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O Vidro na Arquitetura

Categoria:  Artigos de Opinião

Publicado

Apresentação 1

Apresentação 1

As construções e as soluções que tem por base o vidro estão a ganhar cada vez mais adeptos entre projetistas e construtores. De material destinado aos vãos para iluminação natural, o vidro depressa enveredou para material de divisórias sem qualquer esquadria, os vãos exteriores alargaram-se desmesuradamente e passou ultimamente a material estrutural, tanto para pavimentos, como para escadarias, guardas de varandas e muito mais. As velhas vidraças e os pinázios que as seguravam já passaram à História mas desempenharam bem o seu papel. Já era tempo.

As soluções de vidro parece não terem limites e têm vindo a acompanhar a evolução do seu fabrico e das suas propriedades, sempre a melhorarem, e acompanham o gosto dos arquitetos que se encantam com volumetrias etéreas, diáfanas, de preferência sem qualquer suporte que as apoiem no solo. E também entre clientes que entendem, pelo que se sabe, que quanto mais vidro mais moderna será a casa. A paisagem ajuda, é um fator apelativo numa possível afirmação de ostentação, modernidade e preço. Esta opinião é também seguida pela maioria de arquitetos e construtores que abrem vãos rasgados que transformam o que concebem em montras viradas para o exterior, tipo aquários, e que as donas de casa procuram fechar com cortinados (e outras coisas mais), aos quais encostam as ilhargas dos móveis e até os móveis, pois as paredes cegas praticamente não existem para a rua, mas apenas o vidro.

Num edifício público, leia-se aeroporto, por mero exemplo, a leitura que se faz à chegada ao destino é como quem chega ao miradouro do país, apresenta-se com imponência, espreita-se à vontade lá para fora, abarcam-se os táxis e os outros transportes, outras pessoas, o céu, o sol e a chuva, eu sei lá, funciona como sala monumental de visitas, é a primeira impressão para quem chega, as estruturas das gares esmagam o viajante habituado a ter os tetos mais baixos e uma escala mais humana. Alguns impressionam e é mesmo essa a ideia para as boas vindas do país de acolhimento. Nas partidas, voltam-se para trás para dizer adeus à morada efémera de dias, com saudade ou com pressa de não perder o avião ou fazerem ainda umas compras nas lojas ditas livres de impostos que são apelativas.

Numa análise de superfície quanto ao uso exagerado do vidro, há que contar com vários fatores e ou condicionamentos.

Por um lado as vistas são sempre importantes (serão ?), e regra geral podem ser, mas tornam-se cansativas e banais e depressa se vai esquecer ou se alheiam, pela rotina diária e indiferença da visão permanente que nos entra pelas janelas. Lembro-me que quando morava num 14º andar da Rua Gregório Lopes no Restelo, local privilegiado no cimo da avenida das Descobertas em Lisboa, muita roupa foi crestada com o ferro de passar devido á distração da passadeira a espreitar, pela janela da cozinha ou do quarto de passar a ferro, o trajeto de um ou outro navio a entrar ou a sair do Tejo, esquecendo o ferro bem quente poisado numa camisa e a panela da sopa a deitar por fora, só desviando os olhos com o olfato perturbado pelo cheiro a queimado. Para nós, moradores, a paisagem cedo entrou na rotina e só se admirava fugazmente ou quando havia visitas e os amigos que nos visitavam, admiravam a gabavam a localização.

Porém, em termos imobiliários, as “vistas” rendem dinheiro, um extra nada negligenciável que compõe qualquer investimento e há clientes para todas as vistas.

Em termos energéticos tudo isto sai caro. A sustentabilidade, o conforto térmico e os ganhos solares, exigem reflexão pois o dimensionamento dos vãos exteriores deverá obedecer a princípios, regras e bom senso que poucos conhecem e seguem. O excesso de vidro implica ou propicia o desconforto ambiental devido à energia que o espaço interior ganha ou perde, desconforto expresso em energia dissipada de dentro para fora através dos vidros, mesmo duplo, ou devido à falta de gestão dos ganhos e perdas solares se se quiserem aproveitar as radiações que gratuitamente nos entram pela casa dentro. A arquitetura baseada no clima, a Bioclimática, cada vez mais importante na Construção Civil é fundamental também para se atingir a independência energética de qualquer construção. Uma casa terá que vir a ser uma fábrica geradora da energia que consome – regra básica das construções carbono zero (Zero Emission Building – ZEB), meta que a Europa já atingiu e que nós ainda estamos a pensar como vai ser. Ou seja, quanto mais perdas através dos vãos, mais energia será necessária para se manter a temperatura ambiente e quanto maiores forem os vãos, mais energia foge para o exterior que não aproveita a ninguém. E falamos de energia de aquecimento e também de refrigeração, embora alguns arquitetos, para evitar os sobreaquecimentos, se lembrem de utilizar vidro que filtra as radiações solares, evitando assim excessos de calor no verão, mas pouco ou nenhum ganho solar recebem no inverno.

