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O fim das cinzas volantes – O que muda no projeto das estruturas de betão

Categoria:  Artigos de Opinião

Publicado

Anteprojectos Novembro 2019 pg74b

Anteprojectos Novembro 2019 pg74a

O carvão tem os dias contados. O Governo de Portugal comprometeu-se a acabar com o uso de carvão para a produção de energia até 2030. Do ponto de vista ambiental isto é bom e o Governo entende esta como uma das medidas para reduzir as emissões de gases do efeito de estufa e atingir as metas definidas no acordo de Paris. Mas a medalha tem outra face: o fim da energia a partir do carvão é o fim das cinzas volantes  no betão.

O acordo de Paris das Nações Unidas de 2015 visa alcançar a descarbonização das economias mundiais e limitar o aumento da temperatura média global em menos de 2 °C até 2050. Como o conseguir? Investir mais em energias renováveis e abandonar a produção de energia com base no carvão são duas medidas da estratégia.

As cinzas volantes foram consideradas durante muito tempo como um mero resíduo industrial das centrais termoelétricas à base de carvão. A sua valorização só se registou na última década do século XX quando começaram a ser utilizadas como adição do betão. Desde então, a incorporação das cinzas volantes no betão tornou-se essencial para melhorar a durabilidade das estruturas de betão armado em ambientes com cloretos que atacam as armaduras ou com compostos químicos que atacam o betão. Incorporar cinzas volantes permite ainda reduzir o calor de hidratação do betão, fundamental em obras com grandes volumes de betão, tais como as barragens.

A utilização das cinzas volantes em Portugal como adição do betão está atualmente regulada pela especificação E 464 do LNEC. Esta especificação permite combinar as cinzas volantes com um cimento tipo CEM I ou CEM II/A para constituir uma mistura equivalente a um cimento tipo CEM II/B ou CEM IV/B. O resultado prático é a substituição de parte do cimento pelas cinzas volantes. Adicionalmente, para as classes de exposição ambiental XS (ataque por cloretos com origem no mar), XD (ataque por cloretos de outras origens) ou XA (ataque químico), a especificação E 464 permite reduzir a dosagem mínima de ligante.

Atualmente não há um produto substituto para as cinzas volantes. Por isso, o betão vai ter de ser fabricado apenas com um dos tipos de cimentos disponíveis no mercado: CEM I ou CEM II/A. Isso vai refletir-se na especificação do betão quanto à classe de resistência mínima a considerar no projeto da estrutura. A/o projetista vai ter de considerar uma classe de resistência superior no dimensionamento estrutural para assegurar tanto a estabilidade e a durabilidade da estrutura de betão armado como a otimização dos custos da construção.

Caso contrário, o que vai acontecer é a utilização em obra de um betão com uma classe de resistência superior à que foi especificada pela/o projetista. Assim, perdem-se os ganhos económicos decorrentes do aumento da capacidade resistente do betão.

Anteprojectos Novembro 2019 pg74c

Ponto da situação

Já começamos a sentir a falta de cinzas volantes no mercado. Este ano, Portugal registou um período recorde de 19 dias consecutivos sem energia produzida a partir do carvão. Só a central termoelétrica de Sines esteve parada 33 dias consecutivos. Para o ambiente foi bom. Para a indústria do betão pronto não foi o caso, já que faltaram cinzas volantes.

Nos dias em que não há cinzas volantes no mercado, as empresas de betão pronto deixam de poder fabricar alguns betões, principalmente os destinados a obras cuja estrutura vai estar sob a ação dos cloretos ou sob o ataque químico. Isto é um problema porque as estruturas que agora estão em execução foram projetadas há já algum tempo, numa altura em que ainda não se sentia a falta das cinzas volantes. O dimensionamento tinha partido de uma classe de resistência mais baixa.

