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ARSUNA
ESTÚDIO DE ARQUITECTURA E ARTES CÉNICAS
A Arquitetura de Cena representa o seu papel principal no mundo do espetáculo ao vivo.
Na procura de explicar o que nos reserva o futuro na arte “ao vivo” podemos supor alguns dos caminhos que percorreremos.
A digitalização do mundo levou à virtualidade dos eventos. Tudo está à distância de um toque suave no ecrã do smartphone, até mesmo visualizar o tal concerto ou o tal espetáculo.
Essa virtualidade não consegue substituir a realidade física, a presença no local “ao vivo”.
A prova de que é mesmo assim está no facto de existir uma indústria do espetáculo, aliás está no explodir dessa indústria.
A quantidade de eventos ao vivo é proporcional à procura e essa é cada ano maior.
Porquê?
A revolução digital elevou o conforto na vida de cada um, mas conseguiu eliminar algumas características que o mundo analógico tinha, ou seja, citando Alessandro Baricco no seu livro The Game, deixou de haver uma vibração. Usa como exemplo o cinema em que a mudança de projetores de película para projetores digitais de imagem provocou o desaparecimento de uma quase impercetível vibração da projeção no ecrã.
Outro exemplo é o Websummit, que representa da forma mais pura o mundo digital e virtual mas que necessita de ser um evento ao vivo (uma feira) para ter sucesso. A prova está no facto que com a proibição da sua realização em “carne e osso” em 2020, devido à pandemia, e tendo sido transferida para o palco que está no seu pedigree, on-line, passou completamente despercebida.
Pois, ao vivo, não há como digitalizar a presença física dos intervenientes e da luz e do som que os acompanham, que os fazem “vibrar”. Estão lá! Sempre estiveram lá.
A História também já se encarregou de provar essa resiliência.
Nem mil anos de proscrição impediram que o espetáculo voltasse a ser um dos mais importantes centros de convivência e socialização. (Houve uma proibição de espetáculos ao vivo no mundo ocidental cristão entre cerca do ano 400 e o ano 1400).
Quando o imperador Constantino decreta o monoteísmo no império romano de oriente certamente não estava a impor o fim dos eventos teatrais e musicais que ao longo dos séculos anteriores os seus congéneres antecessores tanto enalteceram projetando e construindo obras exemplares ainda hoje admiradas pelo valor intemporal e universal que têm.
Mas que os eventos de teatro e música que não fossem explicitamente relacionados com a religião cristã, através da veneração dos valores eclesiásticos, eram proscritos, proibidos, punidos por heresia, é um dado de facto histórico.
Consta que os eventos deixaram de ser espetáculos com um argumento, uma trama, uma encenação, uma cenografia e figurinos, atores e músicos, público…
Na realidade o “teatro” foi à igreja, despido do seu conteúdo humano original e transformado em ritual angariador de “almas” para os cofres da instituição.
Porque o entretenimento faz parte da natureza humana, porque a vida em comunidade exige socialização, porque o ser humano precisa de se exprimir e comunicar arte, os rituais religiosos foram enriquecendo ao ponto de terem uma trama (enaltecer os santos e outros heróis cristãos), uma cenografia e figurinos (capelas nas igrejas e trajes), atores e músicos (padres e monges), uma encenação (rito) e um argumento (cenas bíblicas) … e público (os fiéis).
Desconcertante?
Um verdadeiro “teatro”.
A renascença Florentina, que aparece por consequência da incoerência social, científica e artística da idade média, recupera toda a visão humanista greco-romana e eleva o espetáculo (laico) ao estatuto de centro da atividade cultural inventando uma nova tipologia: a Ópera Lírica.
Não será uma pandemia que irá impedir o prosseguimento e a evolução do espetáculo ao vivo.
Autoria: Flavio Tirone
100 Anos Teatro Nacional São João
Na sequência da informação já publicada anteriormente nesta revista relatamos sobre a reinauguração do Teatro Nacional São João.
Da ópera ao cinema, do teatro à música clássica, desde 1920 muitas representações levou a cena este edifício. Após o desaparecimento do antigo São João, vítima de um incêndio, foi erigido este por mão de José Marques da Silva, arquiteto fundamental a operar na cidade nessa época beaux-arts.
Há memória de uma sessão do filme sobre a resistência norueguesa ao nazismo ter sido interrompida em agosto de 1945 para anunciar o fim da segunda guerra mundial, e de a representação da “morte e vida Severina” pelo teatro da universidade católica de São Paulo (tuca) ter suscitado comoção junto dos portuenses que questionavam o regime salazarista. Momentos marcantes, sem dúvida.
Em 1992 foi adquirido pelo Estado e elevado a Teatro Nacional entrando no arco do serviço público de cultura tornando-o na outra casa para as artes dramáticas.