A sustentabilidade ambiental exige cada vez mais poupança de energia e o dimensionamento dos vãos exteriores também exige por sua vez, contas e proporções em relação às fachadas e em relação às superfícies dos compartimentos, assim como exige ter em conta o fator forma da construção e o isolamento térmico da envolvente, cujo somatório conta para o resultado final. Os míseros 3 ou 4 cm de XPS (poliestireno extrudido) que os construtores se habituaram, alguns contrariados, a incluir nas construções e que discutem com grande sabedoria com os arquitetos, teimando abertamente numa hipotética sabença com os clientes a ouvir, quando se lhes exigem outras espessuras, já não chegam para coisa nenhuma. Há que ir mais longe e praticar-se abertamente uma pedagogia construtiva, de “cada macaco no seu galho”. A formação construtiva dos promotores e também de alguns projetistas fica muito aquém do que devia. Deixem os isolamentos para quem sabe isolar, mesmo neste país de invernos amenos comparados com os da Europa do centro e do norte, e de verões também amenos, salvo uma ou outra estação com picos imprevistos e casuais.

O ensombramento ou a falta dele, é outro problema que não está resolvido na habitação corrente, em que os vidros e os novos caixilhos, ditos estanques, já sentem saudades dos antigos, não se falando já nos de correr, e hoje, os obsoletos estores de ripinhas de madeira ou de plástico que evitavam, com sucesso, a entrada da radiação solar dentro do espaço habitável, já pertencem ao passado. As persianas, portadas exteriores que deixavam coar a luz, tornaram-se num símbolo da arquitetura antiga, cheiram a velho, viraram uma saudade e um artifício que a arquitetura atual não consegue já enquadrar no desenho da arquitetura moderna, dita atual. Grande parte da arquitetura corrente que se observa, é um tipo de Pombalino do século XXI, com os vãos à face das fachadas espartanas, ou pequenos ou exageradamente largos, paredes duplas, onde existem, com um isolamento magrinho, como algumas alvenarias, as pinturas são feitas com tintas baratinhas de supermercado, grande parte lixiviadas após um ou dois invernos, e os cortinados que desempenhem o seu papel o melhor que puderem. Os Projetos de Arquitetura não podem ser apenas e só os 3D enfeitados e “sedutores”, que por si só encabeçam com sucesso qualquer negócio imobiliário e que arrastam a esmo as especificações e os restantes elementos desenhados e escritos.

Nos anos 50 e 60 do século passado, dizia-se que havia 3 razões que condicionavam os arquitetos de então – o quarto da empregada (então “criada”) que a partir de certas tipologias tinha de ter obrigatoriamente casa de banho, geralmente guarnecida com a invenção espanhola de então, o Poliban, que fazia de prato de duche e de bidé; o dimensionamento dos vãos exteriores, cuja proteção era condicionada – quanto maior, mais difícil se tornava a proteção do larápio, e a escada interior do prédio, pois as escadas eram um problema quanto à sua dimensão em largura, tanto dos lanços como das bombas, dos leques e sem eles - o caixão do defunto, quando morria, tinha de dar a volta pela escada abaixo e tinha que caber nos patamares intermédios sem ter de se pôr ao alto. Esses problemas já estão hoje resolvidos e regulamentados, testados pela Lei e pela opinião pública e funcionam bem.

Pois é, as escadas. Agora com o aparecimento dos vidros estruturais o liós deixou de ser a pedra de eleição juntamente com o betão armado, para a confeção e revestimento das escadas e o forro das respetivas paredes, estando atualmente na primeira linha o vidro, estrutural ou não, como matéria-prima com o qual os arquitetos capricham em todo o lado.

É um excelente material mas não nos parece que seja milagreiro e se aplique para tanta coisa. Sucedeu ao velho zinco nos revestimentos exteriores das trapeiras e mansardas e ampliação de edifício antigo em altura que se preze terá vidro exterior certamente como complemento.