Vejamos o exemplo de um edifício em construção na orla costeira. A estrutura vai estar sujeita a um ambiente em que o ar contém sais marinhos, o que corresponde à classe de exposição XS1. A classe de resistência especificada para o betão é C30/37, o que é apenas possível caso o betão incorpore cinzas volantes. Uma vez iniciada, a obra não pode parar por causa da falta de cinzas volantes. Porém, para que os trabalhos prossigam, é necessário utilizar um betão fabricado só com cimento e com uma classe de resistência superior - C40/50 – a fim de garantir a durabilidade pretendida para a estrutura. Como o projeto não teve em conta este incremento na resistência do betão, perde-se o potencial ganho económico.

Qual a solução?

Anteprojectos Novembro 2019 pg74dSe o cálculo do betão armado partir de uma classe de resistência do betão mais elevada, a estrutura resultante será otimizada. Isso vai acarretar a utilização de menores quantidades de betão e principalmente de armaduras. E mais: A redução do custo de construção é muito superior ao aumento do custo do betão. Isto vai permitir que as obras públicas tenham um menor impacto no orçamento do estado.

Vai igualmente potenciar a construção de habitações com custos mais acessíveis. Outro benefício é para o ambiente, já que se diminui o dióxido de carbono imbuído na estrutura.

Uma vez que as cinzas volantes têm o fim anunciado e que de momento não há alternativa equivalente no

mercado, recomendo às projetistas e aos projetistas começar imediatamente a optar por uma classe de

resistência mais elevada para o betão.

*Associação Portuguesa das Empresas de Betão Pronto - APEB

Anteprojectos online é uma ferramenta de consulta diária, que lhe permite deter o conhecimento antecipado do que serão as futuras obras!

Contacto

Ângela Leitão

aleitao@anteprojectos.com.pt

Directora Geral

Av. Álvares Cabral, nº 61, 6º andar | 1250-017 Lisboa

Telefone 211 308 758 / 966 863 541

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Categoria:  Artigos de Opinião

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O carvão tem os dias contados. O Governo de Portugal comprometeu-se a acabar com o uso de carvão para a produção de energia até 2030. Do ponto de vista ambiental isto é bom e o Governo entende esta como uma das medidas para reduzir as emissões de gases do efeito de estufa e atingir as metas definidas no acordo de Paris. Mas a medalha tem outra face: o fim da energia a partir do carvão é o fim das cinzas volantes  no betão.

O acordo de Paris das Nações Unidas de 2015 visa alcançar a descarbonização das economias mundiais e limitar o aumento da temperatura média global em menos de 2 °C até 2050. Como o conseguir? Investir mais em energias renováveis e abandonar a produção de energia com base no carvão são duas medidas da estratégia.

As cinzas volantes foram consideradas durante muito tempo como um mero resíduo industrial das centrais termoelétricas à base de carvão. A sua valorização só se registou na última década do século XX quando começaram a ser utilizadas como adição do betão. Desde então, a incorporação das cinzas volantes no betão tornou-se essencial para melhorar a durabilidade das estruturas de betão armado em ambientes com cloretos que atacam as armaduras ou com compostos químicos que atacam o betão. Incorporar cinzas volantes permite ainda reduzir o calor de hidratação do betão, fundamental em obras com grandes volumes de betão, tais como as barragens.

A utilização das cinzas volantes em Portugal como adição do betão está atualmente regulada pela especificação E 464 do LNEC. Esta especificação permite combinar as cinzas volantes com um cimento tipo CEM I ou CEM II/A para constituir uma mistura equivalente a um cimento tipo CEM II/B ou CEM IV/B. O resultado prático é a substituição de parte do cimento pelas cinzas volantes. Adicionalmente, para as classes de exposição ambiental XS (ataque por cloretos com origem no mar), XD (ataque por cloretos de outras origens) ou XA (ataque químico), a especificação E 464 permite reduzir a dosagem mínima de ligante.

Atualmente não há um produto substituto para as cinzas volantes. Por isso, o betão vai ter de ser fabricado apenas com um dos tipos de cimentos disponíveis no mercado: CEM I ou CEM II/A. Isso vai refletir-se na especificação do betão quanto à classe de resistência mínima a considerar no projeto da estrutura. A/o projetista vai ter de considerar uma classe de resistência superior no dimensionamento estrutural para assegurar tanto a estabilidade e a durabilidade da estrutura de betão armado como a otimização dos custos da construção.

