OPINIÃO: BIM e Digital Twins na reabilitação sustentável – Para quando?
- Publicado em 09-12-2022, por admin
- Artigos de Opinião
Orlando Maravilha de Azevedo
CEO da BIMMDA
Eng. Civil – BIM Manager
Numa época em que todos os dias ouvimos falar de sustentabilidade, zero emissões de carbono, edifícios inteligentes, eficiência energética, circularidade e transição digital, vivenciamos neste século, provavelmente, o período com mais desafios para a humanidade em geral e para o sector da construção em particular.
Segundo o novo relatório da ONU apresentado na última COP27 no Egipto, conclui que o setor da construção foi responsável por mais de 34% da necessidade de energia e cerca de 37% das emissões de CO2 relacionadas com a energia e processos em 2021. Estas emissões foram 5% maiores do que em 2020 e 2% a mais do que o pico pré-pandemia em 2019. Assim, o setor está fora do caminho para cumprir as promessas de descarbonização até 2050.
Apesar dos incentivos ao investimento na eficiência energética, principalmente com a reabilitação da envolvente de edifícios, com a aplicação de isolamento térmico em fachadas e troca de caixilharias, os números indicam que não estamos a fazer o suficiente e que a adoção de outras soluções é urgente e inevitável.
Tecnologias como o BIM (Building Information Modeling) e os Digital Twins, são reconhecidos pela sua grande potencialidade e contributo para a sustentabilidade e descarbonização do sector da construção.
Com aplicações em todo o ciclo de vida de um edifício, com a criação de projeto BIM (novo ou reabilitação), acompanhamento de obra e criação de gémeo digital para operação e manutenção, as informações não ficam perdidas nas diversas fases, já que o modelo é alimentado em cada uma delas pelos diversos intervenientes. Essa informação será importante nas tomadas de decisão, evitando duplicação de trabalhos e desperdício de materiais, contribuindo para a sustentabilidade e redução de emissões. Mesmo nas diversas operações de manutenção, reabilitação ou demolição, a informação que consta no modelo virtual será importante para escolha das melhores soluções, contribuindo significativamente para a circularidade.
Em 2017 o Grupo de Trabalho BIM da União Europeia, criou o “Manual relativo à aplicação da Modelação da Informação da Construção (BIM) no Setor Público Europeu”, com diretrizes e indicações para que os estados-membros adotassem a metodologia em todas as fases da construção e do ambiente construído.
”Existem relatórios que preveem que a adoção mais ampla do BIM venha a permitir economias da ordem
dos 15% a 25% no mercado global de infraestruturas até 2025.
Se a adoção mais ampla do BIM em toda a Europa resultasse em economias de 10% no setor da construção, seriam gerados mais 130 mil milhões de EUR para um mercado avaliado em 1,3 biliões de EUR.
Este impacto poderá, inclusivamente, ser pequeno quando comparado com os potenciais benefícios sociais e ambientais que poderiam ser obtidos na agenda das alterações climáticas e da eficiência de recursos.”
Diariamente vemos governantes, decisores políticos, instituições nacionais e internacionais, comentadores
e técnicos a salientar a necessidade de redução de emissões de carbono, apoiar a transição digital no sector, criar e/ou transformar edifícios/cidades inteligentes e energeticamente eficientes. Os mesmos intervenientes, diversos estudos e relatórios, reconhecem que o BIM junto com outras tecnologias, como os Digital Twins, contribuem significativamente para que o sector da construção se torne mais sustentável, no entanto, em Portugal a adoção da metodologia pelo sector público está longe de ser implementada, quando a maioria dos países da UE já o fizeram!
Fica a questão: Para quando a implementação do BIM no sector público da construção em Portugal?
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Orlando Maravilha de Azevedo
Mestre em Materiais, Reabilitação e Sustentabilidade na UM
A frequentar Programa de Doutoramento de Arquitetura da FAUP