investigados, garantindo e produzindo uma maior diversidade de dados e abrangência histórica.
Esta pessoal reflexão constrói a crença de que não se deve circunscrever a história a um punhado de nomes regularmente estudados, remetendo outras figuras e dados ao desvanecimento dos tempos. A história escreve-se com a riqueza e amplitude de dados constantemente descobertos e encadeados, sendo redutora se assim não for.
Publicado
Paulo Vila Verde
ARQUITECTO - INQUIETUDE ARQUITETURA
Tem-se entendido que a história da arquitetura portuguesa do último século tende a resumir-se a um núcleo recorrente de figuras, dando-lhes palco na história, mas deixando outras, talvez igualmente importantes, remetidas aos bastidores das atuais narrativas. Porém, mesmo nos históricos amplamente estudados conseguimos encontrar lacunas dificilmente retratadas na bibliografia ou por vezes nem sequer referenciadas, tornando-as como inexistentes.
Um nome amplamente estudado e presente numa vasta bibliografia é o do arquiteto Raul Lino, autor de obra de grande relevância histórica, forçando, defendendo e impulsionando a linguagem arquitetónica a um estilo português idílico e poético mesmo quando os ventos de mudança se faziam sentir alinhados ao modernismo europeu, algum dele desenraizado pela sua extrema depuração e mecanização do método de estar e viver.
Todavia, surgem diversos projetos não refletidos nos estudos feitos sobre a sua obra, muitos não construídos, mas que são reflexos intrínsecos do homem e do arquiteto, promovendo assim fragilidades no conhecimento abundantemente difundido e no seu real contributo. Constata-se facilmente que alguns destes projetos nem sequer figuram na listagem da sua produção.
Estes diversos casos existem fora do país, como em Moçambique, mais concretamente na cidade da Beira, mas também a norte de Portugal, nomeadamente no Porto, Viana do Castelo, Ponte de Lima ou até, mais a norte, Caminha. E são estes apenas alguns exemplos e outros certamente existirão permanecendo esquecidos.
Concentrando a norte de Portugal, sabe-se que o arquiteto é autor da Casa Dr. João de Almeida na Rua Ciríaco Cardoso no Porto que se encontra em estado devoluto e ameaçada pela nova construção no seu entorno. Uma obra cuja gravura surge no seu livro “Casas Portuguesas – Alguns apontamentos sobre o arquitectar das casas simples” do ano de 1954 e que tem vindo a ser abordada desde a sua descoberta no ano de 2008 por José Pedro Tenreiro referindo-se a ela na sua tese “O Grupo ODAM – A construção do Racionalismo Portuense”.
Longe do conhecimento difundido, pode-se referir também o Projeto de Urbanização da Vila de Caminha que Raul Lino desenvolveu entre 1948 a 1952, tendo nesse mesmo ano rescindido o seu vínculo contratual com o município após o seu pedido de “escusa do cumprimento das obrigações”. Contudo julga-se não existir o trabalho produzido nestes 4 anos, não se sabendo da sua profundidade nem surgindo referenciado.
Um outro caso, também no Alto Minho, normalmente não aludido e cuja documentação se encontra arquivada na Fundação Calouste Gulbenkian é o projeto de reabilitação do Solar do Dr. Luiz Malheiro de Távora em Vitorino das Donas, Ponte de Lima. Um caso identificável com o edifício pré-existente, mas que na realidade acaba por não se converter em obra. Curiosamente pode observar-se o conjunto do muro principal e portão à face da estrada, ainda existente aos dias de hoje, e que respeita a solução preconizada por Raul Lino.
Também neste espólio podem ser encontrados projetos seus na cidade da Beira em Moçambique, nomeadamente o Paço Episcopal no ano de 1944 ou o Palácio do Representante do Governo, mas que nenhum dos edifícios sairia do papel. Estes projetos são elaborados justamente aquando do desenvolvimento do anteplano de urbanismo daquela cidade pelas mãos do arquiteto modernista José Luiz Porto, natural de Vilar de Mouros. Um outro importante nome completamente esquecido nos parágrafos da história!
Observando estes meros exemplos e percebendo o seu esquecimento nas monografias dedicadas, conclui-se que o estudo aplicado às figuras sobejamente reconhecidas não refletem a globalidade dos dados encontrados ou procurados, resumindo-se por vezes ao estudo de obras ou épocas especificas, repetindo-se e sistematizando-se recorrentemente. Constata-se também que o estudo dos nomes que figuram na história
remetem-se a um universo reduzido mantendo na obscuridão outros nomes de relevante importância que, inclusive, se cruzam em diversos momentos. Esses nomes esquecidos têm de ser obrigatoriamente procurados, descobertos e investigados, garantindo e produzindo uma maior diversidade de dados e abrangência histórica.
Esta pessoal reflexão constrói a crença de que não se deve circunscrever a história a um punhado de nomes regularmente estudados, remetendo outras figuras e dados ao desvanecimento dos tempos. A história escreve-se com a riqueza e amplitude de dados constantemente descobertos e encadeados, sendo redutora se assim não for.