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A Tiago do Vale Arquitectos acabou de ser duplamente distinguida na quarta edição do Prémio Internacional de Arquitectura de Baku, Azerbeijão.
O Baku International Architecture Award é um prémio bienal organizado pelo Ministério da Cultura da República do Azerbaijão. A edição deste ano, integrada no programa do Fórum Internacional de Arquitectura, focou-se sobre os temas da reabilitação e reconstrução de património arquitectónico.
O Chalé das Três Esquinas foi galardoado com o Primeiro Prémio da categoria de Recuperação de Interiores Históricos.
É um edifício único, documentando a história e a diáspora da região onde se insere e combinando a arquitectura e o desenho urbano portugueses do século XIX com uma inesperada influência alpina. Esta influência chega ao país por via de uma vaga histórica de portugueses regressados do Brasil, influenciados pela cultura centro-europeia, dominante no contexto da segunda revolução industrial brasileira.
Concebido como um anexo ao pequeno palácio a que encosta, e situado no coração das muralhas romanas e medievais de Braga, este é um edifício particularmente ensolarado, com duas frentes, uma voltada para a rua a Oeste e outra voltada para um agradável e valorizado pátio de interior de quarteirão a Este, desfrutando de luz natural ao longo de todo o dia.
A identidade do edifício, no entanto, perdeu-se em 120 anos de pequenas intervenções não qualificadas, resultando numa sobre-compartimentação que o encerrou para a rua e para a luz.
A sua fachada foi igualmente adulterada: caixilharia moderna em alumínio e caixas de estore exteriores modificaram a estereotomia dos vãos, a escala do edifício e dos seus detalhes, rompendo com a leitura original da rua.
O Espigueiro-Pombal do Cruzeiro foi distinguido com uma Menção Honrosa na categoria de Reabilitação e Reconstrução de Edifícios Históricos.
As suas raízes são modestas, embora inesperadamente pragmáticas, criativas e sofisticadas no seu desenho e soluções: é uma pequena jóia da arquitectura vernacular minhota.
Construída originalmente no final do século XIX, o seu ponto de partida foram dois espigueiros tradicionais sobre bases graníticas. Uma cobertura comum reuniu-os, debaixo da qual se deu forma a um pombal. Finalmente, o espaço entre ambos os espigueiros usou-se para a secagem de cereais, com dois grandes painéis basculantes controlando a ventilação.
Este desenho notável resulta da combinação invulgar mas inteligente de três tipologias vernaculares bastante comuns (espigueiro, pombal, coberto de secagem) que fazem ainda parte do nosso imaginário colectivo. A sua execução, no entanto, não foi isenta de problemas.
Construído em madeira de carvalho, a estrutura foi sub-dimensionada para as necessidades da construção e, sem manutenção adequada durante grande parte da sua vida, a madeira rapidamente decaiu: embora mantida em pé por cabos de aço esticados a partir de árvores vizinhas era já irrecuperável.
As peças de madeira apodrecida, mesmo assim, permitiram a documentação integral do desenho e das técnicas construtivas do edifício tal como era até perder o seu uso, abrindo portas para uma reconstrução peça a peça, tal como o Ise Jingu se reconstrói a cada 20 anos no Japão, mas aqui à escala do norte rural português, preservando um interessante documento construído vernacular e, no processo, alimentando e alimentando-se do conhecimento tradicional dos artesãos locais.
A matriz deste projecto conformou-se numa reconstrução estrita a que se somou o requisito da intervenção mais ínfima que o tornasse utilizável, permitindo as ligações mínimas necessárias dentro e fora.
Estas humildes construções estão em rápido desaparecimento: actualmente sem utilização e aparentemente sem potencial para transformação, são silenciosamente desmanteladas. Caem vítimas da sua frágil materialidade e da falta de reconhecimento do seu significado cultural e patrimonial. Não se lhes reconhece valor suficiente para estudo ou documentação sistemática: logo que desapareçam, nunca existiram.
Este exercício procura ilustrar que estas construções podem produzir experiências espaciais de grande qualidade, mantendo vivos documentos construídos de uma arquitectura popular muito especial, recorrendo a recursos e conhecimentos locais e tornando-os pertinentes mesmo depois do seu uso agrícola ter terminado.
O Espigueiro-Pombal do Cruzeiro é agora um santuário entre as copas das árvores, uma forma icónica na paisagem rural minhota, e a experiência das sombras bruxuleantes das ramas, da brisa suave que o cruza e dos chilreares nos finais de tarde estivais define, por inteiro, o seu novo propósito, função e uso.
