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Vers une bureaucratie

Categoria:  Artigos de Opinião

Publicado

foto autor_Hugo Barros

Hugo Barros

Arquitecto, ATELIERDACOSTA

OA 23889

Em resposta ao convite para escrever um curto depoimento sobre as eleições na ordem dos arquitectos, enuncio um limitado par de questões aparentemente invisíveis. Entre as propostas eleitorais, tantas delas avulso, há uma evidente falta de estratégia articulada para a profissão e sua autonomia, razão maior da actividade da OA, que pede a discussão de outros assuntos vulgarmente omitidos. Se não o fizermos, e só discutirmos as mais relevantes temáticas da nossa organização interna e corporativa, corremos o alto risco de, se tudo correr pelo melhor, cairmos , organizadíssimos, no precipício da inutilidade no contexto de actuação exterior. E uma profissão progressivamente inútil aguenta apenas os primeiros tempos de retórica proteccionista junto dos políticos.

Concorre para o famoso dumping e para a indefinição e desvalorização do papel do arquitecto na sociedade um problema algo oculto e verdadeiro tabu entre os pares: o comissionismo. Claramente não chega, como a realidade o comprova, estar mencionado na deontologia. Parece ser prática generalizada entre os arquitectos portugueses, mas, e se calhar por isso, é um verdadeiro tabu entre todos. Quebre-se o tabu porque a quebra da independência técnica e disciplinar e da relação de confiança com os clientes que provoca é bem mais custosa para a profissão. A sua inscrição no debate permitirá discutir problemas estratégicos de alteração da posição canónica do arquitecto, como a concepção-construção, enquanto modelo da prática que distorce, desde logo, a relação com a sua autonomia técnica, com os fornecedores, e que é crescentemente associado a fenómenos como a precarização do trabalho.

Resolver, como vejo proposto, o problema do dumping sem antes resolver o problema da definição e padronização dos serviços contemplados num projecto de arquitectura, pode significar, antes, “regulamentar” o dumping e gravá-lo na pedra. Como todos sabemos, os clientes, por vezes até os mais informados, raramente sabem, por exemplo, o que é um projecto de execução ou a sua missão e, como em tudo, que importância tem pagar por aquilo que não sabemos o que é e para o que serve? Sem ele, somos diariamente substituídos pelos construtores, pelas segundas opiniões de amigos sobre o assentamento da soleira, e nunca chegaremos ao ponto da responsabilização e consequente relevância. Não podemos secundarizar este assunto, nuclear na definição do limite do trabalho de arquitectura, que depois de definido deve ver o seu teor apropriadamente transposto para um regime burocrático único.

Esse instrumento (certamente exigirá a limpeza e/ou congregação de muita legislação) deve ser capaz de resolver, a título de exemplo, os problemas enunciados, num tempo pós-massificação da arquitectura, através de procedimentos simplificados não só na relação com as entidades públicas (demasiado óbvio e consensual), mas também com os outros intervenientes no processo construtivo - clientes, fornecedores e construtores -, assim como acontece noutras profissões há décadas, respondendo à complexidade actual e à dimensão económica e social da obra . Para os que fazem, certamente por confusão, oposição à burocracia , apelo que, para além de consultarem a sua etimologia e significado, se recordem que esse discurso consensualizador apenas visa a perpetuação do acesso a um sistema não universal de facilitação.

Por isso digo, por muito triste e revelador da nossa condição actual que possa ser (sobretudo cerca de 100 anos depois do outro vers ): vers un bureaucratie!

Gabinete:

ATELIERDACOSTA, ARQUITETURA & REABILITAÇÃO

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Contacto

Ângela Leitão

aleitao@anteprojectos.com.pt

Directora Geral

Av. Álvares Cabral, nº 61, 6º andar | 1250-017 Lisboa

Telefone 211 308 758 / 966 863 541

Vers une bureaucratie

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Publicado

foto autor_Hugo Barros

Hugo Barros

Arquitecto, ATELIERDACOSTA

OA 23889

Em resposta ao convite para escrever um curto depoimento sobre as eleições na ordem dos arquitectos, enuncio um limitado par de questões aparentemente invisíveis. Entre as propostas eleitorais, tantas delas avulso, há uma evidente falta de estratégia articulada para a profissão e sua autonomia, razão maior da actividade da OA, que pede a discussão de outros assuntos vulgarmente omitidos. Se não o fizermos, e só discutirmos as mais relevantes temáticas da nossa organização interna e corporativa, corremos o alto risco de, se tudo correr pelo melhor, cairmos , organizadíssimos, no precipício da inutilidade no contexto de actuação exterior. E uma profissão progressivamente inútil aguenta apenas os primeiros tempos de retórica proteccionista junto dos políticos.

Concorre para o famoso dumping e para a indefinição e desvalorização do papel do arquitecto na sociedade um problema algo oculto e verdadeiro tabu entre os pares: o comissionismo. Claramente não chega, como a realidade o comprova, estar mencionado na deontologia. Parece ser prática generalizada entre os arquitectos portugueses, mas, e se calhar por isso, é um verdadeiro tabu entre todos. Quebre-se o tabu porque a quebra da independência técnica e disciplinar e da relação de confiança com os clientes que provoca é bem mais custosa para a profissão. A sua inscrição no debate permitirá discutir problemas estratégicos de alteração da posição canónica do arquitecto, como a concepção-construção, enquanto modelo da prática que distorce, desde logo, a relação com a sua autonomia técnica, com os fornecedores, e que é crescentemente associado a fenómenos como a precarização do trabalho.