Os interiores e exteriores espelham atualmente soluções de vidro, transparência, interiores devassados, pernas cruzadas no sofá ou ao léu, mesmo as divisórias dos sanitários já foram contaminadas caindo-se em exageros de falta de privacidade, a vida familiar passou a ser vasculhada do exterior, onde as linhas de laje dos pavimentos passaram a marcar horizontalmente todos os alçados e todas as construções. Não há 3D que se faça com ou sem arquiteto que não apareça essa solução standard normalizada e corrente, hoje já vulgar na cidade mas um tanto ainda estranha em qualquer aldeia e lugarejo, com guardas das varandas de vidro para deixarem ver a tal paisagem e impressionar quem passa pela modernidade da construção. Bom, creio que não haverá nenhuma dona de casa que esteja sentada dentro da sala ou do quarto e que, ao espreitar cá para fora através do balcão da varanda ou da sacada, observe a paisagem através de vidros sujos, ou pela condensação do orvalho ou simplesmente molhado pela chuva, uns e outros empastados pela poluição que anda por aí e por todo o lado, mesmo do tal vidro que se limpa por si próprio, dizem, para justificar, um trabalho de manutenção extra que em projeto nem se sonha nem se pensa.

A imaginação popular já arranjou remédio para tal, colando películas autocolantes sobre os vidros das guardas das varandas para poupar no trabalho da limpeza e cortar na vista devassada do exterior que as casas forçosamente apresentam para quem passa na rua. Será que não há outras soluções para as guardas das varandas? É tipo único? Utiliza-se sempre o mesmo carimbo? A solução é sempre a mesma? Às vezes não se dá conta que há portas ou anteparas de vidro a transpor e bate-se-lhes com a cabeça? Não faz mal, é moderno, temos que nos manter atualizados, mas então não viu que havia porta? e o galo na testa há-de passar com o tempo, fiquemos descansados.

O fabricante de vidro agradece. E nada temos a opor.

Na via pública tudo o que é transparente, como as barreiras sonoras das autoestradas e outras, é artisticamente pintado e decorado a preceito com as pinceladas e sprays a que chamam graciosamente de Arte de Rua. Será?

Apresentação 1

Diz um fabricante de películas para vidro laminado que as camadas intermédias que se intercalam no vidro laminado são muitas vezes mais fortes e muito mais resistentes do que os materiais congéneres habituais. Além da sua resistência às pressões normais e a outras, mantém a sua pureza de transparência (e não amarelecem com a radiação solar, os UV, acrescentam, mesmo após anos de serviço), qualquer que sejam as aplicações desde pavimentos a escadas, guardas de varandas e palas de proteção. É uma receita tentadora para os fiéis seguidores do tudo em vidro, e as escadas e pavimentos de vidro estrutural começam a surgir por toda a parte, iniciando na arquitetura mais um ciclo inovador com este material antigo mas cada vez mais moderno, o do vidro em pavimentos, como foi o dos tacos de madeira grandes e pequenos, depois o das alcatifas, depois o dos ladrilhos cerâmicos, depois o dos soalhos de madeira corrida, de preferência de pinho, até aparecer, qualquer dia, outro material milagreiro, salvador e tido como inovador e ainda mais moderno.

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Contacto

Ângela Leitão

aleitao@anteprojectos.com.pt

Directora Geral

Av. Álvares Cabral, nº 61, 6º andar | 1250-017 Lisboa

Telefone 211 308 758 / 966 863 541

O Vidro na Arquitetura

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As construções e as soluções que tem por base o vidro estão a ganhar cada vez mais adeptos entre projetistas e construtores. De material destinado aos vãos para iluminação natural, o vidro depressa enveredou para material de divisórias sem qualquer esquadria, os vãos exteriores alargaram-se desmesuradamente e passou ultimamente a material estrutural, tanto para pavimentos, como para escadarias, guardas de varandas e muito mais. As velhas vidraças e os pinázios que as seguravam já passaram à História mas desempenharam bem o seu papel. Já era tempo.

As soluções de vidro parece não terem limites e têm vindo a acompanhar a evolução do seu fabrico e das suas propriedades, sempre a melhorarem, e acompanham o gosto dos arquitetos que se encantam com volumetrias etéreas, diáfanas, de preferência sem qualquer suporte que as apoiem no solo. E também entre clientes que entendem, pelo que se sabe, que quanto mais vidro mais moderna será a casa. A paisagem ajuda, é um fator apelativo numa possível afirmação de ostentação, modernidade e preço. Esta opinião é também seguida pela maioria de arquitetos e construtores que abrem vãos rasgados que transformam o que concebem em montras viradas para o exterior, tipo aquários, e que as donas de casa procuram fechar com cortinados (e outras coisas mais), aos quais encostam as ilhargas dos móveis e até os móveis, pois as paredes cegas praticamente não existem para a rua, mas apenas o vidro.