Aí, após décadas sem uma intervenção profunda, iniciou-se um processo de reabilitação e restauro com projeto coordenado pelo Arquiteto João Carreira sendo a obra concluída em 1995. Após 25 anos e na enfase de celebrar o centenário
complementou-se com outra intervenção em que se atualizaram elementos arquitetónicos, de mobiliário, sistemas tecnológicos e cénicos.
O projeto mais recente começou em 2018 tendo em vista a comemoração dos cem anos de existência juntando numa equipa especializada e multidisciplinar de técnicos e artistas que em boa parte já tinham participado na obra de 1995.
Liderada, de novo, pelo Arquiteto João Carreira juntaram-se especialistas em restauro, arquitetura de cena, segurança, estruturas, AVAC, eletricidade, telecomunicações, gestão técnica, águas e saneamento, que em conjunto com a equipa criativa, administrativa
e técnica do teatro elaboraram os pressupostos, os objetivos e o projeto que em 2021 se traduziu na obra agora patente.
A obra foi dividida em duas frentes, o edifício e a caixa de palco, esta última com projeto da Arsuna, entregando os trabalhos a duas entidades executantes, a CT e a Alberto Sá, também elas especializadas em intervenções desta natureza.
A 22 de Outubro reabriu as portas ao público com uma série de iniciativas tais como a exposição 10 atos 100 anos, patente durante os próximos meses no salão nobre, um colóquio internacional cujo tema se centrou na missão dos teatros nacionais, e uma peça de Shakespeare, Lear, encenada por Nuno Cardoso.
Tudo certo: o teatro em sua casa.
Autoria: Flavio Tirone
Publicado
ARSUNA
ESTÚDIO DE ARQUITECTURA E ARTES CÉNICAS
A Arquitetura de Cena representa o seu papel principal no mundo do espetáculo ao vivo.
Na procura de explicar o que nos reserva o futuro na arte “ao vivo” podemos supor alguns dos caminhos que percorreremos.
A digitalização do mundo levou à virtualidade dos eventos. Tudo está à distância de um toque suave no ecrã do smartphone, até mesmo visualizar o tal concerto ou o tal espetáculo.
Essa virtualidade não consegue substituir a realidade física, a presença no local “ao vivo”.
A prova de que é mesmo assim está no facto de existir uma indústria do espetáculo, aliás está no explodir dessa indústria.
A quantidade de eventos ao vivo é proporcional à procura e essa é cada ano maior.
Porquê?
A revolução digital elevou o conforto na vida de cada um, mas conseguiu eliminar algumas características que o mundo analógico tinha, ou seja, citando Alessandro Baricco no seu livro The Game, deixou de haver uma vibração. Usa como exemplo o cinema em que a mudança de projetores de película para projetores digitais de imagem provocou o desaparecimento de uma quase impercetível vibração da projeção no ecrã.
Outro exemplo é o Websummit, que representa da forma mais pura o mundo digital e virtual mas que necessita de ser um evento ao vivo (uma feira) para ter sucesso. A prova está no facto que com a proibição da sua realização em “carne e osso” em 2020, devido à pandemia, e tendo sido transferida para o palco que está no seu pedigree, on-line, passou completamente despercebida.
Pois, ao vivo, não há como digitalizar a presença física dos intervenientes e da luz e do som que os acompanham, que os fazem “vibrar”. Estão lá! Sempre estiveram lá.
A História também já se encarregou de provar essa resiliência.
Nem mil anos de proscrição impediram que o espetáculo voltasse a ser um dos mais importantes centros de convivência e socialização. (Houve uma proibição de espetáculos ao vivo no mundo ocidental cristão entre cerca do ano 400 e o ano 1400).
Quando o imperador Constantino decreta o monoteísmo no império romano de oriente certamente não estava a impor o fim dos eventos teatrais e musicais que ao longo dos séculos anteriores os seus congéneres antecessores tanto enalteceram projetando e construindo obras exemplares ainda hoje admiradas pelo valor intemporal e universal que têm.
Mas que os eventos de teatro e música que não fossem explicitamente relacionados com a religião cristã, através da veneração dos valores eclesiásticos, eram proscritos, proibidos, punidos por heresia, é um dado de facto histórico.
Consta que os eventos deixaram de ser espetáculos com um argumento, uma trama, uma encenação, uma cenografia e figurinos, atores e músicos, público…
Na realidade o “teatro” foi à igreja, despido do seu conteúdo humano original e transformado em ritual angariador de “almas” para os cofres da instituição.
Porque o entretenimento faz parte da natureza humana, porque a vida em comunidade exige socialização, porque o ser humano precisa de se exprimir e comunicar arte, os rituais religiosos foram enriquecendo ao ponto de terem uma trama (enaltecer os santos e outros heróis cristãos), uma cenografia e figurinos (capelas nas igrejas e trajes), atores e músicos (padres e monges), uma encenação (rito) e um argumento (cenas bíblicas) … e público (os fiéis).