Resolver, como vejo proposto, o problema do dumping sem antes resolver o problema da definição e padronização dos serviços contemplados num projecto de arquitectura, pode significar, antes, “regulamentar” o dumping e gravá-lo na pedra. Como todos sabemos, os clientes, por vezes até os mais informados, raramente sabem, por exemplo, o que é um projecto de execução ou a sua missão e, como em tudo, que importância tem pagar por aquilo que não sabemos o que é e para o que serve? Sem ele, somos diariamente substituídos pelos construtores, pelas segundas opiniões de amigos sobre o assentamento da soleira, e nunca chegaremos ao ponto da responsabilização e consequente relevância. Não podemos secundarizar este assunto, nuclear na definição do limite do trabalho de arquitectura, que depois de definido deve ver o seu teor apropriadamente transposto para um regime burocrático único.

Esse instrumento (certamente exigirá a limpeza e/ou congregação de muita legislação) deve ser capaz de resolver, a título de exemplo, os problemas enunciados, num tempo pós-massificação da arquitectura, através de procedimentos simplificados não só na relação com as entidades públicas (demasiado óbvio e consensual), mas também com os outros intervenientes no processo construtivo - clientes, fornecedores e construtores -, assim como acontece noutras profissões há décadas, respondendo à complexidade actual e à dimensão económica e social da obra . Para os que fazem, certamente por confusão, oposição à burocracia , apelo que, para além de consultarem a sua etimologia e significado, se recordem que esse discurso consensualizador apenas visa a perpetuação do acesso a um sistema não universal de facilitação.

Por isso digo, por muito triste e revelador da nossa condição actual que possa ser (sobretudo cerca de 100 anos depois do outro vers ): vers un bureaucratie!

Gabinete:

ATELIERDACOSTA, ARQUITETURA & REABILITAÇÃO

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Arquitecto, ATELIERDACOSTA

OA 23889

Em resposta ao convite para escrever um curto depoimento sobre as eleições na ordem dos arquitectos, enuncio um limitado par de questões aparentemente invisíveis. Entre as propostas eleitorais, tantas delas avulso, há uma evidente falta de estratégia articulada para a profissão e sua autonomia, razão maior da actividade da OA, que pede a discussão de outros assuntos vulgarmente omitidos. Se não o fizermos, e só discutirmos as mais relevantes temáticas da nossa organização interna e corporativa, corremos o alto risco de, se tudo correr pelo melhor, cairmos , organizadíssimos, no precipício da inutilidade no contexto de actuação exterior. E uma profissão progressivamente inútil aguenta apenas os primeiros tempos de retórica proteccionista junto dos políticos.

Concorre para o famoso dumping e para a indefinição e desvalorização do papel do arquitecto na sociedade um problema algo oculto e verdadeiro tabu entre os pares: o comissionismo. Claramente não chega, como a realidade o comprova, estar mencionado na deontologia. Parece ser prática generalizada entre os arquitectos portugueses, mas, e se calhar por isso, é um verdadeiro tabu entre todos. Quebre-se o tabu porque a quebra da independência técnica e disciplinar e da relação de confiança com os clientes que provoca é bem mais custosa para a profissão. A sua inscrição no debate permitirá discutir problemas estratégicos de alteração da posição canónica do arquitecto, como a concepção-construção, enquanto modelo da prática que distorce, desde logo, a relação com a sua autonomia técnica, com os fornecedores, e que é crescentemente associado a fenómenos como a precarização do trabalho.

Resolver, como vejo proposto, o problema do dumping sem antes resolver o problema da definição e padronização dos serviços contemplados num projecto de arquitectura, pode significar, antes, “regulamentar” o dumping e gravá-lo na pedra. Como todos sabemos, os clientes, por vezes até os mais informados, raramente sabem, por exemplo, o que é um projecto de execução ou a sua missão e, como em tudo, que importância tem pagar por aquilo que não sabemos o que é e para o que serve? Sem ele, somos diariamente substituídos pelos construtores, pelas segundas opiniões de amigos sobre o assentamento da soleira, e nunca chegaremos ao ponto da responsabilização e consequente relevância. Não podemos secundarizar este assunto, nuclear na definição do limite do trabalho de arquitectura, que depois de definido deve ver o seu teor apropriadamente transposto para um regime burocrático único.

Esse instrumento (certamente exigirá a limpeza e/ou congregação de muita legislação) deve ser capaz de resolver, a título de exemplo, os problemas enunciados, num tempo pós-massificação da arquitectura, através de procedimentos simplificados não só na relação com as entidades públicas (demasiado óbvio e consensual), mas também com os outros intervenientes no processo construtivo - clientes, fornecedores e construtores -, assim como acontece noutras profissões há décadas, respondendo à complexidade actual e à dimensão económica e social da obra . Para os que fazem, certamente por confusão, oposição à burocracia , apelo que, para além de consultarem a sua etimologia e significado, se recordem que esse discurso consensualizador apenas visa a perpetuação do acesso a um sistema não universal de facilitação.

Por isso digo, por muito triste e revelador da nossa condição actual que possa ser (sobretudo cerca de 100 anos depois do outro vers ): vers un bureaucratie!

Gabinete:

ATELIERDACOSTA, ARQUITETURA & REABILITAÇÃO