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A Tiago do Vale Arquitectos acabou de ser duplamente distinguida na quarta edição do Prémio Internacional de Arquitectura de Baku, Azerbeijão.
O Baku International Architecture Award é um prémio bienal organizado pelo Ministério da Cultura da República do Azerbaijão. A edição deste ano, integrada no programa do Fórum Internacional de Arquitectura, focou-se sobre os temas da reabilitação e reconstrução de património arquitectónico.
O Chalé das Três Esquinas foi galardoado com o Primeiro Prémio da categoria de Recuperação de Interiores Históricos.
É um edifício único, documentando a história e a diáspora da região onde se insere e combinando a arquitectura e o desenho urbano portugueses do século XIX com uma inesperada influência alpina. Esta influência chega ao país por via de uma vaga histórica de portugueses regressados do Brasil, influenciados pela cultura centro-europeia, dominante no contexto da segunda revolução industrial brasileira.
Concebido como um anexo ao pequeno palácio a que encosta, e situado no coração das muralhas romanas e medievais de Braga, este é um edifício particularmente ensolarado, com duas frentes, uma voltada para a rua a Oeste e outra voltada para um agradável e valorizado pátio de interior de quarteirão a Este, desfrutando de luz natural ao longo de todo o dia.
A identidade do edifício, no entanto, perdeu-se em 120 anos de pequenas intervenções não qualificadas, resultando numa sobre-compartimentação que o encerrou para a rua e para a luz.
A sua fachada foi igualmente adulterada: caixilharia moderna em alumínio e caixas de estore exteriores modificaram a estereotomia dos vãos, a escala do edifício e dos seus detalhes, rompendo com a leitura original da rua.
O Espigueiro-Pombal do Cruzeiro foi distinguido com uma Menção Honrosa na categoria de Reabilitação e Reconstrução de Edifícios Históricos.
As suas raízes são modestas, embora inesperadamente pragmáticas, criativas e sofisticadas no seu desenho e soluções: é uma pequena jóia da arquitectura vernacular minhota.
Construída originalmente no final do século XIX, o seu ponto de partida foram dois espigueiros tradicionais sobre bases graníticas. Uma cobertura comum reuniu-os, debaixo da qual se deu forma a um pombal. Finalmente, o espaço entre ambos os espigueiros usou-se para a secagem de cereais, com dois grandes painéis basculantes controlando a ventilação.
Este desenho notável resulta da combinação invulgar mas inteligente de três tipologias vernaculares bastante comuns (espigueiro, pombal, coberto de secagem) que fazem ainda parte do nosso imaginário colectivo. A sua execução, no entanto, não foi isenta de problemas.
Construído em madeira de carvalho, a estrutura foi sub-dimensionada para as necessidades da construção e, sem manutenção adequada durante grande parte da sua vida, a madeira rapidamente decaiu: embora mantida em pé por cabos de aço esticados a partir de árvores vizinhas era já irrecuperável.
As peças de madeira apodrecida, mesmo assim, permitiram a documentação integral do desenho e das técnicas construtivas do edifício tal como era até perder o seu uso, abrindo portas para uma reconstrução peça a peça, tal como o Ise Jingu se reconstrói a cada 20 anos no Japão, mas aqui à escala do norte rural português, preservando um interessante documento construído vernacular e, no processo, alimentando e alimentando-se do conhecimento tradicional dos artesãos locais.
A matriz deste projecto conformou-se numa reconstrução estrita a que se somou o requisito da intervenção mais ínfima que o tornasse utilizável, permitindo as ligações mínimas necessárias dentro e fora.
Estas humildes construções estão em rápido desaparecimento: actualmente sem utilização e aparentemente sem potencial para transformação, são silenciosamente desmanteladas. Caem vítimas da sua frágil materialidade e da falta de reconhecimento do seu significado cultural e patrimonial. Não se lhes reconhece valor suficiente para estudo ou documentação sistemática: logo que desapareçam, nunca existiram.
Este exercício procura ilustrar que estas construções podem produzir experiências espaciais de grande qualidade, mantendo vivos documentos construídos de uma arquitectura popular muito especial, recorrendo a recursos e conhecimentos locais e tornando-os pertinentes mesmo depois do seu uso agrícola ter terminado.
O Espigueiro-Pombal do Cruzeiro é agora um santuário entre as copas das árvores, uma forma icónica na paisagem rural minhota, e a experiência das sombras bruxuleantes das ramas, da brisa suave que o cruza e dos chilreares nos finais de tarde estivais define, por inteiro, o seu novo propósito, função e uso.
