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Por um futuro sem presentismo

Categoria:  Artigos de Opinião

Publicado

Revista Anteprojectos Março 2019 - ed 296 - pg 30b

Revista Anteprojectos Março 2019 - ed 296 - pg 30

Debater a prática da arquitetura no contexto português significa também que nos debrucemos sobre a cultura de trabalho. As promessas que nos trazem a revolução tecnológica parecem não ter eco na maioria das empresas, escritórios ou ateliers. Não é somente no domínio da arquitetura: é ainda generalizada a ideia que temos que estar fisicamente no local de trabalho, apesar da cloud e da virtualidade que veio com ela.

Falando em números, somos um dos países europeus com menor produtividade por hora de trabalho, apesar de trabalharmos mais horas que a média europeia. Em parte, deve-se à cultura do presentismo.

Num conceito mais alargado, pode definir-se hoje o presentismo como alguém que é incitado a estar presente, ainda que não esteja a produzir.

O presentismo está associado a culturas de trabalho masculinas e, sublinho eu, a culturas de trabalho que omitem a vida extra-trabalho: seja esta pautada por filhos pequenos ou idas ao ginásio.

No âmbito das ações das Mulheres na Arquitectura, é frequente chegarem-nos relatos de mulheres sobre a dificuldade na conciliação entre vida familiar e profissional, sendo o desempenho sobretudo avaliado pela presença.

No contexto português os resultados são conhecidos: à medida que avançam na carreira de projeto, muitas abandonam uma profissão onde trabalhar longas horas — fomentado desde a universidade — parece ser o modo de trabalho dominante.

Neste ponto parece-me que são necessárias estruturas de trabalho mais flexíveis e criativas, onde se juntem chefias mais atentas e onde arquitetos e arquitetas possam combinar diferentes modos de produzir. Conheço inúmeros casos, infelizmente poucos em Portugal, onde mulheres e homens trabalham um dos dias da semana, a partir de casa. E há escritórios onde a partir das 17:30 não se marcam reuniões. Nunca.

Teremos que aproveitar o contexto de alteração do mercado, para refletir sobre a cultura de trabalho que temos, e a que queremos.

Termino com uma nota: num país a norte, uma arquiteta iniciou as suas funções, sendo sempre a última a sair do atelier. Dez dias volvidos e o seu chefe perguntou se tudo estava bem com a sua integração, dado que estava sempre a sair depois da hora. Segundo ele, algo estava mal: ou tinha trabalho a mais e teria que ser revisto, ou estava a trabalhar incorretamente e ele queria saber como ajudar. Achava-se naquele lugar, pasmem-se, que conciliar melhor a vida profissional favorece a diminuição do absentismo, aumenta a produtividade e retém talento. No fundo, acreditava-se que uma sociedade desigual não pode não produzir senão uma arquitetura desigual.

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www.mulheresnaarquitectura.pt [em construção]

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aleitao@anteprojectos.com.pt

Directora Geral

Av. Álvares Cabral, nº 61, 6º andar | 1250-017 Lisboa

Telefone 211 308 758 / 966 863 541

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Debater a prática da arquitetura no contexto português significa também que nos debrucemos sobre a cultura de trabalho. As promessas que nos trazem a revolução tecnológica parecem não ter eco na maioria das empresas, escritórios ou ateliers. Não é somente no domínio da arquitetura: é ainda generalizada a ideia que temos que estar fisicamente no local de trabalho, apesar da cloud e da virtualidade que veio com ela.

Falando em números, somos um dos países europeus com menor produtividade por hora de trabalho, apesar de trabalharmos mais horas que a média europeia. Em parte, deve-se à cultura do presentismo.

Num conceito mais alargado, pode definir-se hoje o presentismo como alguém que é incitado a estar presente, ainda que não esteja a produzir.

O presentismo está associado a culturas de trabalho masculinas e, sublinho eu, a culturas de trabalho que omitem a vida extra-trabalho: seja esta pautada por filhos pequenos ou idas ao ginásio.

No âmbito das ações das Mulheres na Arquitectura, é frequente chegarem-nos relatos de mulheres sobre a dificuldade na conciliação entre vida familiar e profissional, sendo o desempenho sobretudo avaliado pela presença.