Num edifício público, leia-se aeroporto, por mero exemplo, a leitura que se faz à chegada ao destino é como quem chega ao miradouro do país, apresenta-se com imponência, espreita-se à vontade lá para fora, abarcam-se os táxis e os outros transportes, outras pessoas, o céu, o sol e a chuva, eu sei lá, funciona como sala monumental de visitas, é a primeira impressão para quem chega, as estruturas das gares esmagam o viajante habituado a ter os tetos mais baixos e uma escala mais humana. Alguns impressionam e é mesmo essa a ideia para as boas vindas do país de acolhimento. Nas partidas, voltam-se para trás para dizer adeus à morada efémera de dias, com saudade ou com pressa de não perder o avião ou fazerem ainda umas compras nas lojas ditas livres de impostos que são apelativas.

Numa análise de superfície quanto ao uso exagerado do vidro, há que contar com vários fatores e ou condicionamentos.

Por um lado as vistas são sempre importantes (serão ?), e regra geral podem ser, mas tornam-se cansativas e banais e depressa se vai esquecer ou se alheiam, pela rotina diária e indiferença da visão permanente que nos entra pelas janelas. Lembro-me que quando morava num 14º andar da Rua Gregório Lopes no Restelo, local privilegiado no cimo da avenida das Descobertas em Lisboa, muita roupa foi crestada com o ferro de passar devido á distração da passadeira a espreitar, pela janela da cozinha ou do quarto de passar a ferro, o trajeto de um ou outro navio a entrar ou a sair do Tejo, esquecendo o ferro bem quente poisado numa camisa e a panela da sopa a deitar por fora, só desviando os olhos com o olfato perturbado pelo cheiro a queimado. Para nós, moradores, a paisagem cedo entrou na rotina e só se admirava fugazmente ou quando havia visitas e os amigos que nos visitavam, admiravam a gabavam a localização.

Porém, em termos imobiliários, as “vistas” rendem dinheiro, um extra nada negligenciável que compõe qualquer investimento e há clientes para todas as vistas.

Em termos energéticos tudo isto sai caro. A sustentabilidade, o conforto térmico e os ganhos solares, exigem reflexão pois o dimensionamento dos vãos exteriores deverá obedecer a princípios, regras e bom senso que poucos conhecem e seguem. O excesso de vidro implica ou propicia o desconforto ambiental devido à energia que o espaço interior ganha ou perde, desconforto expresso em energia dissipada de dentro para fora através dos vidros, mesmo duplo, ou devido à falta de gestão dos ganhos e perdas solares se se quiserem aproveitar as radiações que gratuitamente nos entram pela casa dentro. A arquitetura baseada no clima, a Bioclimática, cada vez mais importante na Construção Civil é fundamental também para se atingir a independência energética de qualquer construção. Uma casa terá que vir a ser uma fábrica geradora da energia que consome – regra básica das construções carbono zero (Zero Emission Building – ZEB), meta que a Europa já atingiu e que nós ainda estamos a pensar como vai ser. Ou seja, quanto mais perdas através dos vãos, mais energia será necessária para se manter a temperatura ambiente e quanto maiores forem os vãos, mais energia foge para o exterior que não aproveita a ninguém. E falamos de energia de aquecimento e também de refrigeração, embora alguns arquitetos, para evitar os sobreaquecimentos, se lembrem de utilizar vidro que filtra as radiações solares, evitando assim excessos de calor no verão, mas pouco ou nenhum ganho solar recebem no inverno.

A sustentabilidade ambiental exige cada vez mais poupança de energia e o dimensionamento dos vãos exteriores também exige por sua vez, contas e proporções em relação às fachadas e em relação às superfícies dos compartimentos, assim como exige ter em conta o fator forma da construção e o isolamento térmico da envolvente, cujo somatório conta para o resultado final. Os míseros 3 ou 4 cm de XPS (poliestireno extrudido) que os construtores se habituaram, alguns contrariados, a incluir nas construções e que discutem com grande sabedoria com os arquitetos, teimando abertamente numa hipotética sabença com os clientes a ouvir, quando se lhes exigem outras espessuras, já não chegam para coisa nenhuma. Há que ir mais longe e praticar-se abertamente uma pedagogia construtiva, de “cada macaco no seu galho”. A formação construtiva dos promotores e também de alguns projetistas fica muito aquém do que devia. Deixem os isolamentos para quem sabe isolar, mesmo neste país de invernos amenos comparados com os da Europa do centro e do norte, e de verões também amenos, salvo uma ou outra estação com picos imprevistos e casuais.