Caso contrário, o que vai acontecer é a utilização em obra de um betão com uma classe de resistência superior à que foi especificada pela/o projetista. Assim, perdem-se os ganhos económicos decorrentes do aumento da capacidade resistente do betão.

Anteprojectos Novembro 2019 pg74c

Ponto da situação

Já começamos a sentir a falta de cinzas volantes no mercado. Este ano, Portugal registou um período recorde de 19 dias consecutivos sem energia produzida a partir do carvão. Só a central termoelétrica de Sines esteve parada 33 dias consecutivos. Para o ambiente foi bom. Para a indústria do betão pronto não foi o caso, já que faltaram cinzas volantes.

Nos dias em que não há cinzas volantes no mercado, as empresas de betão pronto deixam de poder fabricar alguns betões, principalmente os destinados a obras cuja estrutura vai estar sob a ação dos cloretos ou sob o ataque químico. Isto é um problema porque as estruturas que agora estão em execução foram projetadas há já algum tempo, numa altura em que ainda não se sentia a falta das cinzas volantes. O dimensionamento tinha partido de uma classe de resistência mais baixa.

Vejamos o exemplo de um edifício em construção na orla costeira. A estrutura vai estar sujeita a um ambiente em que o ar contém sais marinhos, o que corresponde à classe de exposição XS1. A classe de resistência especificada para o betão é C30/37, o que é apenas possível caso o betão incorpore cinzas volantes. Uma vez iniciada, a obra não pode parar por causa da falta de cinzas volantes. Porém, para que os trabalhos prossigam, é necessário utilizar um betão fabricado só com cimento e com uma classe de resistência superior - C40/50 – a fim de garantir a durabilidade pretendida para a estrutura. Como o projeto não teve em conta este incremento na resistência do betão, perde-se o potencial ganho económico.

Qual a solução?

Anteprojectos Novembro 2019 pg74dSe o cálculo do betão armado partir de uma classe de resistência do betão mais elevada, a estrutura resultante será otimizada. Isso vai acarretar a utilização de menores quantidades de betão e principalmente de armaduras. E mais: A redução do custo de construção é muito superior ao aumento do custo do betão. Isto vai permitir que as obras públicas tenham um menor impacto no orçamento do estado.

Vai igualmente potenciar a construção de habitações com custos mais acessíveis. Outro benefício é para o ambiente, já que se diminui o dióxido de carbono imbuído na estrutura.

Uma vez que as cinzas volantes têm o fim anunciado e que de momento não há alternativa equivalente no

mercado, recomendo às projetistas e aos projetistas começar imediatamente a optar por uma classe de

resistência mais elevada para o betão.

*Associação Portuguesa das Empresas de Betão Pronto - APEB

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O carvão tem os dias contados. O Governo de Portugal comprometeu-se a acabar com o uso de carvão para a produção de energia até 2030. Do ponto de vista ambiental isto é bom e o Governo entende esta como uma das medidas para reduzir as emissões de gases do efeito de estufa e atingir as metas definidas no acordo de Paris. Mas a medalha tem outra face: o fim da energia a partir do carvão é o fim das cinzas volantes  no betão.

O acordo de Paris das Nações Unidas de 2015 visa alcançar a descarbonização das economias mundiais e limitar o aumento da temperatura média global em menos de 2 °C até 2050. Como o conseguir? Investir mais em energias renováveis e abandonar a produção de energia com base no carvão são duas medidas da estratégia.

As cinzas volantes foram consideradas durante muito tempo como um mero resíduo industrial das centrais termoelétricas à base de carvão. A sua valorização só se registou na última década do século XX quando começaram a ser utilizadas como adição do betão. Desde então, a incorporação das cinzas volantes no betão tornou-se essencial para melhorar a durabilidade das estruturas de betão armado em ambientes com cloretos que atacam as armaduras ou com compostos químicos que atacam o betão. Incorporar cinzas volantes permite ainda reduzir o calor de hidratação do betão, fundamental em obras com grandes volumes de betão, tais como as barragens.