Publicado
A Tiago do Vale Arquitectos acabou de ser duplamente distinguida na quarta edição do Prémio Internacional de Arquitectura de Baku, Azerbeijão.
O Baku International Architecture Award é um prémio bienal organizado pelo Ministério da Cultura da República do Azerbaijão. A edição deste ano, integrada no programa do Fórum Internacional de Arquitectura, focou-se sobre os temas da reabilitação e reconstrução de património arquitectónico.
O Chalé das Três Esquinas foi galardoado com o Primeiro Prémio da categoria de Recuperação de Interiores Históricos.
É um edifício único, documentando a história e a diáspora da região onde se insere e combinando a arquitectura e o desenho urbano portugueses do século XIX com uma inesperada influência alpina. Esta influência chega ao país por via de uma vaga histórica de portugueses regressados do Brasil, influenciados pela cultura centro-europeia, dominante no contexto da segunda revolução industrial brasileira.
Concebido como um anexo ao pequeno palácio a que encosta, e situado no coração das muralhas romanas e medievais de Braga, este é um edifício particularmente ensolarado, com duas frentes, uma voltada para a rua a Oeste e outra voltada para um agradável e valorizado pátio de interior de quarteirão a Este, desfrutando de luz natural ao longo de todo o dia.
A identidade do edifício, no entanto, perdeu-se em 120 anos de pequenas intervenções não qualificadas, resultando numa sobre-compartimentação que o encerrou para a rua e para a luz.
A sua fachada foi igualmente adulterada: caixilharia moderna em alumínio e caixas de estore exteriores modificaram a estereotomia dos vãos, a escala do edifício e dos seus detalhes, rompendo com a leitura original da rua.
O Espigueiro-Pombal do Cruzeiro foi distinguido com uma Menção Honrosa na categoria de Reabilitação e Reconstrução de Edifícios Históricos.
As suas raízes são modestas, embora inesperadamente pragmáticas, criativas e sofisticadas no seu desenho e soluções: é uma pequena jóia da arquitectura vernacular minhota.
Construída originalmente no final do século XIX, o seu ponto de partida foram dois espigueiros tradicionais sobre bases graníticas. Uma cobertura comum reuniu-os, debaixo da qual se deu forma a um pombal. Finalmente, o espaço entre ambos os espigueiros usou-se para a secagem de cereais, com dois grandes painéis basculantes controlando a ventilação.
Este desenho notável resulta da combinação invulgar mas inteligente de três tipologias vernaculares bastante comuns (espigueiro, pombal, coberto de secagem) que fazem ainda parte do nosso imaginário colectivo. A sua execução, no entanto, não foi isenta de problemas.
Construído em madeira de carvalho, a estrutura foi sub-dimensionada para as necessidades da construção e, sem manutenção adequada durante grande parte da sua vida, a madeira rapidamente decaiu: embora mantida em pé por cabos de aço esticados a partir de árvores vizinhas era já irrecuperável.
As peças de madeira apodrecida, mesmo assim, permitiram a documentação integral do desenho e das técnicas construtivas do edifício tal como era até perder o seu uso, abrindo portas para uma reconstrução peça a peça, tal como o Ise Jingu se reconstrói a cada 20 anos no Japão, mas aqui à escala do norte rural português, preservando um interessante documento construído vernacular e, no processo, alimentando e alimentando-se do conhecimento tradicional dos artesãos locais.
A matriz deste projecto conformou-se numa reconstrução estrita a que se somou o requisito da intervenção mais ínfima que o tornasse utilizável, permitindo as ligações mínimas necessárias dentro e fora.
Estas humildes construções estão em rápido desaparecimento: actualmente sem utilização e aparentemente sem potencial para transformação, são silenciosamente desmanteladas. Caem vítimas da sua frágil materialidade e da falta de reconhecimento do seu significado cultural e patrimonial. Não se lhes reconhece valor suficiente para estudo ou documentação sistemática: logo que desapareçam, nunca existiram.
Este exercício procura ilustrar que estas construções podem produzir experiências espaciais de grande qualidade, mantendo vivos documentos construídos de uma arquitectura popular muito especial, recorrendo a recursos e conhecimentos locais e tornando-os pertinentes mesmo depois do seu uso agrícola ter terminado.
O Espigueiro-Pombal do Cruzeiro é agora um santuário entre as copas das árvores, uma forma icónica na paisagem rural minhota, e a experiência das sombras bruxuleantes das ramas, da brisa suave que o cruza e dos chilreares nos finais de tarde estivais define, por inteiro, o seu novo propósito, função e uso.