Desconcertante?
Um verdadeiro “teatro”.
A renascença Florentina, que aparece por consequência da incoerência social, científica e artística da idade média, recupera toda a visão humanista greco-romana e eleva o espetáculo (laico) ao estatuto de centro da atividade cultural inventando uma nova tipologia: a Ópera Lírica.
Não será uma pandemia que irá impedir o prosseguimento e a evolução do espetáculo ao vivo.
Autoria: Flavio Tirone
100 Anos Teatro Nacional São João
Na sequência da informação já publicada anteriormente nesta revista relatamos sobre a reinauguração do Teatro Nacional São João.
Da ópera ao cinema, do teatro à música clássica, desde 1920 muitas representações levou a cena este edifício. Após o desaparecimento do antigo São João, vítima de um incêndio, foi erigido este por mão de José Marques da Silva, arquiteto fundamental a operar na cidade nessa época beaux-arts.
Há memória de uma sessão do filme sobre a resistência norueguesa ao nazismo ter sido interrompida em agosto de 1945 para anunciar o fim da segunda guerra mundial, e de a representação da “morte e vida Severina” pelo teatro da universidade católica de São Paulo (tuca) ter suscitado comoção junto dos portuenses que questionavam o regime salazarista. Momentos marcantes, sem dúvida.
Em 1992 foi adquirido pelo Estado e elevado a Teatro Nacional entrando no arco do serviço público de cultura tornando-o na outra casa para as artes dramáticas.
Aí, após décadas sem uma intervenção profunda, iniciou-se um processo de reabilitação e restauro com projeto coordenado pelo Arquiteto João Carreira sendo a obra concluída em 1995. Após 25 anos e na enfase de celebrar o centenário
complementou-se com outra intervenção em que se atualizaram elementos arquitetónicos, de mobiliário, sistemas tecnológicos e cénicos.
O projeto mais recente começou em 2018 tendo em vista a comemoração dos cem anos de existência juntando numa equipa especializada e multidisciplinar de técnicos e artistas que em boa parte já tinham participado na obra de 1995.
Liderada, de novo, pelo Arquiteto João Carreira juntaram-se especialistas em restauro, arquitetura de cena, segurança, estruturas, AVAC, eletricidade, telecomunicações, gestão técnica, águas e saneamento, que em conjunto com a equipa criativa, administrativa
e técnica do teatro elaboraram os pressupostos, os objetivos e o projeto que em 2021 se traduziu na obra agora patente.
A obra foi dividida em duas frentes, o edifício e a caixa de palco, esta última com projeto da Arsuna, entregando os trabalhos a duas entidades executantes, a CT e a Alberto Sá, também elas especializadas em intervenções desta natureza.
A 22 de Outubro reabriu as portas ao público com uma série de iniciativas tais como a exposição 10 atos 100 anos, patente durante os próximos meses no salão nobre, um colóquio internacional cujo tema se centrou na missão dos teatros nacionais, e uma peça de Shakespeare, Lear, encenada por Nuno Cardoso.
Tudo certo: o teatro em sua casa.
Autoria: Flavio Tirone
Publicado
ARSUNA
ESTÚDIO DE ARQUITECTURA E ARTES CÉNICAS
A Arquitetura de Cena representa o seu papel principal no mundo do espetáculo ao vivo.
Na procura de explicar o que nos reserva o futuro na arte “ao vivo” podemos supor alguns dos caminhos que percorreremos.
A digitalização do mundo levou à virtualidade dos eventos. Tudo está à distância de um toque suave no ecrã do smartphone, até mesmo visualizar o tal concerto ou o tal espetáculo.
Essa virtualidade não consegue substituir a realidade física, a presença no local “ao vivo”.
A prova de que é mesmo assim está no facto de existir uma indústria do espetáculo, aliás está no explodir dessa indústria.
A quantidade de eventos ao vivo é proporcional à procura e essa é cada ano maior.
Porquê?
A revolução digital elevou o conforto na vida de cada um, mas conseguiu eliminar algumas características que o mundo analógico tinha, ou seja, citando Alessandro Baricco no seu livro The Game, deixou de haver uma vibração. Usa como exemplo o cinema em que a mudança de projetores de película para projetores digitais de imagem provocou o desaparecimento de uma quase impercetível vibração da projeção no ecrã.
Outro exemplo é o Websummit, que representa da forma mais pura o mundo digital e virtual mas que necessita de ser um evento ao vivo (uma feira) para ter sucesso. A prova está no facto que com a proibição da sua realização em “carne e osso” em 2020, devido à pandemia, e tendo sido transferida para o palco que está no seu pedigree, on-line, passou completamente despercebida.