O ensombramento ou a falta dele, é outro problema que não está resolvido na habitação corrente, em que os vidros e os novos caixilhos, ditos estanques, já sentem saudades dos antigos, não se falando já nos de correr, e hoje, os obsoletos estores de ripinhas de madeira ou de plástico que evitavam, com sucesso, a entrada da radiação solar dentro do espaço habitável, já pertencem ao passado. As persianas, portadas exteriores que deixavam coar a luz, tornaram-se num símbolo da arquitetura antiga, cheiram a velho, viraram uma saudade e um artifício que a arquitetura atual não consegue já enquadrar no desenho da arquitetura moderna, dita atual. Grande parte da arquitetura corrente que se observa, é um tipo de Pombalino do século XXI, com os vãos à face das fachadas espartanas, ou pequenos ou exageradamente largos, paredes duplas, onde existem, com um isolamento magrinho, como algumas alvenarias, as pinturas são feitas com tintas baratinhas de supermercado, grande parte lixiviadas após um ou dois invernos, e os cortinados que desempenhem o seu papel o melhor que puderem. Os Projetos de Arquitetura não podem ser apenas e só os 3D enfeitados e “sedutores”, que por si só encabeçam com sucesso qualquer negócio imobiliário e que arrastam a esmo as especificações e os restantes elementos desenhados e escritos.

Nos anos 50 e 60 do século passado, dizia-se que havia 3 razões que condicionavam os arquitetos de então – o quarto da empregada (então “criada”) que a partir de certas tipologias tinha de ter obrigatoriamente casa de banho, geralmente guarnecida com a invenção espanhola de então, o Poliban, que fazia de prato de duche e de bidé; o dimensionamento dos vãos exteriores, cuja proteção era condicionada – quanto maior, mais difícil se tornava a proteção do larápio, e a escada interior do prédio, pois as escadas eram um problema quanto à sua dimensão em largura, tanto dos lanços como das bombas, dos leques e sem eles - o caixão do defunto, quando morria, tinha de dar a volta pela escada abaixo e tinha que caber nos patamares intermédios sem ter de se pôr ao alto. Esses problemas já estão hoje resolvidos e regulamentados, testados pela Lei e pela opinião pública e funcionam bem.

Pois é, as escadas. Agora com o aparecimento dos vidros estruturais o liós deixou de ser a pedra de eleição juntamente com o betão armado, para a confeção e revestimento das escadas e o forro das respetivas paredes, estando atualmente na primeira linha o vidro, estrutural ou não, como matéria-prima com o qual os arquitetos capricham em todo o lado.

É um excelente material mas não nos parece que seja milagreiro e se aplique para tanta coisa. Sucedeu ao velho zinco nos revestimentos exteriores das trapeiras e mansardas e ampliação de edifício antigo em altura que se preze terá vidro exterior certamente como complemento.

Os interiores e exteriores espelham atualmente soluções de vidro, transparência, interiores devassados, pernas cruzadas no sofá ou ao léu, mesmo as divisórias dos sanitários já foram contaminadas caindo-se em exageros de falta de privacidade, a vida familiar passou a ser vasculhada do exterior, onde as linhas de laje dos pavimentos passaram a marcar horizontalmente todos os alçados e todas as construções. Não há 3D que se faça com ou sem arquiteto que não apareça essa solução standard normalizada e corrente, hoje já vulgar na cidade mas um tanto ainda estranha em qualquer aldeia e lugarejo, com guardas das varandas de vidro para deixarem ver a tal paisagem e impressionar quem passa pela modernidade da construção. Bom, creio que não haverá nenhuma dona de casa que esteja sentada dentro da sala ou do quarto e que, ao espreitar cá para fora através do balcão da varanda ou da sacada, observe a paisagem através de vidros sujos, ou pela condensação do orvalho ou simplesmente molhado pela chuva, uns e outros empastados pela poluição que anda por aí e por todo o lado, mesmo do tal vidro que se limpa por si próprio, dizem, para justificar, um trabalho de manutenção extra que em projeto nem se sonha nem se pensa.

A imaginação popular já arranjou remédio para tal, colando películas autocolantes sobre os vidros das guardas das varandas para poupar no trabalho da limpeza e cortar na vista devassada do exterior que as casas forçosamente apresentam para quem passa na rua. Será que não há outras soluções para as guardas das varandas? É tipo único? Utiliza-se sempre o mesmo carimbo? A solução é sempre a mesma? Às vezes não se dá conta que há portas ou anteparas de vidro a transpor e bate-se-lhes com a cabeça? Não faz mal, é moderno, temos que nos manter atualizados, mas então não viu que havia porta? e o galo na testa há-de passar com o tempo, fiquemos descansados.