No contexto português os resultados são conhecidos: à medida que avançam na carreira de projeto, muitas abandonam uma profissão onde trabalhar longas horas — fomentado desde a universidade — parece ser o modo de trabalho dominante.

Neste ponto parece-me que são necessárias estruturas de trabalho mais flexíveis e criativas, onde se juntem chefias mais atentas e onde arquitetos e arquitetas possam combinar diferentes modos de produzir. Conheço inúmeros casos, infelizmente poucos em Portugal, onde mulheres e homens trabalham um dos dias da semana, a partir de casa. E há escritórios onde a partir das 17:30 não se marcam reuniões. Nunca.

Teremos que aproveitar o contexto de alteração do mercado, para refletir sobre a cultura de trabalho que temos, e a que queremos.

Termino com uma nota: num país a norte, uma arquiteta iniciou as suas funções, sendo sempre a última a sair do atelier. Dez dias volvidos e o seu chefe perguntou se tudo estava bem com a sua integração, dado que estava sempre a sair depois da hora. Segundo ele, algo estava mal: ou tinha trabalho a mais e teria que ser revisto, ou estava a trabalhar incorretamente e ele queria saber como ajudar. Achava-se naquele lugar, pasmem-se, que conciliar melhor a vida profissional favorece a diminuição do absentismo, aumenta a produtividade e retém talento. No fundo, acreditava-se que uma sociedade desigual não pode não produzir senão uma arquitetura desigual.

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Debater a prática da arquitetura no contexto português significa também que nos debrucemos sobre a cultura de trabalho. As promessas que nos trazem a revolução tecnológica parecem não ter eco na maioria das empresas, escritórios ou ateliers. Não é somente no domínio da arquitetura: é ainda generalizada a ideia que temos que estar fisicamente no local de trabalho, apesar da cloud e da virtualidade que veio com ela.

Falando em números, somos um dos países europeus com menor produtividade por hora de trabalho, apesar de trabalharmos mais horas que a média europeia. Em parte, deve-se à cultura do presentismo.

Num conceito mais alargado, pode definir-se hoje o presentismo como alguém que é incitado a estar presente, ainda que não esteja a produzir.

O presentismo está associado a culturas de trabalho masculinas e, sublinho eu, a culturas de trabalho que omitem a vida extra-trabalho: seja esta pautada por filhos pequenos ou idas ao ginásio.

No âmbito das ações das Mulheres na Arquitectura, é frequente chegarem-nos relatos de mulheres sobre a dificuldade na conciliação entre vida familiar e profissional, sendo o desempenho sobretudo avaliado pela presença.

No contexto português os resultados são conhecidos: à medida que avançam na carreira de projeto, muitas abandonam uma profissão onde trabalhar longas horas — fomentado desde a universidade — parece ser o modo de trabalho dominante.

Neste ponto parece-me que são necessárias estruturas de trabalho mais flexíveis e criativas, onde se juntem chefias mais atentas e onde arquitetos e arquitetas possam combinar diferentes modos de produzir. Conheço inúmeros casos, infelizmente poucos em Portugal, onde mulheres e homens trabalham um dos dias da semana, a partir de casa. E há escritórios onde a partir das 17:30 não se marcam reuniões. Nunca.

Teremos que aproveitar o contexto de alteração do mercado, para refletir sobre a cultura de trabalho que temos, e a que queremos.

Termino com uma nota: num país a norte, uma arquiteta iniciou as suas funções, sendo sempre a última a sair do atelier. Dez dias volvidos e o seu chefe perguntou se tudo estava bem com a sua integração, dado que estava sempre a sair depois da hora. Segundo ele, algo estava mal: ou tinha trabalho a mais e teria que ser revisto, ou estava a trabalhar incorretamente e ele queria saber como ajudar. Achava-se naquele lugar, pasmem-se, que conciliar melhor a vida profissional favorece a diminuição do absentismo, aumenta a produtividade e retém talento. No fundo, acreditava-se que uma sociedade desigual não pode não produzir senão uma arquitetura desigual.

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