Pois, ao vivo, não há como digitalizar a presença física dos intervenientes e da luz e do som que os acompanham, que os fazem “vibrar”. Estão lá! Sempre estiveram lá.
A História também já se encarregou de provar essa resiliência.
Nem mil anos de proscrição impediram que o espetáculo voltasse a ser um dos mais importantes centros de convivência e socialização. (Houve uma proibição de espetáculos ao vivo no mundo ocidental cristão entre cerca do ano 400 e o ano 1400).
Quando o imperador Constantino decreta o monoteísmo no império romano de oriente certamente não estava a impor o fim dos eventos teatrais e musicais que ao longo dos séculos anteriores os seus congéneres antecessores tanto enalteceram projetando e construindo obras exemplares ainda hoje admiradas pelo valor intemporal e universal que têm.
Mas que os eventos de teatro e música que não fossem explicitamente relacionados com a religião cristã, através da veneração dos valores eclesiásticos, eram proscritos, proibidos, punidos por heresia, é um dado de facto histórico.
Consta que os eventos deixaram de ser espetáculos com um argumento, uma trama, uma encenação, uma cenografia e figurinos, atores e músicos, público…
Na realidade o “teatro” foi à igreja, despido do seu conteúdo humano original e transformado em ritual angariador de “almas” para os cofres da instituição.
Porque o entretenimento faz parte da natureza humana, porque a vida em comunidade exige socialização, porque o ser humano precisa de se exprimir e comunicar arte, os rituais religiosos foram enriquecendo ao ponto de terem uma trama (enaltecer os santos e outros heróis cristãos), uma cenografia e figurinos (capelas nas igrejas e trajes), atores e músicos (padres e monges), uma encenação (rito) e um argumento (cenas bíblicas) … e público (os fiéis).
Desconcertante?
Um verdadeiro “teatro”.
A renascença Florentina, que aparece por consequência da incoerência social, científica e artística da idade média, recupera toda a visão humanista greco-romana e eleva o espetáculo (laico) ao estatuto de centro da atividade cultural inventando uma nova tipologia: a Ópera Lírica.
Não será uma pandemia que irá impedir o prosseguimento e a evolução do espetáculo ao vivo.
Autoria: Flavio Tirone
100 Anos Teatro Nacional São João
Na sequência da informação já publicada anteriormente nesta revista relatamos sobre a reinauguração do Teatro Nacional São João.
Da ópera ao cinema, do teatro à música clássica, desde 1920 muitas representações levou a cena este edifício. Após o desaparecimento do antigo São João, vítima de um incêndio, foi erigido este por mão de José Marques da Silva, arquiteto fundamental a operar na cidade nessa época beaux-arts.
Há memória de uma sessão do filme sobre a resistência norueguesa ao nazismo ter sido interrompida em agosto de 1945 para anunciar o fim da segunda guerra mundial, e de a representação da “morte e vida Severina” pelo teatro da universidade católica de São Paulo (tuca) ter suscitado comoção junto dos portuenses que questionavam o regime salazarista. Momentos marcantes, sem dúvida.
Em 1992 foi adquirido pelo Estado e elevado a Teatro Nacional entrando no arco do serviço público de cultura tornando-o na outra casa para as artes dramáticas.
Aí, após décadas sem uma intervenção profunda, iniciou-se um processo de reabilitação e restauro com projeto coordenado pelo Arquiteto João Carreira sendo a obra concluída em 1995. Após 25 anos e na enfase de celebrar o centenário
complementou-se com outra intervenção em que se atualizaram elementos arquitetónicos, de mobiliário, sistemas tecnológicos e cénicos.
O projeto mais recente começou em 2018 tendo em vista a comemoração dos cem anos de existência juntando numa equipa especializada e multidisciplinar de técnicos e artistas que em boa parte já tinham participado na obra de 1995.
Liderada, de novo, pelo Arquiteto João Carreira juntaram-se especialistas em restauro, arquitetura de cena, segurança, estruturas, AVAC, eletricidade, telecomunicações, gestão técnica, águas e saneamento, que em conjunto com a equipa criativa, administrativa
e técnica do teatro elaboraram os pressupostos, os objetivos e o projeto que em 2021 se traduziu na obra agora patente.
A obra foi dividida em duas frentes, o edifício e a caixa de palco, esta última com projeto da Arsuna, entregando os trabalhos a duas entidades executantes, a CT e a Alberto Sá, também elas especializadas em intervenções desta natureza.
A 22 de Outubro reabriu as portas ao público com uma série de iniciativas tais como a exposição 10 atos 100 anos, patente durante os próximos meses no salão nobre, um colóquio internacional cujo tema se centrou na missão dos teatros nacionais, e uma peça de Shakespeare, Lear, encenada por Nuno Cardoso.
Tudo certo: o teatro em sua casa.
Autoria: Flavio Tirone