A utilização das cinzas volantes em Portugal como adição do betão está atualmente regulada pela especificação E 464 do LNEC. Esta especificação permite combinar as cinzas volantes com um cimento tipo CEM I ou CEM II/A para constituir uma mistura equivalente a um cimento tipo CEM II/B ou CEM IV/B. O resultado prático é a substituição de parte do cimento pelas cinzas volantes. Adicionalmente, para as classes de exposição ambiental XS (ataque por cloretos com origem no mar), XD (ataque por cloretos de outras origens) ou XA (ataque químico), a especificação E 464 permite reduzir a dosagem mínima de ligante.

Atualmente não há um produto substituto para as cinzas volantes. Por isso, o betão vai ter de ser fabricado apenas com um dos tipos de cimentos disponíveis no mercado: CEM I ou CEM II/A. Isso vai refletir-se na especificação do betão quanto à classe de resistência mínima a considerar no projeto da estrutura. A/o projetista vai ter de considerar uma classe de resistência superior no dimensionamento estrutural para assegurar tanto a estabilidade e a durabilidade da estrutura de betão armado como a otimização dos custos da construção.

Caso contrário, o que vai acontecer é a utilização em obra de um betão com uma classe de resistência superior à que foi especificada pela/o projetista. Assim, perdem-se os ganhos económicos decorrentes do aumento da capacidade resistente do betão.

Anteprojectos Novembro 2019 pg74c

Ponto da situação

Já começamos a sentir a falta de cinzas volantes no mercado. Este ano, Portugal registou um período recorde de 19 dias consecutivos sem energia produzida a partir do carvão. Só a central termoelétrica de Sines esteve parada 33 dias consecutivos. Para o ambiente foi bom. Para a indústria do betão pronto não foi o caso, já que faltaram cinzas volantes.

Nos dias em que não há cinzas volantes no mercado, as empresas de betão pronto deixam de poder fabricar alguns betões, principalmente os destinados a obras cuja estrutura vai estar sob a ação dos cloretos ou sob o ataque químico. Isto é um problema porque as estruturas que agora estão em execução foram projetadas há já algum tempo, numa altura em que ainda não se sentia a falta das cinzas volantes. O dimensionamento tinha partido de uma classe de resistência mais baixa.

Vejamos o exemplo de um edifício em construção na orla costeira. A estrutura vai estar sujeita a um ambiente em que o ar contém sais marinhos, o que corresponde à classe de exposição XS1. A classe de resistência especificada para o betão é C30/37, o que é apenas possível caso o betão incorpore cinzas volantes. Uma vez iniciada, a obra não pode parar por causa da falta de cinzas volantes. Porém, para que os trabalhos prossigam, é necessário utilizar um betão fabricado só com cimento e com uma classe de resistência superior - C40/50 – a fim de garantir a durabilidade pretendida para a estrutura. Como o projeto não teve em conta este incremento na resistência do betão, perde-se o potencial ganho económico.

Qual a solução?

Anteprojectos Novembro 2019 pg74dSe o cálculo do betão armado partir de uma classe de resistência do betão mais elevada, a estrutura resultante será otimizada. Isso vai acarretar a utilização de menores quantidades de betão e principalmente de armaduras. E mais: A redução do custo de construção é muito superior ao aumento do custo do betão. Isto vai permitir que as obras públicas tenham um menor impacto no orçamento do estado.

Vai igualmente potenciar a construção de habitações com custos mais acessíveis. Outro benefício é para o ambiente, já que se diminui o dióxido de carbono imbuído na estrutura.

Uma vez que as cinzas volantes têm o fim anunciado e que de momento não há alternativa equivalente no

mercado, recomendo às projetistas e aos projetistas começar imediatamente a optar por uma classe de

resistência mais elevada para o betão.

*Associação Portuguesa das Empresas de Betão Pronto - APEB