O fabricante de vidro agradece. E nada temos a opor.

Na via pública tudo o que é transparente, como as barreiras sonoras das autoestradas e outras, é artisticamente pintado e decorado a preceito com as pinceladas e sprays a que chamam graciosamente de Arte de Rua. Será?

Apresentação 1

Diz um fabricante de películas para vidro laminado que as camadas intermédias que se intercalam no vidro laminado são muitas vezes mais fortes e muito mais resistentes do que os materiais congéneres habituais. Além da sua resistência às pressões normais e a outras, mantém a sua pureza de transparência (e não amarelecem com a radiação solar, os UV, acrescentam, mesmo após anos de serviço), qualquer que sejam as aplicações desde pavimentos a escadas, guardas de varandas e palas de proteção. É uma receita tentadora para os fiéis seguidores do tudo em vidro, e as escadas e pavimentos de vidro estrutural começam a surgir por toda a parte, iniciando na arquitetura mais um ciclo inovador com este material antigo mas cada vez mais moderno, o do vidro em pavimentos, como foi o dos tacos de madeira grandes e pequenos, depois o das alcatifas, depois o dos ladrilhos cerâmicos, depois o dos soalhos de madeira corrida, de preferência de pinho, até aparecer, qualquer dia, outro material milagreiro, salvador e tido como inovador e ainda mais moderno.

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As construções e as soluções que tem por base o vidro estão a ganhar cada vez mais adeptos entre projetistas e construtores. De material destinado aos vãos para iluminação natural, o vidro depressa enveredou para material de divisórias sem qualquer esquadria, os vãos exteriores alargaram-se desmesuradamente e passou ultimamente a material estrutural, tanto para pavimentos, como para escadarias, guardas de varandas e muito mais. As velhas vidraças e os pinázios que as seguravam já passaram à História mas desempenharam bem o seu papel. Já era tempo.

As soluções de vidro parece não terem limites e têm vindo a acompanhar a evolução do seu fabrico e das suas propriedades, sempre a melhorarem, e acompanham o gosto dos arquitetos que se encantam com volumetrias etéreas, diáfanas, de preferência sem qualquer suporte que as apoiem no solo. E também entre clientes que entendem, pelo que se sabe, que quanto mais vidro mais moderna será a casa. A paisagem ajuda, é um fator apelativo numa possível afirmação de ostentação, modernidade e preço. Esta opinião é também seguida pela maioria de arquitetos e construtores que abrem vãos rasgados que transformam o que concebem em montras viradas para o exterior, tipo aquários, e que as donas de casa procuram fechar com cortinados (e outras coisas mais), aos quais encostam as ilhargas dos móveis e até os móveis, pois as paredes cegas praticamente não existem para a rua, mas apenas o vidro.

Num edifício público, leia-se aeroporto, por mero exemplo, a leitura que se faz à chegada ao destino é como quem chega ao miradouro do país, apresenta-se com imponência, espreita-se à vontade lá para fora, abarcam-se os táxis e os outros transportes, outras pessoas, o céu, o sol e a chuva, eu sei lá, funciona como sala monumental de visitas, é a primeira impressão para quem chega, as estruturas das gares esmagam o viajante habituado a ter os tetos mais baixos e uma escala mais humana. Alguns impressionam e é mesmo essa a ideia para as boas vindas do país de acolhimento. Nas partidas, voltam-se para trás para dizer adeus à morada efémera de dias, com saudade ou com pressa de não perder o avião ou fazerem ainda umas compras nas lojas ditas livres de impostos que são apelativas.

Numa análise de superfície quanto ao uso exagerado do vidro, há que contar com vários fatores e ou condicionamentos.

Por um lado as vistas são sempre importantes (serão ?), e regra geral podem ser, mas tornam-se cansativas e banais e depressa se vai esquecer ou se alheiam, pela rotina diária e indiferença da visão permanente que nos entra pelas janelas. Lembro-me que quando morava num 14º andar da Rua Gregório Lopes no Restelo, local privilegiado no cimo da avenida das Descobertas em Lisboa, muita roupa foi crestada com o ferro de passar devido á distração da passadeira a espreitar, pela janela da cozinha ou do quarto de passar a ferro, o trajeto de um ou outro navio a entrar ou a sair do Tejo, esquecendo o ferro bem quente poisado numa camisa e a panela da sopa a deitar por fora, só desviando os olhos com o olfato perturbado pelo cheiro a queimado. Para nós, moradores, a paisagem cedo entrou na rotina e só se admirava fugazmente ou quando havia visitas e os amigos que nos visitavam, admiravam a gabavam a localização.

Porém, em termos imobiliários, as “vistas” rendem dinheiro, um extra nada negligenciável que compõe qualquer investimento e há clientes para todas as vistas.

Em termos energéticos tudo isto sai caro. A sustentabilidade, o conforto térmico e os ganhos solares, exigem reflexão pois o dimensionamento dos vãos exteriores deverá obedecer a princípios, regras e bom senso que poucos conhecem e seguem. O excesso de vidro implica ou propicia o desconforto ambiental devido à energia que o espaço interior ganha ou perde, desconforto expresso em energia dissipada de dentro para fora através dos vidros, mesmo duplo, ou devido à falta de gestão dos ganhos e perdas solares se se quiserem aproveitar as radiações que gratuitamente nos entram pela casa dentro. A arquitetura baseada no clima, a Bioclimática, cada vez mais importante na Construção Civil é fundamental também para se atingir a independência energética de qualquer construção. Uma casa terá que vir a ser uma fábrica geradora da energia que consome – regra básica das construções carbono zero (Zero Emission Building – ZEB), meta que a Europa já atingiu e que nós ainda estamos a pensar como vai ser. Ou seja, quanto mais perdas através dos vãos, mais energia será necessária para se manter a temperatura ambiente e quanto maiores forem os vãos, mais energia foge para o exterior que não aproveita a ninguém. E falamos de energia de aquecimento e também de refrigeração, embora alguns arquitetos, para evitar os sobreaquecimentos, se lembrem de utilizar vidro que filtra as radiações solares, evitando assim excessos de calor no verão, mas pouco ou nenhum ganho solar recebem no inverno.

A sustentabilidade ambiental exige cada vez mais poupança de energia e o dimensionamento dos vãos exteriores também exige por sua vez, contas e proporções em relação às fachadas e em relação às superfícies dos compartimentos, assim como exige ter em conta o fator forma da construção e o isolamento térmico da envolvente, cujo somatório conta para o resultado final. Os míseros 3 ou 4 cm de XPS (poliestireno extrudido) que os construtores se habituaram, alguns contrariados, a incluir nas construções e que discutem com grande sabedoria com os arquitetos, teimando abertamente numa hipotética sabença com os clientes a ouvir, quando se lhes exigem outras espessuras, já não chegam para coisa nenhuma. Há que ir mais longe e praticar-se abertamente uma pedagogia construtiva, de “cada macaco no seu galho”. A formação construtiva dos promotores e também de alguns projetistas fica muito aquém do que devia. Deixem os isolamentos para quem sabe isolar, mesmo neste país de invernos amenos comparados com os da Europa do centro e do norte, e de verões também amenos, salvo uma ou outra estação com picos imprevistos e casuais.

O ensombramento ou a falta dele, é outro problema que não está resolvido na habitação corrente, em que os vidros e os novos caixilhos, ditos estanques, já sentem saudades dos antigos, não se falando já nos de correr, e hoje, os obsoletos estores de ripinhas de madeira ou de plástico que evitavam, com sucesso, a entrada da radiação solar dentro do espaço habitável, já pertencem ao passado. As persianas, portadas exteriores que deixavam coar a luz, tornaram-se num símbolo da arquitetura antiga, cheiram a velho, viraram uma saudade e um artifício que a arquitetura atual não consegue já enquadrar no desenho da arquitetura moderna, dita atual. Grande parte da arquitetura corrente que se observa, é um tipo de Pombalino do século XXI, com os vãos à face das fachadas espartanas, ou pequenos ou exageradamente largos, paredes duplas, onde existem, com um isolamento magrinho, como algumas alvenarias, as pinturas são feitas com tintas baratinhas de supermercado, grande parte lixiviadas após um ou dois invernos, e os cortinados que desempenhem o seu papel o melhor que puderem. Os Projetos de Arquitetura não podem ser apenas e só os 3D enfeitados e “sedutores”, que por si só encabeçam com sucesso qualquer negócio imobiliário e que arrastam a esmo as especificações e os restantes elementos desenhados e escritos.

Nos anos 50 e 60 do século passado, dizia-se que havia 3 razões que condicionavam os arquitetos de então – o quarto da empregada (então “criada”) que a partir de certas tipologias tinha de ter obrigatoriamente casa de banho, geralmente guarnecida com a invenção espanhola de então, o Poliban, que fazia de prato de duche e de bidé; o dimensionamento dos vãos exteriores, cuja proteção era condicionada – quanto maior, mais difícil se tornava a proteção do larápio, e a escada interior do prédio, pois as escadas eram um problema quanto à sua dimensão em largura, tanto dos lanços como das bombas, dos leques e sem eles - o caixão do defunto, quando morria, tinha de dar a volta pela escada abaixo e tinha que caber nos patamares intermédios sem ter de se pôr ao alto. Esses problemas já estão hoje resolvidos e regulamentados, testados pela Lei e pela opinião pública e funcionam bem.

Pois é, as escadas. Agora com o aparecimento dos vidros estruturais o liós deixou de ser a pedra de eleição juntamente com o betão armado, para a confeção e revestimento das escadas e o forro das respetivas paredes, estando atualmente na primeira linha o vidro, estrutural ou não, como matéria-prima com o qual os arquitetos capricham em todo o lado.

É um excelente material mas não nos parece que seja milagreiro e se aplique para tanta coisa. Sucedeu ao velho zinco nos revestimentos exteriores das trapeiras e mansardas e ampliação de edifício antigo em altura que se preze terá vidro exterior certamente como complemento.

Os interiores e exteriores espelham atualmente soluções de vidro, transparência, interiores devassados, pernas cruzadas no sofá ou ao léu, mesmo as divisórias dos sanitários já foram contaminadas caindo-se em exageros de falta de privacidade, a vida familiar passou a ser vasculhada do exterior, onde as linhas de laje dos pavimentos passaram a marcar horizontalmente todos os alçados e todas as construções. Não há 3D que se faça com ou sem arquiteto que não apareça essa solução standard normalizada e corrente, hoje já vulgar na cidade mas um tanto ainda estranha em qualquer aldeia e lugarejo, com guardas das varandas de vidro para deixarem ver a tal paisagem e impressionar quem passa pela modernidade da construção. Bom, creio que não haverá nenhuma dona de casa que esteja sentada dentro da sala ou do quarto e que, ao espreitar cá para fora através do balcão da varanda ou da sacada, observe a paisagem através de vidros sujos, ou pela condensação do orvalho ou simplesmente molhado pela chuva, uns e outros empastados pela poluição que anda por aí e por todo o lado, mesmo do tal vidro que se limpa por si próprio, dizem, para justificar, um trabalho de manutenção extra que em projeto nem se sonha nem se pensa.

A imaginação popular já arranjou remédio para tal, colando películas autocolantes sobre os vidros das guardas das varandas para poupar no trabalho da limpeza e cortar na vista devassada do exterior que as casas forçosamente apresentam para quem passa na rua. Será que não há outras soluções para as guardas das varandas? É tipo único? Utiliza-se sempre o mesmo carimbo? A solução é sempre a mesma? Às vezes não se dá conta que há portas ou anteparas de vidro a transpor e bate-se-lhes com a cabeça? Não faz mal, é moderno, temos que nos manter atualizados, mas então não viu que havia porta? e o galo na testa há-de passar com o tempo, fiquemos descansados.

O fabricante de vidro agradece. E nada temos a opor.

Na via pública tudo o que é transparente, como as barreiras sonoras das autoestradas e outras, é artisticamente pintado e decorado a preceito com as pinceladas e sprays a que chamam graciosamente de Arte de Rua. Será?

Apresentação 1

Diz um fabricante de películas para vidro laminado que as camadas intermédias que se intercalam no vidro laminado são muitas vezes mais fortes e muito mais resistentes do que os materiais congéneres habituais. Além da sua resistência às pressões normais e a outras, mantém a sua pureza de transparência (e não amarelecem com a radiação solar, os UV, acrescentam, mesmo após anos de serviço), qualquer que sejam as aplicações desde pavimentos a escadas, guardas de varandas e palas de proteção. É uma receita tentadora para os fiéis seguidores do tudo em vidro, e as escadas e pavimentos de vidro estrutural começam a surgir por toda a parte, iniciando na arquitetura mais um ciclo inovador com este material antigo mas cada vez mais moderno, o do vidro em pavimentos, como foi o dos tacos de madeira grandes e pequenos, depois o das alcatifas, depois o dos ladrilhos cerâmicos, depois o dos soalhos de madeira corrida, de preferência de pinho, até aparecer, qualquer dia, outro material milagreiro, salvador e tido como inovador e ainda mais moderno.